quarta-feira, novembro 08, 2006

História e religião na Póvoa


(Outras notas curiosas)

1. Religião.
A capela da Póvoa é uma obra de arte em todo o seu conjunto. No entanto, é de salientar pela sua beleza, o retábulo do altar, em talha dourada que tem a marca dos mestres entalhadores da Igreja do Desterro, do 2.º período joanino (G. da Costa, vol.6, pág.17).
São de observar no seu interior, esculturas de querubins que uma máquina fotográfica digital há poucos dias colheu, pelas mãos de um professor do liceu Latino Coelho, o Dr. Giordano Ferreira e cujas fotos me acaba de oferecer, o que muito lhe agradeço. Ele próprio, um curioso atento das coisas de arte sacra, se deslumbrou pela raridade dessa decoração em altares.
Numa próxima oportunidade, enviarei para o site dos amigos da Povoa, as fotos aludidas sobre o altar e as pinturas do tecto. É que de tão habituados como estamos a ver as coisas, nem sempre as observamos bem e, por isso, não desfrutamos o que elas contêm de beleza e arte.

2. História.
Nos começos de século XVIII (1730), a Póvoa tinha 36 fogos e 123 almas (G. da Costa, vol.6, p.11) Na festa deste ano (2006), notou-se a recuperação da população que durante o ano se encontra espalhada por vários pontos do país. A capela encheu-se a abarrotar e a povoação apinhou-se de gente.
Mas o que é impressionante é que, como sendo significativamente pequeno o número de habitantes, em 1730, se faziam procissões entre a Sé e a capela da Póvoa durante todo o dia de 4 de Maio. Em 1718, por exemplo, uma decisão capitular documentada (dos senhores cónegos, membros do cabido da Catedral da Sé de Lamego) prevê a organização de uma procissão todos os anos no dia 4 de Maio em honra de Santa Cruz. De manhã, saía da Sé, passando pela capela do Espírito Santo, até à capela da Póvoa. E de tarde, regressava à Sé. Muita gente a acompanhava (G. da Costa, vol.5, p.171).
Porquê no dia 4 e não do dia 3 (festa de Santa Cruz)? Para não coincidir com a feira que se realizava nesse dia e ocupava muitos feirantes e estes cruzar-se-iam com os peregrinos, dificultando o ambiente de recolhimento que a procissão exigia.
P. Assunção
Póvoa, 9 de Novembro de 2006

1 comentário:

Anónimo disse...

É extraordinário ter conhecimento das práticas religiosas de há quase três séculos atrás: da devoção com que as levava a efeito aquela gente, da prioridade que lhes atribuia e da afluência em massa para cumprir os seus rituais de fé.
Estou encantada, porque gosto de conhecer o passado, ainda para mais, tratando-se de acontecimentos de interesse e relevância ocorridos na nossa aldeia.
A história é uma caixa de surpresas e para mim funciona como um enigma, que gosto de desvendar. Neste caso concreto e referindo-me naturalmente ao artigo do Sr. Doutor Assunção, proporcionou-me alegria, muita satisfação na medida em que me elucidou sobre aspectos memoráveis que me deixaram, perplexa no bom sentido do termo, mas ao mesmo tempo, um tanto desiludida, já que constato com tristeza, que tudo caiu em total desuso!
Porque não, encetar esforços no sentido de fazer renascer estas manifestações da nossa religiosidade popular?
Todos conhecemos esse lugar, que teima em revalidar as memórias do passado. Talvez por ter adquirido um estatuto de tal envergadura,terá sobrevivido e resistido, perdurando no tempo até aos nossos dias, na esperança de um recomeço pleno de vitalidade.
Sr. Doutor, gostei muito do seu artigo!
Obrigada por estar a "leccionar-nos" matérias do nosso interesse, já que se trata de assuntos relativos à nossa terra!

Celeste Gonçalinho

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