quinta-feira, abril 27, 2006

Nostalgia! (por Zé Macário)

Nostalgia!
Há dias, durante uma recolha de fundos para a organização das festas da Póvoa, passei pela eira de Pinheiro.
Reavivei recordações de infância e de juventude, perante uma eira absolutamente descaracterizada e dividida em pequenos talhões cultiváveis; perdera o bilhete de identidade aquela eira!
Embora térrea, fora em tempos a mais ampla eira da Póvoa e a mais atafulhada de medas de trigo centeio e cevada.
Também a fonte de pinheiro com a sua bica de "meia cana" de tronco de pinheiro, perdera a sua existência.
Existe aí, ainda algo conservada, a casa onde o Zé Meijinhos vivera e criara os seus dois filhos.
Este homem de sete ofícios, lenhador, serrador, agricultor, pastor, pedreiro, trolha, era também barbeiro.
Aos Domingos, pelo preço de um escudo – mil vezes menor do que o preço mais barato de hoje – passava grande parte do dia em casa, fazendo a "tosquia" e catando piolhos e lêndeas a velhos e novos, enquanto toda a gente punha as notícias em dia, ou se ria com uma anedota ou uma boa graçola, não sendo também despiciendas as estridentes gargalhadas da Arminda Pedra, capazes de acordar a aldeia inteira.
A "tosquia" era uma actividade herdada do Ti Russo que, casado em segundas núpcias com a Ti Inocência, fora viver para uma quintinha de Meijinhos, enquanto a sua descendência partira toda para os lados do Lousal.
Ao lado da casa do Zé Meijinhos, naquilo que fora a casa onde a Ti Libânia, sozinha ou quase, criara – com grandes dificuldades e muita fome – a sua ninhada de filhos, existem hoje silvas e salgueiros; perdera também o bilhete de identidade aquela casa que fora berço de numerosa prole, parte da qual minha companheira de escola e de namoricos.
Ainda cercando a eira por outro lado, está também uma casa de construção muito mais moderna, que, penso, ser ou ter sido de familiares da Ti Jacinta, e que, não tendo sido ainda descaracterizada, andava em obras de reconstrução – espero que lhes respeitem a traça original.
Pensando sobre tudo isto, dei por mim a tentar localizar memorialmente no lugar e no tempo, os espigueiros tão característicos daquela terra em certa época.
Consegui localizar três, e no lugar de um deles já existe uma garagem; penso que havia mais, porém a minha memória já não consegue sozinha localizar-se em absoluto.
Como eu gostava que tudo fosse reposto, e teríamos então quase uma aldeia – presépio!

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