quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Do grão ao pão

Tudo começava
quando o Outono chegava,.
via-se então todo o povo
fosse velho fosse novo,
num sossurrento burburinho
na Póvoa em qualquer caminho,
preparando a sementeira
do cereal que em Junho chegaria à eira,
do centeio e do trigo
um costume já antigo,
nas leiras
e nas lameiras
no lavradio de cá,
pois o do lado de lá
ficava um ano de pousio
para depois também ele ser lavrado
e semeado
encerrando-se assim o ciclo do lavradio.
Uns jonguiam o gado,
outros preparavam o arado,
que muita utilidade teria
de manhã, à tarde durante todo o dia
e o boliço habitual
que todos os anos era igual
começava desta maneira:
na terra seca e poeirenta
muitas vezes lamacenta,
espalhava-se de forma igual
o necessário cereal,
e se ao lavrador faltava o brês
para dele espalhar o dito grão,
arranjava outra solução
improvisando uma ou outra vez
a vasilha de um avental
de sua mulher
ou de outra pessoa qualquer,
assim era tal e qual.
Lavrando a terra seguidamente
assobiando de contente
triste ou arreliado
vagaroso ou apressado,
o lavrador confiante
num dia não muito distante
de ali regessar
para feliz constatar
que aquele solo abençoado
pelo Céu fertilizado
lhe traria o alento

de um ano de sustento.
E quando a fome apertava,
o seu olhar todo o caminho percorria
só para ver se ao perto ou ao longe via
o almoço ou a merenda que já tardava
e quando esta chegava
era uma grande alegria.
O tempo ia passando,
o centeio ia crescendo
do castanho ao verde passava,
e deste no amarelo dourado se transformava,
numa constante mudança
num colorido sempre diferente
sempre belo e surpreendente!

Celeste Gonçalinho

1 comentário:

JMOV disse...

Parabens.
Penso que todos os textos, aqui apresentados, nos fazem, duma maneira ou de outra, reviver o passado da nossa aldeia.Este é mais um que vem ao encontro do verdadeiro sentido deste "blog e do site", não deixar cair no esquecimento todos os usos e costumes da nossa terra, assim como fazer lembrar a quem de direito, que aquela terra não deve ser deitada ao abandono.
Jorge

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