segunda-feira, abril 23, 2007

A CORRIDA AO OURO NEGRO



Com este título, demasiado comum, pretendo transportar-vos para uma realidade vivida há umas décadas atrás, por alturas do Verão, aquando da maturação e colheita do centeio, um dos principais produtos agrícolas desta terra e base alimentar da sua população.
Se bem se lembram, os mais velhos, ao mesmo tempo que apascentavam os seus animais nas orlas das vastas searas de centeio, dedicavam-se à apanha do cornelho. Também os crivos das malhadeiras eram vasculhados à procura do mesmo produto. Mas o que era, afinal, e o que tinha ele de tão importante?
Numa breve síntese, tratava-se apenas e tão só de um fungo, de cor negra que surgia em várias espigas de centeio, ligeiramente parecido com um grão alongado. Não se sabia o porquê, mas é verdade que esse produto era vendido a peso de ouro. Lembro-me de na década de sessenta e setenta ser vendido a um preço variável entre os quinhentos e mil escudos o quilo. As pessoas questionavam-se sobre tão exorbitante preço e qual o destino do produto. Falava-se, em surdina, que seria destinado à indústria farmacêutica. Pois bem, não andavam muito longe da verdade os que assim conjecturavam. Talvez para vossa surpresa, posso garantir-vos que o mesmo se destinava ao fabrico da dietilamida de ácido lisérgico, conhecido como LSD, um poderoso alucinógeno, percursor da heroína e da cocaína e com efeitos similares. Afinal, a questão das drogas não é nova! O problema é que não era tão divulgada e o poder de compra dos consumidores era reduzido. Por tal motivo, o seu consumo era limitado às altas esferas das sociedades mundiais. Embora este produto fosse sintetizado em 1943, já no século XVII era usado como terapia para certos males. Este mesmo produto foi ainda muito utilizado na prática abortiva. Quem diria que os que apontam o dedo a outros, por motivos vários, e convictamente votam contra o aborto, fossem esses mesmos, embora indirectamente, a contribuir para tal? Questiono-me se nesses mesmos tempos e a preços tão exorbitantes este conhecimento alteraria a atitude de alguém. Sou daqueles que acreditam que a honestidade e os princípios, se é que os há, dependem apenas da conjugação do trinómio necessidade/ambição/preço. Neste domínio e como reforço deste juízo, recordo o episódio bíblico em que ninguém ousou atirar uma única pedra à conhecida “pecadora”.
Brevemente vos surpreenderei com outro produto idêntico, este da família da “claviceps purpurea” e o outro a revelar.
Anónimo

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