sexta-feira, dezembro 30, 2005

Votos de Bom Ano Novo

este final de 2005, desejo a todos os conterrâneos e suas famílias, votos de um final de ano feliz, e desejos de um 2006, cheio de alegrias, e a concretização de muitos sonhos.
Desejo, também estender estes meus votos, a todas as pessoas da Freguesia. (Juvandes, Arneiros e Lamelas).
Um desejo muito especial, para o Sr. Presidente da Junta.
Que o ano de 2005 termine da melhor maneira, e que o ano de 2006, seja realmente o ano de uma mudança, que se espera concretizadora, nas promessas, que só o foram e nunca passaram disso mesmo. Por isso mesmo, lhe desejo muita e boa saúde, assim como a toda a sua equipa, para que possam realmente realizar o que sabem muito bem os povos precisarem. Para todos um BOM ANO 2006.
Jorge Venancio

quarta-feira, dezembro 28, 2005

É NATAL, É NATAL!!! (por Teresa Paula Costa)

É Natal, É Natal!!Todos parecem anunciar o Natal sem saberem o que realmente simboliza.Paira no ar um ligeiro mau gosto e falta de personalidade.As ruas estão iluminadas, as casas preparam-se para receber talvez... não sei bem, se calhar alguém com falta de orientação!Em todas as casas se vê um gorducho de fato vermelho e barbas brancas a trepar pela chaminé, ou mesmo vários a subir por uma escada de corda em cada varanda de cada bloco de cimento.Há estrelas cintilantes, azuis, vermelhas e verdes, em cada janela, provavelmente compradas numa qualquer loja chinesa, e são muitas por esse país fora, tentando concorrer com a fachada do vizinho, esquecendo que é isso mesmo, apenas "fachada".Também há as mangueiras de todas as cores contornando as janelas, varandas e casas por inteiro, que parecem mais a anunciar o "cabaré da coxa", do que propriamente a chegada do Menino despido. Sim despido, despido de luxúria, de igoísmo, de egocentrismo, do consumismo desenfreado.É verdade, pois é, estou do contra.Não estou muito sensibilizada para este " espírito natalício". Não me apetece nada, mesmo nada, comprar uma prenda porque tem de ser, porque todos compram.Não.É verdade, não consegui. Ainda tentei. Embrenhar-me na multidão de gente que invade os centros comerciais num consumo desmedido, desnecessário e num nervosismo impaciente, com a pessoa que passa à frente na fila para os embrulhos dos presentes, ou com a senhora que ao sair do parque auto, deixou o carro ir a baixo e, quantas mais apitadelas, mais nervosa fica e mais difícil se torna pôr o carro a trabalhar, ou com a rapariga do café, com tanta gente para atender, não repara no senhor que já está há alguns minutos à espera tornando-se mal educado.Pois é. Não estou nada para aí virada. O que eu queria mesmo era passar o Natal na Póvoa!E porquê?! Na Póvoa tudo é mais simples.Com os miúdos enfeitavamos uma pequena árvore de Natal, bem ao gosto deles.Com alguns jornais faríamos o presépio, porque o que é preciso é imaginação e criatividade.Sentavamo-nos à lareira a ouvir o crepitar da lenha e com um pouco de sorte, iríamos brincar na neve que, ao que parece, e as gentes de lá dizem, nós é que a levamos.E à noite?! Acho lindíssimo o nevar à noite.Depois, claro, não podia faltar, assim dita a tradição, as rabanadas e filhoses à moda da família Costa, isto é, assim assim, mais ou menos, com todos a dar palpites e a pôr as mão na massa.E há lá coisa melhor do que ver o sorriso dos miúdos e o brilhozinho nos seus olhos, quando de manhã encontram no seu sapatinho um presente, mesmo que não seja aquele que mais desejassem.Claro que recebem prendas, eu não sou alucinada e sei que vivemos neste mundo. Eles veem televisão, conversam com os amigos e, porque tenho uma visão diferente não me acho no direito de lhes tirar esse prazer, quando eles ainda não têm capacidade de entender.Enfim.Seria o Natal como eu o sinto.Mas este ano não é possível, no entanto desejo a todos os Poveiros de coração um Feliz Natal e Bom Ano Novo e, que em cada tamanquinho surja a realização de um desejo.- Teresa Paula Costa
(20-12-2005 - 12:40:27 PM)

