terça-feira, dezembro 05, 2006

ARTE SACRA NA PÓVOA (Por Padre Assunção)



As pinturas do tecto da capela da Póvoa bem como a talha do altar mostram-nos figuras de anjos, entre outros motivos. No altar-mor é de facto impressionante o número de anjos. Um especialista de arte sacra poderá comentar a sua beleza, a linguagem comunicativa, a cor, o movimento, a antiguidade, a preciosidade, o enquadramento dentro de um estilo ou época, etc. Aí o conduzem os estudos, certamente fundamentados, adquiridos nessa área.
Consciente da minha condição de leigo nessa matéria, ou quando muito aprendiz, contactei já a Comissão de Arte Sacra Diocesana para avaliar e pré-orçamentar o projecto de intervenção em matéria de restauro por peritos reconhecidos por essa Comissão. Porém, não posso ocultar a minha crença nos anjos. E sem a crença prévia, temos que convir, faltaria a matéria para a iconografia. Aqui a ciência é outra, a teologia, e sinto mesmo o dever de elucidar, e porque não doutrinar, se é essa a minha missão de sacerdote, acerca do lugar que ocupam os anjos entre as nossas verdades da fé.
Não é assunto fácil de tratar em blogs, porque isso obrigaria a massacrar os leitores com questões muito profundas. E como a religião deve ser como o sal na comida, traçarei umas simples pinceladas de orientação, deixando evidente que não falta literatura sobre os anjos. Porque chamamos anjos ou arcanjos às pinturas do tecto da capela, e querubins ou serafins às esculturas do altar-mor?
O saber não ocupa lugar. Há dois estudiosos dos anjos a quem todos os posteriores foram beber como a uma fonte. São eles o Pseudo-Dionísio (um teólogo grego na transição do século IV para o V) e outro, S. Tomás de Aquino (teólogo e filósofo do século XII).
É o primeiro que divide pela primeira vez, em três ordens, a hierarquia dos anjos, partindo naturalmente de passagens bíblicas. Ficou clássica a sua “Angeologia”. O segundo, (1225-1274) autor de inúmeros escritos filosófico-teológicos, na sua obra fundamental “Summa Theologica” dedicou grande atenção aos anjos. Falou com tanta profundidade e soube exprimir-se de modo tão convincente que os seus contemporâneos lhe atribuíram mesmo o epíteto de “Doutor Angélico”.
Anjos são puros espíritos criados por Deus e a quem Ele reserva mensagens e intervenções no nosso mundo. “Angelos” vem do grego e significa “mensageiro”.
a)- À primeira ordem de coros, pertencem os serafins, os querubins o os tronos;
b)- Á segunda ordem (de hierarquia), as dominações, as virtudes e as potestades;
c)- À terceira ordem, os principados, os arcanjos e os anjos.
Os pertencentes à primeira ordem são os mais próximos de Deus, desempenhando funções junto do Pai. Daí, se colocarem os querubins e os serafins mais próximos dos sacrários ou do trono, onde se faziam as exposições solenes. A palavra serafim significa “adorador”, “o que se consome de amor por Deus”; os da segunda ordem na hierarquia são os que operam junto dos governos gerais do universo; os da terceira, são os que se encarregam dos caminhos das nações e dos homens. Estes, os anjos e os arcanjos, estão mais próximos dos homens. Aqui, se incluem o Anjo de Portugal ou o Anjo da Guarda de cada um.
Em síntese, a todos se designam por anjos (mensageiros de Deus) independentemente da sua hierarquia (funções e ministérios diversos), que não é tão importante como a sua essência. É S. Tomás de Aquino que afirma que “os anjos têm diferentes graus de sabedoria e de perfeição”.
Para terminar, porque o sermão já vai longo e corro o risco de o deixarem a meio, presto a minha afectuosa homenagem a todas as mães da Póvoa, que sem saberem muito de teologia livresca, ao longo de todos os tempos em que estiveram expostos estes anjos nesta capela, ensinaram aos seus filhos, com incomensurável amor e ternura, tudo aquilo que elas compreendiam e que no seu coração de mães intuíam. Junto com a paciência e o carinho, quantas preces ficaram por saber-se. Uma, certamente a adivinhamos: a intercessão de todos os anjos para que nunca os seus filhos deixassem de ser os mais felizes do mundo.
Hoje as crianças continuam a fazer-nos perguntas sobre temas de fé. Saberemos nós ensinar-lhes melhor que as nossas mães? Falta-nos provavelmente a “sabedoria do coração”.
É esta mais uma particularidade de uma capela única no seu recheio artístico. Vale bem a pena, como dizia o sr. Administrador do blog, estarmos atentos à sua conservação e restauro. Pode contar com o meu apoio.
P. Assunção
Vila Nova de Souto d’El-Rei, 5 de Dezembro de 2006.

