quarta-feira, setembro 27, 2006

Exposição de Artes Plástica e Artesanato

Introdução

Desde os primórdios da existência humana na terra o homem sentiu necessidade de utilizar a sua capacidade criativa e manipuladora para criar representações relacionadas com a sua própria sobrevivência o que lhe permitia comunicar com os grupos humanos vizinhos, ou as gerações posteriores.. Assim produziu objectos estéticos onde se inclui a obra de arte e artefactos, objectos para uso próprio, que se enquadram no universo artesanal e que se apresentavam como absolutamente essenciais no seu quotidiano.
Achei ter cabimento esta pequena introdução, porque penso que ajudará ajudar a compreender o género e dinâmica da exposição realizada este ano na Póvoa uma actividade que deu início às festividades a Nossa Senhora do Pranto. Ela cumpriu estes dois objectivos: apresentar objectos mais orientados para a arte e objectos de carácter utilitário. Havia no caso desta exposição uma clara separação entre arte e artesanato, não perdendo porém importância uma em relação à outra. Não são raras as situações em que estabelecer a fronteira entre estas duas formas de criação humana, se torna uma difícil para não dizer impossível tarefa.
Subordinada ao tema Artes Plásticas/Artesanato e apresentação de poesia, esta inovadora iniciativa na nossa terra teve um sucesso que excedeu as mais remotas expectativas de todos nós! Foi notável o empenho, a determinação e a vontade posta ao serviço desta ideia por todos os participantes, no sentido de que tudo corresse da melhor forma possível. Não foi fácil, trabalhou-se muito, abdicou-se de alguns tempos de descanso, para que o nosso trabalho resultasse, para que o público gostasse e se sentisse bem entre as nossas pequenas obras de arte. Existia em cada peça um carinho muito especial que cada autor depositava nela durante a sua concepção e os visitantes deverão ter compreendido este nosso sentimento, mostrando-se curiosos, interessados e satisfeitos naquele espaço, o que foi a melhor compensação que poderíamos esperar!
O número de pessoas que por lá passou foi tão significativo, que quase se pode considerar um fenómeno. Não se pense que iam algumas pessoas mais sensibilizadas para este género de acontecimentos; bem pelo contrário, foi toda a gente, apareceram as famílias em peso, os adultos fizeram-se acompanhar pelas suas crianças, o que significa que esta gente encontrou neste evento motivo de interesse para si e para os seus, ou seja, encontrou nele o seu verdadeiro significado
No espaço previamente preparado para ela, foi possível ver trabalhos realizados com diferentes tecnologias: rendas, bordados, cestaria, trabalhos em verga, colchas produzidas em tear manual, cerâmicas e outros objectos similares, que nos fizeram recuar no tempo até tradições e gerações antigas. Enquadram-se neste contexto os trabalhos apresentados por: Augusta Jerónimo, Celeste Venâncio, Manuel de Oliveira, Otília Oliveira, Lucília Alves, Manuel Gonçalinho, Joaquina Gonçalinho, Nair e Irene Silva.
De carácter mais actual, mas de certo modo evocando os aspectos culturais da nossa terra foram apresentados trabalhos variados: pintura sobre tela representando objectos, arquitectura rural da nossa aldeia, trabalhos agrícolas flores, gravura sobre madeira, escultura, desenho, pintura sobre estanho e sobre tela com representações de retratos e de actividades agrícolas, pintura sobre azulejo e pratos cerâmicos cuja temática era arquitectura essencialmente e aves e ramagens. Nesta variante incluem-se Teresa Costa, uma artista autodidacta, que nos mostrou a todos nós como, representa bem as coisas e Celeste Gonçalinho de Oliveira que nutre este mesmo amor pela arte desde tenra idade e que apresentou um significativo conjunto de trabalhos; bons ou nem por isso, não me compete fazer essa apreciação. Também aqui incluo alguns trabalhos apresentados por Otília Oliveira: figuras da religiosidade popular com patines muito bem aplicadas.
De caris mais intelectual tivemos a apresentação de um livro de poemas de José Gonçalinho de Oliveira, (já falecido) o que muito nos honrou: Em primeiro lugar, por se tratar de uma figura nossa conterrânea, que contribuiu em diversos aspectos para melhorar a qualidade de vida na Póvoa no seu tempo, por ter desenvolvido uma área tão pouco comum entre a nossa gente(a poesia) e por ter contribuído para o enriquecimento da poesia portuguesa.
Para se ter a ideia da movimentação naquele espaço sobretudo no primeiro dia, no Sábado e no Domingo, como era eu que ali estava e ia falando com os visitantes sobre a exposição, tive alguma dificuldade em gerir o tempo para partilhar na mesa as refeições com a família ali reunida. Porém isto não me causou tristeza, mas antes uma grande alegria por ver o interesse com que a aquela gente olhava cada peça ali exposta.
Foi maravilhoso porque a proposta no início parecia a quase todos uma ideia utópica e sem rasoabilidade. Por isso houve alguma relutância em participar por parte de algumas pessoas. Com o amadurecimento da ideia, constatou-se um envolvimento generalizado e uma grande vontade de levar para a frente o projecto e mais pessoas teriam participado; não o fizeram por desconhecimento.
Sentia-se no início do povo e no cimo do lugar uma grande azáfama nos preparativos para esta exposição pois tivemos felizmente a preciosa colaboração de várias pessoas Neste sentido agradece-se ao senhor António ( técnico de obras de Juvandes) que colocou camarões no tecto e improvisou um extenso suporte para colocação dos trabalhos, agradece-se também a grande ajuda dispensada por Agostinho Jerónimo, mulher, filha e ainda ao senhor Aurélio pela oferta das madeiras, construção do grande cavalete e na montagem dos painéis de azulejo.
Valeu a pena, porque foi uma exposição à altura não de uma pequenina aldeia como a nossa, mas de uma terra com uma estrutura social e material muito superior.
Por tudo isto, pelo esforço empreendido para levar a bom termo esta iniciativa por parte da organização e participantes, pela boa qualidade dos trabalhos apresentados e pelo prazer que todos sentimos, a festa deste ano ficará na história da nossa terra não só mas também devido a este acontecimento.
A Póvoa está de parabéns!
Por fim vou citar uma frase de Maria da Conceição Gonçalinho “A Póvoa ficou imortalizada nestas pinturas que a retratam”. Eu acrescentaria: a exposição em geral imortalizou-a!!!

Celeste Gonçalinho de Oliveira Duarte

Cacém, 20 de Setembro de 2006

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