terça-feira, dezembro 20, 2005

BOAS FESTAS







Para todos que nos visitam
e em especial para os
da Póvoa e amigos,
Votos de um
Santo Natal e Próspero Ano Novo

sábado, dezembro 17, 2005

Novo endereço

A partir de agora poderá aceder à pagina através do seguinte endereço:

www.povoavilanovasoutodelrei.pt.la

Brevemente será disponibilizado novo album de fotografias.
Para aceder a estas terá de solicitar uma palavra passe.
Faça-o, clicando em "palavra passe clica aqui"
Posteriormente receberá uma palavra passe válida para visualizar.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Livre Pensamento em brisa leve (por Zé Macário)

Fui criado e educado, como a maioria de vós, com absorção e quase assimilação de uma espécie de ódio aos nossos primeiros pais ( Adão e Eva) por nos terem deixado - por sua desobediência - a maldita carga do pecado original. Querendo ver isto hoje por outra perspectiva, louvo-os por terem dado largas a sua cobiça e, desobedecendo, terem provado o fruto da árvore da vida( árvore do conhecimento do bem e do mal). Como seria monótona a vida no Paraíso Terreal, onde tudo existia e nada era necessário fazer, para obter a felicidade total! Tudo estava feito inventado e criado... Não fora tal desobediência e viriam necessariamente Adão e Eva a ser atacados pelo vírus da abulia, mercê de tanto tédio e fastio. Moldada em material nobre, Eva, frágil criatura (só um catorze avos da caixa torácica de Adão) deveria ser extremamente bela, pois era a primeira, e, portanto, obra prima do Criador.Quem seria então o "morcon" capaz de resistir aos apelos de tanto encanto; tanto mais que também ela deveria andar arrebatada - por idênticas razões - perante a visão do seu "Apolo"? Digam-me, quem seria capaz de resistir?... Pergunto até se, não será a cobiça - em vez de um pecado - um acto de louvor ao Criador? Quem criaria uma obra - prima - para não ser admirada e cobiçada? Não seria mesmo um grave pecado, não louvar o Criador, através da admiração e mesmo, cobiça e prova,da criatura? Não fazendo, nem por sombras, a apologia do furto, acho que a cobiça não é pecado.Pecado será o furto por causa da cobiça... Sei que havia ali (no Eden) uma limitação (proibição) não sabendo no entanto se estariam Adão e Eva avisados de que pairava sobre eles a vigilância do espírito do Criador; parece-me até de muito mau gosto esta ideia coscuvilheira orweliana ou carrilheira - como no caso do olho do Grande Irmão ou das câmaras de vídeo vigilância em Lisboa - de tentar surpreender e filmar pessoas distraidas e descontraidas a coçar o cu ou a tirar cagaitas do nariz. Foram surpreendidos em flagrante e castigados;mas porquê? Meu Deus, Porquê? Sim, são insondáveis os designíos do Senhor, porém, porque haveria o criador de querer privar a criatura, de fruto tão delicioso? Felizmente o Criador reconsiderou e, mandou que Alguém muito valoroso, se apresenta-se perante Si, como fiador e redimisse aquela divida/ofensa.E pronto, tudo está bem quando acaba bem. Sublimando a ideia de pecado original e da sua propagação, verificamos porém que, foi por causa dessa desobediência que hoje somos participantes no acto da criação, e que por isso mesmo, saboreamos em êxtase o manjar dos Deuses. A cobiça, sendo um sentimento subjectivo e secreto, poderá talvez ser incontrolável mas não tem obrigatoriamente de ser um sentimento negativo pois, por actos de sublimação,pode tornar-se num factor activo de progresso. Assim, ao nosso próximo, podemos cobiçar a casa, o carro e até salivar de desejo pela mulher; porém não devemos deixar que a cobiça seja objecto de usurpação,daquilo que é seu por direito próprio, mas antes, movimentar-nos para conseguir dotes iguais ou superiores àqueles. No que respeita à prova da árvore da vida, e que, tantas vezes - embora em momentos muito fugazes - nos faz extasiar, chegar ao céu e provar o tal manjar dos Deuses, podemos sempre, por actos de imaginação - como que por passes de magia - transformar a nossa água - se é que é água - no precioso líquido que imaginamos ser o "vinho" do vizinho; não sabemos mesmo se, quando o nosso par, nos afirma ter gostado imensamente dos nossos diospiros, não estava simplesmente com a imaginação nos pêssegos de outro pomar. Resumindo e concluindo: - Bendito pecado original! Comamos o fruto da árvore da vida e tentemos conservar - tal como Adão - aquele gostinho, na epiglote. Nunca acabem de engolir a maçã, porque assim o gosto dura mais tempo. Comam muita fruta! Sejam felizes! Bom Natal!

