O CANTAR DAS JANEIRAS
Vinham de terras serranas
Por carreiros e caminhos
Vindo cantar as Janeiras
Para os povos mais vizinhos
Já tiritando de frio
Mesmo assim não desistiam
Cantavam o que gostavam
E ás vezes ao desafio
Vinham pisando a neve
Já tarde quase á noitinha
E por lá eram abrigados
Nas condições que se tinha
Recordo-me muito bem
Na casa duma vizinha
Pernoitarem uma noite
Numa sala e na cozinha
Essa vizinha que eu falo
Com coração de manteiga
Ao vê-los assim gelados
Levou-os para a lareira
Que bondade de senhora
Com uma cara tão linda
Na aldeia era conhecida
Somente por tia Arminda
Vinham com trajes típicos
Apertados com cordel
O traje que me marcou
Foi a capucha de borel
Pois eu nunca tinha visto
Pensando assim também
Porque não usavam xaile
Como usava minha mãe
Um dia então perguntei
E veio a resposta bem-vinda
Pois a mesma me foi dada
Pela dita tia Arminda
Pois com seu jeito materno
Ela me contou então
Era para os proteger
Do cieiro e do suão
Já com os rostos queimados
Pelo cieiro e suão
Cantavam então as janeiras
Com muito gosto e paixão
Cantavam com alegria
Dançavam sem preconceitos
Cada um dava o que queria
Pois tudo lhes dava jeito
Dando a volta n’aldeia
Em toda a casa batiam
Todos davam alguma coisa
Mas somente o que podiam
Recordo-me muito bem
De com eles acompanhar
O meu gosto era imenso
Ao vê-los ouvir cantar
Lembro-me com eles ter ido
Com tamancos e rotas calças
Ao local chamado Eido
A casa do tio Lirachas
Eles eram um casal pobre
Por isso nada lhe deram
Mas foi tal a educação
Que na mesma agradeceram
Houve então um bem-haja
Que não era habitual
Cantaram duas cantigas
Para alegrar o casal
A esposa era engraçada
Com todo o ar de catita
Na aldeia lhe chamavam
Por alcunha a tia Pita
Vou agora revelar
Os reais nomes do casal
Pois assim foram baptizados
Na sua terra Natal
Lá viveram e morreram
Sempre com muita alegria
O marido Joaquim
E sua esposa Maria
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