quinta-feira, dezembro 15, 2005

Livre Pensamento em brisa leve (por Zé Macário)

Fui criado e educado, como a maioria de vós, com absorção e quase assimilação de uma espécie de ódio aos nossos primeiros pais ( Adão e Eva) por nos terem deixado - por sua desobediência - a maldita carga do pecado original. Querendo ver isto hoje por outra perspectiva, louvo-os por terem dado largas a sua cobiça e, desobedecendo, terem provado o fruto da árvore da vida( árvore do conhecimento do bem e do mal). Como seria monótona a vida no Paraíso Terreal, onde tudo existia e nada era necessário fazer, para obter a felicidade total! Tudo estava feito inventado e criado... Não fora tal desobediência e viriam necessariamente Adão e Eva a ser atacados pelo vírus da abulia, mercê de tanto tédio e fastio. Moldada em material nobre, Eva, frágil criatura (só um catorze avos da caixa torácica de Adão) deveria ser extremamente bela, pois era a primeira, e, portanto, obra prima do Criador.Quem seria então o "morcon" capaz de resistir aos apelos de tanto encanto; tanto mais que também ela deveria andar arrebatada - por idênticas razões - perante a visão do seu "Apolo"? Digam-me, quem seria capaz de resistir?... Pergunto até se, não será a cobiça - em vez de um pecado - um acto de louvor ao Criador? Quem criaria uma obra - prima - para não ser admirada e cobiçada? Não seria mesmo um grave pecado, não louvar o Criador, através da admiração e mesmo, cobiça e prova,da criatura? Não fazendo, nem por sombras, a apologia do furto, acho que a cobiça não é pecado.Pecado será o furto por causa da cobiça... Sei que havia ali (no Eden) uma limitação (proibição) não sabendo no entanto se estariam Adão e Eva avisados de que pairava sobre eles a vigilância do espírito do Criador; parece-me até de muito mau gosto esta ideia coscuvilheira orweliana ou carrilheira - como no caso do olho do Grande Irmão ou das câmaras de vídeo vigilância em Lisboa - de tentar surpreender e filmar pessoas distraidas e descontraidas a coçar o cu ou a tirar cagaitas do nariz. Foram surpreendidos em flagrante e castigados;mas porquê? Meu Deus, Porquê? Sim, são insondáveis os designíos do Senhor, porém, porque haveria o criador de querer privar a criatura, de fruto tão delicioso? Felizmente o Criador reconsiderou e, mandou que Alguém muito valoroso, se apresenta-se perante Si, como fiador e redimisse aquela divida/ofensa.E pronto, tudo está bem quando acaba bem. Sublimando a ideia de pecado original e da sua propagação, verificamos porém que, foi por causa dessa desobediência que hoje somos participantes no acto da criação, e que por isso mesmo, saboreamos em êxtase o manjar dos Deuses. A cobiça, sendo um sentimento subjectivo e secreto, poderá talvez ser incontrolável mas não tem obrigatoriamente de ser um sentimento negativo pois, por actos de sublimação,pode tornar-se num factor activo de progresso. Assim, ao nosso próximo, podemos cobiçar a casa, o carro e até salivar de desejo pela mulher; porém não devemos deixar que a cobiça seja objecto de usurpação,daquilo que é seu por direito próprio, mas antes, movimentar-nos para conseguir dotes iguais ou superiores àqueles. No que respeita à prova da árvore da vida, e que, tantas vezes - embora em momentos muito fugazes - nos faz extasiar, chegar ao céu e provar o tal manjar dos Deuses, podemos sempre, por actos de imaginação - como que por passes de magia - transformar a nossa água - se é que é água - no precioso líquido que imaginamos ser o "vinho" do vizinho; não sabemos mesmo se, quando o nosso par, nos afirma ter gostado imensamente dos nossos diospiros, não estava simplesmente com a imaginação nos pêssegos de outro pomar. Resumindo e concluindo: - Bendito pecado original! Comamos o fruto da árvore da vida e tentemos conservar - tal como Adão - aquele gostinho, na epiglote. Nunca acabem de engolir a maçã, porque assim o gosto dura mais tempo. Comam muita fruta! Sejam felizes! Bom Natal!

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