sexta-feira, outubro 27, 2006

Desde há vários anos que estou sendo, e continuo a ser, lenta e progressivamente decepcionado com alguma hierarquia eclesiástica católica.
Se dos políticos em geral, tenho profundamente impressa uma tão má imagem, que nenhum conseguiria já decepcionar-me, já da hierarquia eclesiástica ou militar, eu considerava como fiéis e inabaláveis depositários de honoráveis valores sociais éticos, morais etc.
Não gosto de ver padres como residentes de programas televisivos de entretenimento, enquanto deveriam estar ao serviço dos seus paroquianos, tendo com certeza por lá muito que fazer, e sendo – assim o penso – a base causal da sua ordenação.
Não gosto de ver padres continuamente focados por câmaras televisivas em tudo quanto é festa ou passatempo do jet sete, pois julgo ter sido outra também a causa da sua ordenação .
Não gosto que membros cimeiros da hierarquia eclesial, troquem epístolas em jornais, com adversários ideológicos, ateus ou agnósticos, exibindo – quais pavões ou perus, de penas enfunadas – os ares da sua intelectualidade.
Não gosto de ver ” mitras sentadas “ em altos cadeirões ao lado do poder político principalmente quando este é, na sua génese, ideologicamente antagónica.
Não gosto que haja aceitação de oferta de avião estatal, para, em viagem ao Vaticano se fazer uma simples, fátua, e efémera promoção de imagem.
Porém, e principalmente, não gostei de ouvir dizer a alto responsável clerical, que a questão da liberalização do aborto não é uma questão religiosa.
Não sei quais as aladas formas modernas de transporte até ao pináculo do templo, de onde se pode ver e cobiçar o mundo com todas as suas riquezas e miragens, porém uma coisa eu sei – e aqui parafraseio o título de uma conhecida crónica - : não há almoços grátis.
Observo na sociedade portuguesa, ter-se desenvolvido uma autentica barbárie na subversão de valores, que vão desde a corrupção, promoção e desenvolvimento da poligamia, da paneleiragem ( moderna e pomposa homossexualidade), da promiscuidade sexual, da pedofilia, toxicodependência, com o consequente disparar do desenvolvimento de doenças sexualmente transmissíveis, entre as quais a temida sida.
São também notícias frequentes, novas formas de esclavagismo migrante (principalmente sexual) e tráfico de órgãos humanos.
Somando a tudo isto a terrível degradação da justiça.
Não me interessa aqui analisar as riquezas e altos negócios desenvolvidos e alimentados por estes desvalores, por me preocupar antes com o cortejo de vítimas que, desgraçadas, ficam pelo caminho.
Se tudo isto tem tido o olhar complacente dos políticos, parece-me ter tido também o silêncio – cúmplice ou não – da hierarquia eclesiástica
A vivência desenfreada do hedonismo moderno, levará inevitavelmente à queda abismal dos impérios do nosso desenvolvimento e bem estar, tal como historicamente levou à queda de todos os impérios que, no auge do seu desenvolvimento, a ele se entregaram sem reservas.
Com os sessenta e dois anos que tenho de idade, sempre aceitei a catequização do clero católico e sempre acreditei que as “ verdades” evangélicas eram intemporais e que todas as questões aqui invocadas, eram também questões religiosas.
Pelo que, afirmo, que a tal declaração de que a liberalização não era uma questão religiosa, me veio perturbar e confundir o espírito, sobre a verdade intemporal das catequizações que sempre me foram feitas.
Reafirmo que muito me chocou tal afirmação, principalmente pela eminência da sua origem.
Poderá, caríssimos irmãos Bispos – excelsas eminências e excelências reverendíssimas – não voltar a aparecer-vos a crítica contundente de um Erasmo, porém os vossos fiéis nunca irão compreender tanta passividade da igreja.
Apraz-me registar que, logo apareceram outros altos responsáveis afirmando - tal como eu sempre esperara deles – que, sim senhor, a questão da liberalização do aborto é realmente uma questão religiosa .
Espero que estes não se dispersem, e que, em uníssono, ajam em conformidade.
Poderei assim reanimar os créditos que sempre dispensei aos meus líderes religiosos.
Permitam-me que vos exorte a que nos exortem – com o vosso esclarecido exemplo – a seguir o caminho intemporal da verdade evangélica.

Ass: Tonho d’Adélia

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