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Tradição e solidariedade

Como todos sabemos, a matança do porco na nossa terra foi no passado, um ritual, uma tradição de sobrevivência para as famílias que tinham assim as provisões mínimas de carne da salgadeira, banha, unto…assim como pá, presunto e enchidos. Estes últimos produtos eram porém “iguarias” que se guardavam “religiosamente” para presentear amigos, para colocar na mesa às visitas, para “pagar favores” e ainda para comer em família em dias especiais como no Carnaval ou partilhar com familiares vindos de fora.
À matança do porco seguia-se a função, uma refeição saborosíssima constituída por massa com “colada”, e sarrabulho simples ou com açúcar e banha, torresmos arroz de fígado; juntando-se à mesa toda a família.
As pessoas eram humildes, de fracos rendimentos, porém uns mais pobres que outros. Era então que se revelava o carácter solidário daquela gente.
Penso que era um costume na Póvoa, no dia da função distribuir generosamente parte dos alimentos a consumir nessa refeição pelos mais necessitados.
Na casa dos meus pais fazia-se um pote de arroz para nós e outro para dividir por essas pessoas. Após a confecção da comida, enchia-se um prato com tudo o que nessa refeição ia à nossa mesa e levava-se às referidas pessoas. Isto acontecia no Inverno e nem mesmo as gélidas temperaturas, as rajadas de vento ou chuva nos impediam de entregar aquela ceia nos lugares de destino…
Não nos esqueçamos, que, uma ceia assim, podia significar para aquelas famílias a diferença entre deitarem-se com o aconchego de uma boa refeição, ou irem para a cama com um caldo de batatas e couves, ou uma água de unto com umas côdeas de pão duro, que se ia poupando durante a semana; ou mesmo nem comerem mais nada até ao outro dia!
Penso que posso afirmar que na nossa terra há um certo espírito de solidariedade e digo isto porque me lembro que em alturas de maior” aperto” de trabalho: bessadas arranca, cegadas, malhadas…, as pessoas apareciam para ajudar nesses trabalhos do campo.
Para reforçar este princípio moral, que a todos nós nos toca, dou outro exemplo. O Sr. padre Manuel, meu tio, que abdicou de tudo aquilo a que tinha direito por herança, distribuindo esses bens pelos irmãos, pedindo porém que se ajudassem os mais pobres nas suas dificuldades; o que veio a ser feito. Não tendo nós a certeza, pensamos que essa ajuda foi dada em géneros alimentares e agasalhos.
Para terminar esta reflexão, destaco a minha tia Celeste que foi uma profissional competente no ensino tendo leccionado na nossa povoação, e noutras localidades do nosso concelho, e ainda em Angola. Hoje, já reformada, continuando com um espírito dinâmico e entusiasta sendo na minha opinião um ”motor de vida” na nossa pequena aldeia.
Disponibilizando parte do seu tempo, ela dinamiza e dá apoio aos rituais religiosos na nossa capela nos cânticos nas leituras… contribuindo assim para se manter a dignidade que esses momentos requerem. Ultimamente tem tido uma acção humanitária com pessoas idosas doentes, deslocando-se ao respectivo domicílio, dando apoio e orientando tarefas que visem melhorar o conforto desses doentes.
Há muitas formas de se ser solidário!...
E temos sem dúvida na terra quem nos dê o exemplo.

Celeste Gonçalinho Oliveira Duarte

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Malhadas do cereal em eiras de terra.

A debulha dos cereais na Póvoa de Lamego até aos anos 50, era feita por homens, em eiras de pedra ou de terra e chamavam-se malhadas.

