Há dias, quando caminhava pela rua e acariciava uma criança dos seus sete/oito anos de idade, esta, muito senhora do seu nariz e apontando-me o dedo, referiu-me:
- Olha que eu tenho um tio padre!
Esta expressão tocou-me particularmente porque eu também tive um tio padre e terei sentido o mesmo algumas vezes. Tratar-se-ia de uma manifestação de apreço, admiração ou afectividade? Seria o reconhecimento ingénuo de uma certa forma de poder instituído que ainda por aí vai proliferando? Fosse o que fosse, tal conduziu-me a uma reflexão mais profunda sobre a influência que os padres e as freiras tiveram nas gentes desta terra. Quantos não foram “mimados” por estes? Quantos teriam a formação académica que têm? Quantos não foram colocados no mercado de trabalho? Pois é, isto são realidades insofismáveis e das quais tão boa gente se esquece. Pela parte que me toca, não lhes estou minimamente reconhecido. O único caso de gratidão de que me lembro foi a eminência de uma expulsão do Colégio de Lamego com o beneplácito desse meu tio que até era padre. Dever-lhe-ei estar agradecido por isso? Talvez sim! Poderá ter sido o primeiro passo para eu aprender a crescer sozinho. Mas, independentemente deste particularismo, para bem ou para mal, a influência dos padres e das freiras, dos tais tios e tias, foi decisiva na sociedade local. Se lhes devem estar gratos ou não, isso é do foro pessoal. Para mim, esta interferência, ainda que bem intencionada, foi limitativa em termos do desenvolvimento individual. Coarctou imenso a capacidade de iniciativa e criou em muitos um espírito de subserviência e acomodação. Estabelecendo uma comparação com os povos vizinhos que não sofreram estas influências, verificamos que estes dispõem de melhores quadros e de um maior sentido empresarial, não se limitando aos professores primários e enfermeiras que tal contexto criou. Trata-se pois do verdadeiro reflexo de uma educação, de certa forma monástica, a que a igreja sempre se dedicou. De qualquer das formas, estes tios e tias que um dia fugiram às agruras da vida e à miséria, tudo fizeram para que outros as não tenham sentido. Por isso, e só por isso, eu lhes rendo a minha homenagem.
Bravos, bravos!
Anónimo
2 comentários:
Esclarecimento.
Há já alguns dias, alguém me perguntou quem era, e o porquê de aparecer agora um anónimo?
Devo esclarecer que a pessoa em causa não é anónima, apenas não deseja assinar os seus textos, por motivos pessoais, que não tenho o direito de interrogar.
A pessoa em causa foi convidada a participar no blog, esempre que entende envia-me por mail os seus textos, que eu coloco, continuando a manter como é seu desejo o anonimato.
Por tudo isto, mais uma vez obrigado pela tua colaboração meu caro amigo anónimo KC
Jorge
Complementando o comentário do meu grande amigo Jorge, devo informar que o tal anónimo sou eu, o anónimo.Porquê anónimo? Não ando fugido à polícia, nem tenho nada para ocultar. Não querendo de forma alguma participar neste blog, fi-lo única e exclusivamente porque não podia negar-me a uma solicitação de um amigo - o Jorge. Ele sabe quem sou e, com a maior das sinceridades,devo dizer que a forma como uma boa parte dos assuntos são abordados, não têm a ver comigo e interessam-me pouco, tornando-se, por vezes, uma expressão de mau gosto. Não me identifico com certos conteúdos. Por tudo isto e muito mais que tomo a liberdade de não referir, eis a razão do anonimato. Eu sei quem te questionou, meu amigo, mas não vou por aí. Permitam-me que registe, todavia, o facto de alguns dos participantes revelarem bom senso e bastante engenho na arte da escrita. Os meus parabéns para eles. Que assim continuem! Anonimus dixit.
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