2 comentários:

Anónimo disse...

Depois de muito pensar lá me resolvi vir também aqui dar um contributo a este blog. Não tenho jeito nenhum para estas coisas, mas como passo muito tempo a ler tudo o que aqui escrevem, achei que também devia aqui deixar o meu apoio a esta iniciativa.
Os meus parabéns por isso mesmo aos promotores deste espaço.
É com alguma frequência que visito este blog, e confesso que tenho ficado radiante pela qualidade de muitos escritos aqui publicados, assim como pelo muito que ultimamente tenho aprendido sobre a nossa aldeia. Há no entanto outros textos que os promotores deveriam excluir, tal a fraca qualidade dos mesmos. É que nem para rir dão, mesmo que os seus autores pensem que tiveram muita graça. Eeste é o meu entendimento (talvez uma situação a rever por parte do ou dos administradores do blog).
Aproveitei fazer aqui o meu comentário, também, para agradecer o muito que descobri nestes textos do Sr. Padre Assunção. Realmente eu era uma das pessoas que nunca me deu para apreciar em pormenor a beleza que existe na nossa capela. Obrigado por isso mesmo e espero continuar a ler aqui os seus textos, assim como os de todos os outros colaboradores, e felizmente são muitos os que nos despertam interesse.
Obrigado a todos vós.
ABC de admiração

JMOV disse...

Ao/A
ABC de admiração.
O nosso muito obrigado pelas suas visitas, bem como pelos seus incentivos a este maneira de divulgarmos a nossa terra.
Como deve calcular, este blog, foi criado por uma brincadeira, e até não estaria na melhor das expectativa dos criadores que o mesmo se mantivesse durante tanto tempo, com a vitalidade que tem tido. Devo informar, que até ao dia de hoje este blog conta com 113 textos publicados, (não contando com os comentários), 409 mailes recebidos respeitantes ao blog e à pagina e teve um total de 6100 visitas, enquanto que a página conta com um total de 5500 visitas. Penso que estes números, mesmo não sendo nada de extraordinário, revelam bem da aceitação e do carinho que as pessoas da Póvoa, ou pelo menos uma grande parte das que têm acesso a este tipo de comunicação, têm por este espaço. A todos também o nosso obrigado.
E vem isto a propósito, para lhe dizer o seguinte: As pessoas que até agora têm escrito, todas elas o fizeram, pelo muito que sente pela sua terra., e todas elas se expuseram à critica assinando por baixo.
Aceito que nem todos os textos aqui publicados mereçam as mesmas preferências, isso não seria normal, mas também tem de compreender que a responsabilidade desses mesmos textos é sempre a de quem assina por baixo. Também não são os administradores do blog que publicam os textos. Há várias pessoas a quem foi fornecida a chave para que possam colocar directamente os textos sem terem que enviar para os administradores. No entanto se entendermos que algum texto possa estar desajustado, logo que tenhamos conhecimento será eliminado. Esperamos que isso nunca possa acontecer., ou então não saberemos nós que “ a liberdade dos outros começa onde termina a nossa”
Já agora aproveito para o/a convidar a também aqui colocar mais vezes os seus pontos de vista, para nos ajudar a melhorar este espaço.
Muito obrigado pela sua participação.

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