Vou fazer a descrição, do processo de preparação para as malhadas duma eira de terra:
Tomem atenção nos pormenores que ela encerra.

Havia uma no cimo do povo,
outra no fundo
e fazê-las,
não era nada de outro mundo!

A do cimo,
chamava-se eira dos Rijos,
a do fundo, era eira do Pinheiro,
esta última, era quase do povo inteiro!

O terreno era plano,
de terra bem calcada,
arranjar matéria prima,
não custava mesmo nada!

Logo ao amanhecer,
as vacas iam para o pasto,
o excremento delas nas ruas,
era mesmo muito basto!

E lá íamos nós,
de balde na mão,
apanhar a bosta,
sem nenhuma hesitação!

Repetíamos esta tarefa várias manhãs,
não era brincadeira,
pois era preciso muita bosta,
para fazer uma eira!

A pequenada ficava contente,
de ver os montes de bosta no chão,
e os homens de pés descalços,
pisavam-na com animação!

Iam juntando água,
para a massa ficar fina e maleável
e se querem saber; tinha um aroma agradável!

Tinham uns utensílios de madeira chamados rodos,
com eles apanhavam e alisavam a massa,
para espanto de todos!

A bosta era bem dividida pelo terreno
e todos se reviam na obra feita,
com os derivados da erva e do feno!

Depois da massa espalhada,
na eira não se podia por pé,
por cada pegada deixada,
os artífices faziam banzé!

Brincar nessa eira, era caso arrumado!
pois era necessário, ficar bem seca,
para o cereal lá ser malhado!

Ficava muito dura,
que durante todo o dia,
os malhadores, bem podiam bater forte com os manguais,
que a obra não fendia!

Findas as malhadas,
a eira não ficava abandonada à solidão,
faziam nela os bailaricos
próprios da ocasião!

Sinto saudades,
ao recordar o passado,
mas é bom trabalhar,
mesmo que seja necessário as mãos sujar!

Venham visitar a Póvoa
que tem muito para ver,
seja em dia de festa
ou em dia de laser.

Lucília Alves

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Recordações por (Zé Macário)



