quinta-feira, janeiro 11, 2007

PATRIMÓNIO ESPIRITUAL DA PÓVOA


O Passado no Presente

A Irmandade do Bom Jesus
No texto de 1758 decifrado pela Dr.ª Sara Loureiro e fruto de pesquisa de Celeste Gonçalinho, publicado neste blog, já se faz referência à existência de um Irmandade do Bom Jesus em Arneirós.
Ora a permanência de uma associação como a Irmandade do Bom Jesus, activa sem interrupção, desde o ano 1669 na nossa Paróquia, faz-nos reflectir sobre o segredo de tamanha perseverança e sobre a razão do entusiasmo que ainda hoje provoca nos seus associados, sejam simples irmãos, sejam membros da Mesa.
Apercebi-me de que, no momento presente, mais de 400 paroquianos estão inscritos; as quotas estão em dia; os encargos são cumpridos; e há sempre novas inscrições.
Da sua existência e actuação são visíveis anualmente a celebração da festa do Bom Jesus, no dia 1 de Janeiro; a missa semanal pelos irmãos vivos e defuntos, mandada celebrar pela Irmandade na Igreja Paroquial; as 10 missas por alma dos irmãos, quando falecem; e os ofícios de defuntos cantados na terceira semana da Quaresma.
O sino toca de forma diferente para informar quando um irmão falece, distinguindo-se ainda o sinal para homem e para mulher. As opas e a cruz são diferentes, quando a procissão acompanha um irmão ao cemitério.
A Póvoa conta também com um grupo de irmãos. Na sua capela, se celebram as missas a que têm direito os que pertenceram a esta Irmandade.
Ora, se as festas têm a sua interrupção, por vezes com largos anos sem se organizarem, se algumas associações civis têm duração limitada, e muitas delas desaparecem após poucos anos de vigência ou acabam por vegetar na inanidade, como se explica que esta Irmandade se mantém em pé desde 1669, com actividade, zelo e entusiasmo?
Esta constatação merece o meu louvor a todos os que passaram de geração em geração o testemunho e aos que na actualidade mantêm vivas a chama e o espírito sempre renovados de uma associação geradora de elos de ligação entre famílias e povos.
A fidelidade aos valores perenes, a persistência em salvaguardar os tesouros do seu património, seja ele material ou espiritual é uma prova de sabedoria. Amputar o passado ao presente é como arrancar as raízes das plantas, querendo utopicamente que estas continuem florescentes e viçosas.
No entanto, como a memória das origens muitas vezes se perde, é bom pôr a descoberto o seu embrião, pois nele está já a vida que um dia será dada à luz. Descobri nos arquivos do Paço episcopal o documento original com a criação desta Irmandade, de que guardo fotocópia.
Foi o papa Clemente X que a instituiu através de um texto legislativo com o nome de “bula”, que é uma manifestação escrita de sua vontade para que em Arneirós, em 1669, (o nome “Vila Nova de Souto d’El-Rei” começa apenas em 1769, cem anos depois) haja uma associação canónica, isto é uma associação de fiéis (os que têm fé em Cristo, do latim, “fideles”) dispostos a realizar uns determinados fins, religiosos, naturalmente.

a) Fins da Irmandade. Os actuais estatutos, em vigor, registam os seguintes:
- Promover o culto em honra do Bom Jesus.
- Sufragar as almas dos fiéis defuntos.
- Cuidar dos interesses morais dos Irmãos.
- Bem administrar os fundos da mesma Irmandade.

b) Bula da criação. Segue apenas o primeiro parágrafo. No último, está registada a data em que é erigida: 21 de Junho de 1669.
P.Assunção

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