quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Como era a póvoa... (por Zé Macário)

Como era a póvoa...
Os nomes das vacas da Póvoa eram: Galantes, Bromelhas, Ramalhas e Cabanas, com excepção das do Ti Gomes que, essas, eram todas Malhadas. Umas puxavam nas duas mãos, algumas eram de esquerda e outras tantas de direita; e de vez em quando era necessário que alguma puxassem arreiras.
Algumas juntas eram propriedade de um só dono, enquanto outras jonguiam em parceria.
Nunca percebi bem por que é que para se mandar parar um burro, se dizia xó, e para mandar parar uma vaca se dizia oixe; assim como para mandar andar uma vaca se diz iete, e para mandar andar um burro se diz arre.
Eu nunca percebi mas sei que era assim, e sei que eles percebiam, não obstante alguns serem burros.
As cabras eram todas Mochas, Catitas, ou Morinhas; era Mocha a do David, Catita a da Ti Branquinha e Morinha uma rica cabra que eu tinha e que para além do mais, até fazia de burra. Que rica cabra, aquela!...
Não sei como se chamavam as ovelhas, mas sei que os porcos eram todos recos e chechês.
Outra coisa que me intrigava era a distinção de formato e de utilização dos brêses, das brêsas e das gigas que, sendo todos da mesma familia tinham formas e utilizações diferentes, com a excepção mais uma vez para os do Ti Gomes - que sendo de frabico próprio - eram todos iguais com a consequente confusão de utilização.
Os brêses utilizavam-se nas sementeiras, as brêsas faziam de caixa de costura, enquanto as gigas se utilizavam para guardar a broa, fresca, fora do alçance dos ratos.
As maleitas das pessoas assim como as respectivas mezinhas também aguçavam a minha curiosidade: havia o tizorelho, que era um qualquer inchaço atrás de uma orelha, e que era curado com uma reza que só algumas mulheres bentas sabiam fazer.
As cróflas, uma qualquer maleita na zona do pescoço, eram curadas por uma "especialista" de Várzea que as queimava com um ferro em brasa no pescoço tal como se fazia para marcar as rezes ou os escravos.
Ficar sem uma cabeça de um dedo de um pé - o que acontecia com muita frequêcia, por as pessoas andarem muito descalças - curava-se com uma mijadela e posterior colocaçao de pó de terra seca.
Para a cura de uma dor de ouvidos, espremia-se para o interior dos respectivos, uma esguichadela de uma mama de uma mulher em inicio de aleitação.
Havia também algumas curas - não me recordo quais - que se obtinham por mijadela de virgens.
Os terçolhos mandavam-se voar para outros olhos com uma reza especial que toda a gente sabia.
Para matar as lombrigas - que era um dos grandes achaques daqueles tempos - bebia-se de manhã em jejum durante vários dias um xarope-mistela intragável, isto é, uma xícara de alho amassado com vinagre; as bichas ou morriam ou ficavam doidas.
As dores de dentes abafavam-se com sal, criosoti, água-ardente, fumo de tabaco, vinagre, e muitas outras mistelas de que me não recordo.
Ainda me recordo de tempos em que médicos, boticairos, barbeiros, ou ferradores - o famoso Paula, por exemplo - tentavam a cura de muitas doenças com sangrias; que consistiam - penso eu - num qualquer corte no cu e retirar alguns litros de sangue e assim fazer baixar a febre.
Arranjar ossos ou tirar dentes era sempre com o ferrador e, a anestesia eram uns copos de vinho do Porto.
Para a cura de uma qualquer tumefação, a receita era lavagem com água de malvas.
E os chás? Ai os chás! Havia de todas as plantas e para todas as mazelas, mas isso dará outro capítulo.
Até lá, não nos doa a nós a barriga!

1 comentário:

Anónimo disse...

Então e o chamar das galinhas?
Ah!.. pois esse era muito tipico, ou ainda como se sabia se elas andavam a pôr?
Este é mais uma mão cheia de boas recordações.
Parabens.
Jorge

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