C'um damonho!!... Era mesmo o mafarrico, aquele Ti Zé Diabo! Que se soubesse, nunca praticara qualquer culto, nunca fora à missa nunca fora bafejado-assim se pensava na aldeia - pelo espírito do bem. Quando metade do lavradio, por questões de pousio e pastoreio, passava a uma espécie de baldio comunitário, o Ti Zé Diabo recusava que nesse "baldio" fossem incluídas as suas leiras. Para tanto, sinalizava-as amontoando-as com pequenos montículos de terra, tornando-se assim o terror dos pastores que, tinham de tomar todos os cuidados para não sofrerem coimas, pelo facto de deixarem que alguma das suas rezes pisassem aquelas terras.Nunca aquela personagem fora muito fução no trabalho, porém, em família, parecia ser um santo homem. A sua esposa parecia uma fidalga, e as suas filhas gozavam de extrema liberdade.Matava porco e fazia "função"...Era engenhocas, inventor e tinha uma forja. Dizia-se que em tempos, fabricara moeda - de tostão- mas, que, cedo fora descoberto e terminara tal actividade. Inventara uma máquina de "abufar" à lareira - coisa rara!- para que a família não sofresse queimaduras pela aproximação às chamas. No princípio da década de 50 inventou uma máquina de fazer electricidade aproveitando a energia eólica.P'orriba da minha casa, na varanda da sua casa, plantou um pinheiro alto, encimado por uma ventoinha constituída por duas pás de lata - construção sua - com cerca de um metro cada; fez umas ligações a um velho dínamo - que alguém lhe trouxera da sucata - e deste, à sua casa, onde já houvera feito uma instalação eléctrica constituída por interruptores, tomadas e suportes de madeira - tudo de seu fabrico. Nunca obtivera a energia que ambicionava mas, durante dois anos, estorvou o sono dos vizinhos com o "basqueiro" daquela geringonça altaneira e irritante. Bem olhavam estes, lá p'arriba, com vontade de lhe escangalhar a maquineta, porém, ela estava instalada em propriedade sua, e na altura era desconhecida qualquer lei do ruído. Inventara mais tarde um moinho movido a energia "alcínica" e que viera a ter um final igual aos inventos anteriores.Pois bem, este homem, quando passava por mim, sendo eu garoto, passava-me a mão na cabeça e tinha para comigo sempre alguma demonstração afectiva - coisa rara nesses tempos, em que, nem os próprios pais podiam demonstrar afecto pelos filhos, pois, sendo preciso dar-lhes a "criação", era suposto falar com eles, sempre em gritaria ameaçadora e autoritária.Andava eu na escola primária, e, este homem, sem que eu lhe pedisse, fez-me um pião, com ferrão de encaixe - um luxo de pião e terror dos outros piões. Criamos amizade e ao longo da vida fez-me gratuitamente vários utensílios, tais como sachos e engaços. Dos brinquedos de garoto lembro-me de me fazer "baleiros" e principalmente um arco e flecha, que guardei religiosamente e que anos mais tarde serviu para acertar no cu, despido, do meu irmão mais novo, como castigo de uma qualquer patifaria.O homem de que vos falo, arrastou um pouco penosamente a sua velhice pelas ruas da aldeia, tendo sempre contado com a minha simpatia e, muitas vezes saldei as suas contas quando era a ele que competia pagar o petisco ou mais uma rodada de vinho para que fosse aceite inter pares, velhos da mesma idade.Tivera também um filho varão - muito esperto - que viera a ficar maneta, por motivo de acidente e viera a ser meu "professor" e de quem também, muito grato, guardo boas recordações. Seguindo a prática de seu pai, não era também muito de assistir a serviços religiosos, porém, e ao contrário daquele, muito diligente e trabalhador. Era no entanto dele a grafonola, de corda, que, pelos idos do final da segunda guerra mundial animava todos os bailaricos de fim-de-semana na eira dos Rijos.Deixem só que vos lembre mais um pequeno episódio:- Estamos em fins da década de 50 e processam-se em Arneirós uma série de oito ou quinze dias de sermões, protagonizados por três padres redentoristas vindos propositadamente do Porto. Dos púlpitos, estes padres pregavam assustadoramente o fim do mundo e a condenação eterna, vendendo ao mesmo tempo a salvação a quem lhes comprasse uns escapulários pretos, medalhas, pagelas e jaculatórias, todas carregadas de indulgências. Ninguém, absolutamente ninguém ficou indiferente a tal pregação. De tal forma foi importante que, até o maneta foi assistir a um dos últimos sermões.Comentava-se depois na aldeia, de forma admirada que os sermões haviam sido tão importantes que até tinham operado um milagre da conversão do maneta; pois até o maneta tivera receio de ir p'ro maneta sob ameaça castigadora daqueles aterradores sermões, com cenários ultradantescos. Porém, ao maneta, não conseguiram vender nenhum escapulário salvador, pagela, medalha ou jaculatória, e, que eu saiba, o maneta nunca foi condenado e acredito que há-de salvar-se como todos os outros. E aqui para nós, ele bem merece. Ele era, e é, também um Homem Bom. E que dizer, daquela gracinha de graça, a Tia Graça, que, de graça, tanto com ele engraçou??
Quinta-feira, 08 Dezembro, 2005

