segunda-feira, dezembro 18, 2006

Fábrica da Igreja (por Padre Assunção)

FÁBRICA DA IGREJA?

Por várias vezes, me têm interrogado paroquianos e não só, sobre a razão de se designarem Fábricas das Igrejas aos Conselhos Económicos Paroquiais.
No caso da Paróquia de Vila Nova de Souto d’El-Rei, a título de exemplo, o seu número de identificação fiscal está em nome de “Fábrica da Igreja Paroquial de Vila Nova de Souto d’El-Rei”.
Então, vamos à origem. A Igreja Católica existe há cerca de 2000 anos, convém tê-lo presente, e no concílio realizado em Calcedónia em 451, (um dos 22 concílios ecuménicos já realizados), aparece pela primeira vez, nas suas actas, a expressão “fabricarum eclesiarum”, que foi sendo repetida em concílios posteriores e se tem mantido até hoje.
Quando o Imperador Teodósio decretou por “edito” (ano 310) que a Igreja Católica adquiria o estatuto de religião oficial do Estado, terminando a clandestinidade e a perseguição dos cristãos, começou o processo de construção de templos, espaços para a celebração do culto. A maioria foi edificada de raiz, ainda que algumas igrejas fossem adaptações de templos pagãos.
As sobras da construção, quer os materiais quer os dinheiros eram religiosamente guardados por uma comissão que se erigia para o efeito. Por vezes, guardavam numa casa pertencente à paróquia esses materiais da igreja acabada de edificar. Ainda nos nossos dias, há Paróquias onde existe a “Casa da Fábrica”.
O tempo faz com que as palavras sofram ora evoluções fonéticas, ora evoluções semânticas. É o caso da Fábrica da Igreja. Aqui verificou-se uma mudança de significado, uma evolução semântica. No princípio, referia-se apenas à edificação (fabricação), depois aplicou-se esta designação aos materiais sobrantes da Fábrica da Igreja. Finalmente, passou a designar-se Fábrica da Igreja à Comissão encarregada de zelar pelos bens económicos da Igreja. Hoje, as Comissões Fabriqueiras, a meu ver, deveriam denominar-se pura e simplesmente “Conselhos Económicos Paroquiais”.
Mas em qualquer repartição de finanças ou nas Conservatórias do Registo Civil, ainda não foi registado este último nome como oficial. Foram muitos os séculos a sedimentar e prolongar essa nomenclatura, em documentos legislativos. É bom, porém que saibamos, esclarecidamente, a que se refere esta entidade.
A Fábrica da Igreja, porque os seus fins não são lucrativos mas religiosos, estou certo de que nunca irá à falência. Constato por experiência própria que a larga generosidade dos fiéis excede em muito a constrangente justiça de pagamentos obrigatórios. Essa é também a actual e permanente “edificação da Igreja”, o sentir-se cada um uma “pedra viva”.
E já agora… Será possível avistar a chaminé dessa Fábrica? Trata-se de uma metáfora, supostamente. Apenas na eleição de um papa, quando da chaminé do Vaticano sai um fumo branco. A última vez que se acendeu, foi no dia 19 de Abril de 2005.
Um santo e feliz Natal para todos.
Vila Nova de Souto d’El-Rei, 19 de Dezembro de 2006
Padre Assunção

2 comentários:

Pedro disse...

De facto, não são poucas as vezes em que nos referimos a uma série de termos ser sabermos qual a sua verdadeira origem... E, convém lembrar que na língua portuguesa há muitas palavras cujo significado "ipsis verbis" não se coadugna de forma perfeita ao real significado que lhes concedemos...
Um Feliz Natal e continuação de muitos e interessantes artigos!

Anónimo disse...

Muitos parabéns, senhor Cón. Doutor Assunção, pelo seu trabalho.
É um privilégio poder privar quotidianamente com o senhor.
Muita paz no Senhor e em Sua Santa Mãe.
Seu admirador e amigo
João António
sacerdote

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