domingo, fevereiro 05, 2006

Aquele Cantinho (por Fernanda Gonçalves)

Aquele Cantinho…
Estrada fora… em dias estivais, devorando o asfalto esbraseante, olhando ao redor, para lá das bermas, o silêncio esverdeado, frondoso, refrescante dos matagais intermináveis: árvores e mais árvores, vegetação exuberante, caótico emaranhado de vida passiva no seu misterioso e telúrico brotejar, quebrado de vez em quando, num aceno, pelo capricho da brisa amena e cálida. A estrada, sinuosa e negrejante, a dardejar no horizonte, a estabelecer uma fronteira, uma referência àquele pequeno canto, de sombras verdes, obscuras, informes, insinuando-se por fragas, colinas, montes e vales. É sem dúvida a paisagem daquela que para todos nós foi o berço e nos embala. Esse berço de um sufocante calor humano que a todos chama e acolhe como de um colo se tratasse… que nos acaricia quando vencidos pelo cansaço da labuta diária a procuramos, para o descanso merecido e nos revigoriza tornando-nos irresistíveis a tamanha sensação, como se de um cordão umbilical se tratasse… Apesar das parcas mordomias existentes, dos monótonos dias invernais ou soalheiros, das efémeras viagens; a dicotomia entre o ser natural desta Póvoa querida e a paisagem única são irresistíveis e de um mistério indecifrável. Todos nos resignamos perante esta magistral aldeia, que amamos e defendemos como de um membro nosso se tratasse. Amigos e colegas de infância, como recordo com grande saudade as brincadeiras infantis, no recreio da escola. Como sinto a falta da sueca, das quatro simpáticas velhotas, a minha avó Delmina, a tia Miquelina, a tia Olinda e a tia Quitéria, as quatro resistentes, nas tardes soalheiras, das suas refilices, quando perdiam ou alguma batota acontecia. Dos bailaricos semanais ao som do gira discos, que o meu pai me ofereceu, único instrumento musical na altura existente, na terra. Muitas e muitas recordações que o tempo vai atenuando, mas a lembrança vai ficando e roendo a memória. E agora, um grande agradecimento a todos quantos contribuíram para regenerar tradições adormecidas e afincadamente fizeram renascer esta pacata terra a “PÓVOA”.
Fernanda Gonçalves

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