terça-feira, dezembro 26, 2006

DA PÓVOA À LAPA (Por Padre Assunção)


DA PÓVOA À LAPA
Valores e tradições na Póvoa

Quem visita o blog da Póvoa-Lamego, procurará descortinar particularmente o que lhe é específico. E quanto maior for a sua identidade, mais valor terá a sua divulgação. Mesmo na hora da globalização, há tradições que têm a marca da Póvoa, ainda que não o sejam exclusivamente de cá.
A tradição genuína é sempre uma boa notícia. E aí está uma de muito valor que vale a pena divulgar. Caro visitador do blog, sabia que todos os anos é nomeado rotativamente um “Juiz” da Póvoa, outro de Juvandes e outro de Melcões para organizar uma romaria ao Santuário da Senhora da Lapa (concelho de Sernancelhe)?
Sua função é a de recrutar peregrinos das três povoações para irem pedir à Senhora a bênção para as suas gentes, para os animais, colheitas e nomeadamente a sua famosa castanha. Na obra de Gonçalves da Costa, “História do Santuário da Lapa” p.53, um historiador natural de Quintela de Penude, pode ler-se: “A origem de algumas das procissões de penitência radicava nas graças alcançadas por intercessão da Virgem especialmente eficazes na destruição da lagarta, que invadindo vinhas, searas, árvores de fruta e hortaliças lançava os pobres lavradores na miséria. Nos castanheiros tornava-se a perda mais sensível, num tempo em que o povo se alimentava, em parte do pão de farinha de castanha, as “falachas”.
A lagarta deixava a planta completamente despida de folhas, de modo que, a breve trecho, secava. Daí, terem as freguesias do vale do Balsemão e do Varosa recorrido ao poderoso auxílio da Senhora da Lapa, a clamar remédio para tamanha desgraça.
São documentadas por Aquilino Ribeiro no “homem da Nave” estas romarias, informando-nos de que os porta-estandartes das terras de soutos (aludindo a Penude e Magueija) ostentavam grandes rosários ao pescoço que lhes desciam até abaixo dos joelhos em que os padre-nossos eram representados por castanhas rebordonas e as avé-marias por castanhas de demanda.
Perguntar-se-á. Ainda terá sentido na era pós-moderna, alimentar e apoiar estas tradições? Então os pesticidas já não previnem todas as calamidades…? “O coração tem razões que a razão não compreende”, dizia Pascal. A religião é intrínseca ao homem e não está prisioneira do tempo ou de uma cultura determinada. “O homem necessita de Deus como do ar que respira”. Esta afirmação é de Alexis Carrel, um convertido e prémio Nobel de Medicina.
Concluo, pedindo emprestada a voz ao poeta José Gonçalinho, aqui nascido, porque ele perpetua o sentido das tradições e dá-lhes a forma de um monumento, ao recriar-lhes constantemente a verdade.
“ Faz-me poeta a natureza…”
“ Rezo em silêncio, enquanto as preces minhas
São como o debandar das andorinhas
Cortando o azul infindo pelo espaço…” (Extractos dos poemas “Sedução” e “Alminhas”)
P. Assunção

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