quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Um olhar sobre o nosso Património Arquitectónico Religioso

O comentário que faço relativamente à capela da Póvoa não tem base científica, embora da minha formação académica tenham feito parte, cinco anos consecutivos de estudo na área de História da Arte, quatro dos quais na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa onde me licenciei, o que me trouxe alguns conhecimentos nesta matéria.
Após tentativas falhadas de encontrar alguma documentação escrita relativa a esta capela, decidi escrever sobre ela, procurando tratar o assunto de forma cautelosa, através de analogia deste templo com outros similares, através de conhecimentos adquiridos e ainda após uma leitura sobre o barroco em volumes de História da Arte.
No que diz respeito à Arquitectura Religiosa Barroca, são diversas as suas características, mas para este caso importa salientar as seguintes: exuberância decorativa ao nível da talha dourada, onde se articulam elementos como pequenas colunas, serafins e elementos vegetalistas, tectos normalmente em abóbada de berço pintados com cenas aéreas representando anjos e outros temas da religiosidade cristã.
Encontram-se neste templo os elementos atrás referenciados, donde penso tratar-se de um edifício barroco.
Um aspecto que queria salientar tem, a ver com a total falta de condições em que as pessoas participam nos actos religiosos, – a maioria são idosos – sobretudo se pensarmos nas baixas temperaturas que estamos a enfrentar. Penso que se trata de uma questão de respeito para com os familiares que lá temos, bem como todos os outros que igualmente o merecem.
Agora que se formou uma comissão de festas e esta, é interessada e dinâmica, -como o está a provar – talvez arranje através de qualquer estratégia, verba que permita instalar aquecimento na nossa capela!
Quanto a mim, estarei na disposição de colaborar.


A capela da Póvoa

Este imóvel poderá ser um dos inúmeros construídos no nosso país entre os séculos XVII e XVIII e que obedeciam às soluções arquitectónicas do estilo barroco. Num texto do recentemente falecido R. Padre Tomás faz-se referência à construção desta igreja que aponta para do séc. XVII no lugar onde teria existido a ermida de Santa Cruz.
O exterior é modesto sem quaisquer apontamentos decorativos. A fachada apresenta uma porta em arco de volta perfeita, uma pequena janela redonda, duas cruzes e pináculos piramidais rematados por pequenas esferas sendo estes dois últimos elementos típicos do maneirismo.
Quanto ao interior, este surpreendo-nos pela sua beleza. A planta é rectangular com abóbada de berço, onde se podem admirar belas representações barrocas de anjos e folhagens, assim como balaustrada a rematar a abóbada. Tradicionalmente as igrejas barrocas e não só, exibiam capelas laterais mas o que encontramos nesta capela, são dois altares laterais: o altar do Sagrado Coração de Jesus e o de Santa Bárbara. Aparece também o arco triunfal a separar o “corpo” da capela do altar-mor, no qual se pode observar uma pintura de motivos vegetalistas em toda a sua extensão. A meio de uma das paredes laterais, está um púlpito muito simples; mas o que realmente nos fascina é a talha dourada que ocupa a quase totalidade da parede do fundo. É uma talha belíssima onde harmoniosamente se articulam folhagens, anjos, serafins e outros elementos, com um nicho ao centro onde se encontra a padroeira da povoação -Nossa Senhora do Pranto. Sobre o altar-mor o tecto apresenta uma composição rebuscada no que diz respeito ao tratamento fisionómico das figuras e dos seus panejamentos e de outros elementos que compõem a composição.
Este templo embora de pequenas dimensões, é um edifício de interesse artístico pela ornamentação que possui.
Queria aproveitar a oportunidade para chamar a atenção sobre a necessidade de preservar este património, que é de todos nós e que apresenta já sinais de degradação sobretudo nos tectos em onde sobressaem nas juntas das tábuas alguns buracos.

Celeste Gonçalinho O. Duarte

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