domingo, novembro 05, 2006

Histórias de Lamego ( por Zé Macário)


Decorriam os exames do 5º ano, julgo que do ano de 1963, no liceu nacional Latino Coelho em Lamego, quando o meu amigo Gil – rapaz de São João da Pesqueira – ao não se sentir bem preparado para o mesmo exame, resolveu, com dois dos seus irmãos – não sei se teria mais – resolveu, dizia eu, preparar e utilizar um engenhoso sistema de comunicações, através do qual pudesse com distinção fazer a respectiva prova.
Na alameda à frente do Liceu, os dois irmãos – mais velhos – munidos de um aparelho rádio de sua construção, cruzavam com o Gil - ligado a estes na sala de exames – perguntas e respostas, sem que ninguém se apercebesse da marosca; tão bem disfarçado estava o dito sistema.
Azar dos azares, e por pura coincidência, o senhor Costa, proprietário de uma papelaria naquela cidade cujos clientes eram principalmente estudantes, sintonizou o seu rádio na mesma frequência dos outros protagonistas desta história, captando as mensagens e, irritado, foi com o próprio rádio à sala de exames e ai denunciou o meu amigo Gil, que assim viu gorada toda a sua expectativa.
Porém ao Gil veio a ser dada a possibilidade de repetição de exames – que vieram a decorrer com êxito – porque este caso, que despertou paixões de deu brado nacional, gerou uma grande onda de solidariedade com o rapaz, essencialmente pela natureza pioneira da sua invenção.
O senhor Costa, objecto de repúdio e chacota pública, fechou a papelaria e emigrou para o Brasil, porque os estudantes deliberaram dar uma carecada a qualquer indivíduo que lá fosse encontrado a fazer compras.





A “Santa” de Lamego (por Zé Macário )


Estamos talvez por meados da década de cinquenta, quando em Lamego apareceu uma mulher, dita santa, com altos puderes milagreiros ou curativos e cuja acção mais conhecida, era aparecer a uma varanda um dia por semana, exibindo as mãos, de cujas palmas brotava sangue.
Ganhou fama nacional, e a esta cidade acorreu gente de todo o país na ânsia de milagrosas curas.
Dava consultas ou entrevistas particulares, não chegando no entanto para tanta gente que aqui acorria, e que tinha de contentar-se com o simples espectáculo da exibição das mãos, já de si suficiente para inúmeras curas.
Por aqui se manteve com a sua actividade durante bastante tempo, talvez um ano ou mais, não sei precisar.
De repente desaparecera sem deixar rasto, tendo voltado a esta cidade por meados da década de setenta, dizia-se que regressada do Brasil.
Aqui desenvolveu novamente a mesma actividade curativa e de exposição, e cá acorreu novamente gente do país inteiro, porém desta vez, só por curtos meses.
Voltou a desaparecer sem rasto.
Foram porém óptimas ocasiões para o comércio desta cidade, principalmente para os taxistas que em todo o lado faziam a difusão dos milagres da dita senhora.
Voltará um dia?
Se voltar, façam-na ingressar imediatamente no serviço nacional de saúde

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