quarta-feira, fevereiro 22, 2006

O mais alto…(por Fernanda Gonçalves)

O mais alto…
Era um gigante, para todos nós,
Pacatos anões, a seu lado.
Brincalhão, quanto baste.
Amedrontava pela altura,
Crianças mais pacatas,
Pela colossal haste.
Mas, nem numa mosca ele tocava.
Direito, de enxada ao ombro,
Calçada abaixo, lá ia…
Descalço, diariamente andava.
Sapatos, na altura não havia,
Para a sua medida.
Só tamancos, por vezes usava,
Quando o frio apertava.
Com o meu pai tinha vacas e parceria fazia,
Muitas vezes lá por casa aparecia,
Mas aquilo de não ter sapatos,
A mim, muito me entristecia.
Não podia acreditar,
Que os sapatos só para gente pequena havia.
Um dia, por lá apareceu,
Um tal almocreve, que sonhos vendia,
Logo, as crianças da terra se juntaram,
E todos queriam,
Uns sapatos comprar,
Para o nosso gigante calçar.
Nada conseguiram,
Pois o homem de tonto nada lhe faltava.
As suas medidas
Em nada se comparavam
Com as simples medidas lineares,
Era ao palmo!
E cada palmo, uma exorbitância numérica,
Que não encaixava na nossa aritmética.
O nosso sonho se desvaneceu
E de sapatos, nada aconteceu,
Aquela figura, na minha memória permaneceu.
Mais tarde,
Já crescida,
A terra visitei.
E, para meu espanto
O gigante da minha infância, observei
E nos seus sapatos me espelhei.
Uma sincera homenagem ao homem que encheu de magia a minha infância “tio Macário”.

2 comentários:

JMOV disse...

Penso que este Homem sempre será lembrado por todos aqueles que tiveram o privilégio de o conhecer, como um bom amigo, um bom Homem, sempre disponível para ajudar, e a participar em todas as tomadas de decisão que à terra dissessem respeito. Tinha tanto de altura como de bondade, e daí também o respeito que toda a Póvoa lhe tinha. Muito brincalhão, não dispensava uma conversinha que pudesse falar de namoros, e se pudesse arranjar um namorico!? então estava nas suas sete quintas.
Obrigado Fernanda por nos trazeres a público a memória deste Homem, meu tio.
Jorge

Anónimo disse...

Olá Fernanda!
Acho os teus textos perfeitíssimos e essencialmente interessantes em termos de ideias e de memórias.
Para além disso, aceita os meus sinceros agradecimentos pelas referencias - bem merecidas - ao meu pai Macário.
Continua!
Zé Macário

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