domingo, setembro 03, 2006

Saudades do tempo de criança (por José Maria Venâncio)


O CANTAR DAS JANEIRAS

Vinham de terras serranas
Por carreiros e caminhos
Vindo cantar as Janeiras
Para os povos mais vizinhos

Já tiritando de frio
Mesmo assim não desistiam
Cantavam o que gostavam
E ás vezes ao desafio

Vinham pisando a neve
Já tarde quase á noitinha
E por lá eram abrigados
Nas condições que se tinha

Recordo-me muito bem
Na casa duma vizinha
Pernoitarem uma noite
Numa sala e na cozinha

Essa vizinha que eu falo
Com coração de manteiga
Ao vê-los assim gelados
Levou-os para a lareira

Que bondade de senhora
Com uma cara tão linda
Na aldeia era conhecida
Somente por tia Arminda

Vinham com trajes típicos
Apertados com cordel
O traje que me marcou
Foi a capucha de borel

Pois eu nunca tinha visto
Pensando assim também
Porque não usavam xaile
Como usava minha mãe

Um dia então perguntei
E veio a resposta bem-vinda
Pois a mesma me foi dada
Pela dita tia Arminda

Pois com seu jeito materno
Ela me contou então
Era para os proteger
Do cieiro e do suão

Já com os rostos queimados
Pelo cieiro e suão
Cantavam então as janeiras
Com muito gosto e paixão

Cantavam com alegria
Dançavam sem preconceitos
Cada um dava o que queria
Pois tudo lhes dava jeito

Dando a volta n’aldeia
Em toda a casa batiam
Todos davam alguma coisa
Mas somente o que podiam

Recordo-me muito bem
De com eles acompanhar
O meu gosto era imenso
Ao vê-los ouvir cantar

Lembro-me com eles ter ido
Com tamancos e rotas calças
Ao local chamado Eido
A casa do tio Lirachas

Eles eram um casal pobre
Por isso nada lhe deram
Mas foi tal a educação
Que na mesma agradeceram

Houve então um bem-haja
Que não era habitual
Cantaram duas cantigas
Para alegrar o casal

A esposa era engraçada
Com todo o ar de catita
Na aldeia lhe chamavam
Por alcunha a tia Pita

Vou agora revelar
Os reais nomes do casal
Pois assim foram baptizados
Na sua terra Natal

Lá viveram e morreram
Sempre com muita alegria
O marido Joaquim
E sua esposa Maria

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