Da Etimologia à Teologia
Habituados como estamos, por rotina, a entrar na Igreja Paroquial, cujo interior se apresenta nesta foto ou na capela da Póvoa, exposta em vários lugares deste blog, presumir-se-á que todos os paroquianos saibam a origem das palavras “capela” ou “Paróquia”. Dirão mesmo: claro que fui baptizado na paróquia de Vila Nova de Souto d’El-Rei e a minha aldeia tem uma capela muito bonita, que é a capela da Póvoa. Mas nunca me dei ao cuidado de procurar saber essas questiúnculas.
Na era da Internet, somos estimulados a abrir os nossos horizontes ao passado e ao futuro, porque cada vez somos menos “ilhas” isoladas, para navegarmos todos no mesmo vasto oceano de ideias. Não percamos o rumo nem abandonemos o leme, para não nos diluirmos por entre as ondas alterosas ou sucumbirmos vítimas de algum “vírus informático”, contra o qual não estejamos imunizados.
Ora a palavra “capela” leva-nos até à cidade de Tours, na França, onde ficou famoso o milagre de S. Martinho, esse que nos dá a “benesse” de um rasgo de verão nos tempos de Outono (celebra-se a 11 de Novembro) e que para os poveiros lhes proporciona uns deliciosos magustos com a castanha aqui criada, produto dos seus ricos castanheiros.
Reza a lenda que este militar, que viveu em Tours, entre os séculos IV e V, encontrando um mendigo a tiritar de frio, em pleno Inverno, num dia gélido e chuvoso, se condoeu da sua miséria, cortando metade da sua capa para o agasalhar. O seu gesto de rara humanidade valeu-lha a resposta recompensadora da Divindade. O céu se abriu e o sol raiou, para por em evidência a brilhante sensibilidade do soldado. O povo, esse não mais esqueceu esta história, lenda ou milagre. Ainda que fosse mito…! “O mito é o nada que é tudo” no dizer de Fernando Pessoa.
Pois a verdade é que ao lugar onde se guardou através dos séculos até hoje a metade da “capa” de S. Martinho, foi dado o nome de “capela” (pequena capa) de capa+ela = capinha. Mais um fenómeno de evolução semântica. Afortunadamente, as novas terminologias aqui não tocaram em nada. Trata-se de um sufixo derivacional de valor semântico avaliativo (ela), diminutivo, tal como antes se dizia. Capela é agora, não a pequena capa, mas o lugar onde nos reunimos para praticar o culto e celebrar a fé.
“Paróquia” vem do grego e quer dizer “à volta da casa”. O prefixo grego “para” significa “á volta de” e a palavra grega “oiquia” significa “casa”. Quando surgem as primeiras paróquias, as povoações aglomeravam-se ao redor do edifício principal, em princípio, mais alto e central, que era a Igreja. Certamente que esta é uma concepção de paróquia rural e remonta à Idade Média. Mas continua a chamar-nos a atenção para a centralidade da vida cristã, que a palavra “paróquia”, na sua etimologia, continua a evocar.
Teologicamente, define-se Paróquia como “uma certa comunidade de fiéis constituída estavelmente na Igreja Particular, cuja cura pastoral, sob a autoridade do Bispo Diocesano, está confiada ao Pároco” (c.515 do C.I.C.)
Por:P.Assunção
1 comentário:
Na verdade e tal como o Sr. Dr. Assunção diz, é bem pouco provável que alguém entre nós, se tenha interrogado sobre a origem dos termos "capela e paróquia". Eu pessoalmente, nunca pensei em saber os seus significados.
É curiosa a origem da palavra capela e igualmente o é a origem da palavra paróquia.
No primeiro caso seria pouco provável, alguém pensar ir à lenda de S. Martinho, à capa que dividiu com o mendigo e ainda por cima a Tours (França),região por excelência do melhor champanhe francês se não do mundo; como é o caso do champanhe"Lauren Perrier" que é um faboloso champanhe.
Obrigada por estas lições que nos vai dando e neste caso de português.
Parabéns pelo seu bom domínio na nossa língua materna.
Celeste Gonçalinho O. Duarte
Enviar um comentário