quinta-feira, dezembro 01, 2005

História da Póvoa (por Celeste Venâncio




Uma vez que a Póvoa está a acordar do seu sono hibernal, é bom que se saiba também alguma coisa sobre a sua história.
Situada no sopé do monte de Ufe, a Póvoa é uma pequena aldeia pertencente à freguesia de Vila Nova do Souto d’El-Rei, concelho de Lamego.
Por aqui, assim como em toda a freguesia, deixaram marcas vários povos antigos: Lusitanos, Celtas, Romanos, Suevos Visigodos e Muçulmanos.
A atestar o domínio dos Suevos e Visigodos (povos germanos) está, entre muitos outros, o nome precisamente pelo qual é designada o núcleo primitivo que deu origem à freguesia: Uma “Vila” ou propriedade rústica pertencente a um tal Maddo – vila Maddonis, nome germânico latinizado, que aparece já em documentos do sec. VII ou VI .
Nome de origem germânica (suevo-visigótica) é também o do monte de Ufe, situado a sul da nossa Póvoa. Segundo uma lenda popular, aqui teria morrido em combate um “mouro” com esse nome. Que “mouro” não podia ser, pois é muitos séculos anterior. Quando muito seria um guerreiro suevo ou visigodo de nome Wulf, morto possivelmente em luta contra os romanos. Mas também pode ser que o nome designe um sitio povoado de lobos – Wolf quer dizer lobo.
Mas a confirmar a passagem dos Mouros, por este lugar, temos o berço da moura, onde dizem ela ter embalado o seu baby, assim como o famoso moinho, onde ela moía os grãos de centeio que naquela zona cultivava, para seu sustento. (isto é apenas um aparte. Mas que aquele sitio vai ser provavelmente local de curiosidade, e nascimento de outras "estórias", isso vai)
Todos os lugares que hoje fazem parte da freguesia de Vila Nova do Souto d’El-Rei, excepto o de Lamelas que nessa altura fazia parte da freguesia de Penude, pertenciam no sec XII à Sé de Lamego.
Junto com o nome de Ajuvandes, aparece em documentos do sec.XIII o nome de Santa Cruz. Nome este de uma ermida com esta invocação, certamente anterior ao sec. XII, ao pé da qual se viria a formar uma pobra, quer dizer um “pequeno povo”, com esse mesmo nome de Santa Cruz, mas que posteriormente é chamado Póvoa. Esta ermida deve ter existido no mesmo sitio onde está hoje a capela da Póvoa (do sec XVII) no lugar ainda hoje conhecido por Santa Cruz.
Não obstante a aparente insignificância da actual capela da Póvoa – “ermida de Santa Cruz” ela gozava na Idade Média de uma certa aura e importância. O que se pode deduzir do facto de o bispo de Lamego, D. Gonçalo ter doado, em 1418, umas casas ao cabido da Sé, para este ir todos os anos à dita capela celebrar as festas da Invenção e Exaltação da Santa Cruz (3 de Maio e 14 de Setembro). Costume este que se manteve até ao fim do sec.XIX. Nestes dias segundo dizem os antigos, era costume irem em procissão desde a dita capela até ao cimo do monte de Ufe (até ao picoto).
Das “Inquisições” de D. Afonso III (1258) se deduz que a maior parte das terras de Santa Cruz (Póvoa) eram “reguengas”, quer dizer, do senhorio do rei e andavam aforadas a certas “fogueiras” de Lamego e seu termo. Diziam-se “fogueiras” grandes casais cujos proprietários (ditos cabeceies ou cabeças de fogueira) eram obrigados a pagar ao rei ou ao senhor da terra determinado foro, geralmente em géneros.
A capela de Santa Cruz - hoje de Nª Sº do Pranto - no lugar da Póvoa (do sec.XVII) possui um belíssimo retábulo barroco, em talha dourada (mas da qual o douramento desapareceu quase por completo).
Na Póvoa, no sitio das Ribas, assente sobre um enorme penedo, ergue-se o chamado “Cruzeiro dos Centenário”, levantado em 1940, por ocasião do terceiro centenário da fundação e independência de Portugal. (Faz hoje precisamente 365 anos)
A população, gente simples, humilde e hospitaleira, vivia da agricultura e criação de gado. Hoje não temos quem trabalhe as terras; as pessoas estão velhas e cansadas e os novos vão procurando outros lugares onde a vida lhes sorria e lhes proporcione melhores condições.
No entanto, estes últimos anos, tem-se notado algum progresso. Já se construíram algumas casas novas e outras foram reconstruídas, sinal que “os bons filhos à casa voltam”.
É bom que outros sigam estes exemplos. E tu, se andas stressado e precisas de descanso, vem até esta pequena aldeia gozar da sua paz e sossego, beneficiando ainda do seu ar puro e das suas águas refrescantes.

