sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Por entre as brumas da memória (por Zé Macário)

Por entre as brumas da memória sentem-se apelos, na voz dos nossos igrégios avós.
Aparecem em remeniscencias das minhas recordações - e isto, contado ainda pela tradição oral - a lembrança de uma família da Póvoa que terá tido primordial importância na área dos saberes, para o desenvolvimento dos ofícios aí, e nas aldeias limitrofes.
Sei que era ainda muito criança quando, aos serões junto à lareira, nas grandes e rigorosas noites de Inverno - enquanto os homens descascavam castanhas para os porcos e as mulheres tricotavam camisolas ou caturnos - por entre as fábulas, que mais tarde vim a saber serem de Fedro, Hisopo, La Fontaine ou de Aquilino, ouvia contar, além das istórias de lobos e lobisomens, também os grandes feitos das grandes famílias modelo, entre as quais me aparece como referência - ia eu a dizer - a tal família do "Mestre". Assim chamado por ter sido, com o seu clã, baluarte no ensino da escrita e leitura bem como de vários ofícios e até de música; de recordar que na juventude dos nossos pais, todos os rapazes da Póvoa tocavam algum instrumento musical. Julgo ser esta família oriunda dos Gonçalinhos, ter vivido na casa do largo, junto à eira dos mesmos, e ter ainda como descendente aí, em linha directa o Manel da Valentina (neto do Mestre). Não sei se isto será bem assim, porém, alguém me haverá de corrigir se assim não for.
Estamos a falar de um tempo em que nenhuma dessas aldeias teria escolas, e as pessoas encontraram nesta família a forma de receberem alguma ilustração.
Se nos localizarmos no tempo, ser-nos-á fácil entender quanta influência terá tido esta família na sociedade do seu tempo e futuras. Sabemos aliás, que muito poucos povos tão pequenos, terão sido berço, como a Póvoa foi, de alguma intelectualidade, assente principalmente, nessa família dos Gonçalinhos. Lembramos por exemplo e apropósito, que no ano de 2005 foi homenageado a título póstumo pela Câmara de Vila Real, um ilustre Gonçalinho, filho dessa terra. São afinal as terras madrastas a reconhecer os valores que as terras mães se esquecem de reconhecer.
Se é com algum orgulho que aqui ivoco a história - e não é em vão - é para exortar à fidelidade que devemos à nossa memória e às nossas raízes, e lamentar o abandono a que foi votado esse povo, a quem, possívelmente tantos, tanto devem. Lamentar ainda e novamente que o autarca que aí agora cessou funções, não tenha prestigiado o apelido que consta do seu BI e tenha feito tão triste figura,com um mandato tão triste e tão pobre. Porém, dizer também que, não é a existência de uma ovelha ranhosa no seio de uma família, que desclassifica essa família. Continuemos a orgulhar-nos das nossas raízes.
E já agora exultemos pela mudança que, com certeza, não irá defraudar as nossas grandes e legítimas espectativas

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