domingo, outubro 22, 2006

Histórias de outros tempos

Estava-se em plena época de Natal,
quando à luz de uma velha candeia
se preparava a época festiva afinal,
e ainda uma magra ceia.
entre o crepitar do lume na lareira,
e o borbulhar do azeite na frigideira.

Homem e mulher permaneciam sentados
observando abismados
algo que com regularidade do caniço caia,
mas que mal se distinguia;
o que os deixava perplexos e assustados...

Entre o cozinhar das fritas
que iam ficando douradas e bonitas,
o mistério ia ganhando dimensão,
tomava corpo e proporção...
a mulher não mais se contendo
vira-se para o homem dizendo:
-mas o que vem a ser isto?!
Chove na nossa cozinha, está visto!...

Responde-lhe o homem impaciente:
-acalma-te aí ó mulher,
foi um rato qualquer,
que teve necessidade e urinou
mas de certeza já abalou!...
esquece o que acabamos de ver,
pensa no que estás a fazer.

Mas qual abalar qual porcaria,
se a gota continuava, caia...
e o pior era a paciência que esgotava;
para cúmulo, a mulher só então reparara
no prato das fritas que estava vazio.
O que teria sido feito de tal quantidade de fritas?
Atravessou-lhe o corpo um forte calafrio,
onde estariam as malditas?!...

Arre homem, que estranha coisa esta!...
será que não vejo mesmo nada?!
Estarei cega, ou não teremos fritas na festa,
não teremos consoada?!...
-Bem!...-disse o homem- vê se cairam ao chão!
Ela olhou, mas nada viu, isso não!
-Que diabo por aqui passou,
que nem uma só frita nos deixou?!...

É então que se ouve estranha gargalhada,
no momento em que menos se esperava,
vinha sem dúvida do caniço.
Enquanto o lume ia ardendo mortiço,
o aventureiro, a custo lá ia controlando,
cada gota que ia largando...
e para não cair sufocado
com o fumo ali acumulado,
comprimia firmemente a boca e o nariz...

Outro como ele aventuroso, mas no ofício aprendiz
como relâmpago, do canto da lenha se escapulia
e na sombra da noite se diluia,
levando o saboroso prémio consigo
enquanto o seu amigo,
que teve do seu lado o azar,
nem a cor das fritas conheceu
e muito menos as comeu.
Depois de muito pensar,
conclui não encontrar maneira
para justrificar tão abusiva brincadeira!...

Celeste Gonçalinho Oliveira Duarte
Cacém, 09 /10 /06

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