Recordações (por Zé Macário)

Subiu ao Calvário, entrou na tumba, jaz morta e arrefecida, no sopé do monte Dufe, a caminheta do Ti Setenta. Como eu me lembro daquela caminheta a gasolina que carregaria, talvez cerca de cinco toneladas, adquirida em segunda mão já muito velhinha, pelo Ti Setenta, em sociedade com o seu genro! Mereceria ainda agora ser descoberta no seu túmulo, pelos arqueólogos, reconstituída e, erigida à categoria de monumento nacional, tais foram os momentos de prazer e glória que tal carro proporcionou às nossas infâncias. Ali, no Calvário, sopé do monte, éramos donos do mundo que imaginávamos grande, ao volante daquele carro, em que, parados fazíamos as maiores viagens sem sair dum sítio, e também as maiores patifarias, dignas de crónica de bons malandros. Enquanto "vivera", aquela caminheta e tendo por donos aquela dupla, nunca teve no seu estômago combustível para mais de cinco quilómetros. Quando lhe faltava a força do combustível, deslocava-se o genro à aldeia mais próxima afim de conseguir que umas juntas de bois deslocassem aquele carro até à bomba de gasolina mais próxima. Encantava-nos ver a zanga quase diária entre aqueles dois sócios pela falta de gasolina, ao ponto de, no calor duma dessas zangas, o sogro ter botado uma "bitcha" (lombriga) pelo nariz, tal fora o estado de nervos do pobre homem. Não havia no entanto zangas que não se acalmassem facilmente afogadas em dois copos de vinho tinto, ainda que, uma zurrapa de Meijinhos. Do genro - que homenageio como a melhor pessoa do mundo - lembro, que este homem mais tarde, já a viver em Lisboa como simples ajudante de motorista, arranjava aqui emprego para todos os conterrâneos que para tal se lhe dirigiam, em tempo de grandes necessidades. Recordo com algum remorso quando ainda na Póvoa, um dia, à tardinha, eu, escondido no cedro do cemitério, fazendo gemidos de alma do outro mundo, o obriguei a fugir do trabalho na Tapada do Cão, para casa, arrepiado de medo. Nunca este homem se esqueceu disto, até ao fim da sua vida; e sempre que se encontrava comigo em Lisboa - e era muito frequente - apresentava-me aos colegas, com toda a graça, como o homem que em miúdo lhe havia feito borrar as calças em nome das almas do além. Povoa também ainda as minhas memórias, o pai deste homem, que ainda conheci, já velho ancião, e que personificava em si só, o "CONSELHO DOS HOMENS BONS" no tempo em que na Póvoa habitava ainda muita gente. Sempre que havia dúvidas sobre a passagem de um caminho, de um rego, ou da propriedade do dia de uma água, toda a gente se submetia à sentença lúcida daquele sábio, de nome Manuel Luís, que mantinha na ordem aquele povo, pela força da sua palavra e da sua honra. Nas suas sentenças, conselhos, ou simples sugestões - não sei bem - começava assim: - Oh Rapazes!...- Fazia uma pausa. Apelava à sua remota memória empírica e, continuava: - Tal tal, tal tal, tal tal,...- Estava ditada a sentença e toda a gente se submetia, sem mais discussões alegre e contente por seguir o caminho da "dreitura".Do Ti Setenta - que era um self made man - retêm-se as mais engraçadas memórias:- Teria sido chaufeur de fidalgas e marquesas e teria corrido mundo; fora acompanhante de circos, eu sei lá!...Fazia espectáculo onde quer que se encontrasse, quer em truques de cartas, que nos deixavam boquiabertos, quer em malabarismos vários, em que se destacavam ser capaz de "roubar" as cuecas ou a camisa a qualquer um que estivesse distraído, ainda que com as calças ou o casaco vestidos, e sem que estas peças se deslocassem. Era exímio a fazer aparecer e desaparecer bolas, e , nas cartas, ninguém o batia no jogo da vermelhinha. Em tempos idos, fora caçador. E eram de graça tamanha os diálogos que mantinha com o seu pequeno cão, de nome Ribolim.Quando via uma lura (toca), chamava o cão assim: - Ribolim!...Bôtcho, bôtcho, bôtcho!...Tcheira aqui nesta lura e vê se está aqui coelho?! - O cão, pequenino, amarelo com uma malha branca por baixo do pescoço, era também ele um malabarista. Como nós nos empolgávamos mutuamente a imitar estes diálogos e estas vivências.

Quinta-feira, 01 Dezembro, 2005

Povoa já tem página na net

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A todos os que têm contribuído com textos para o blog (e tem sido muita gente), o nosso muito obrigado

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