quinta-feira, dezembro 01, 2005

História da Póvoa (por Celeste Venâncio




Uma vez que a Póvoa está a acordar do seu sono hibernal, é bom que se saiba também alguma coisa sobre a sua história.
Situada no sopé do monte de Ufe, a Póvoa é uma pequena aldeia pertencente à freguesia de Vila Nova do Souto d’El-Rei, concelho de Lamego.
Por aqui, assim como em toda a freguesia, deixaram marcas vários povos antigos: Lusitanos, Celtas, Romanos, Suevos Visigodos e Muçulmanos.
A atestar o domínio dos Suevos e Visigodos (povos germanos) está, entre muitos outros, o nome precisamente pelo qual é designada o núcleo primitivo que deu origem à freguesia: Uma “Vila” ou propriedade rústica pertencente a um tal Maddo – vila Maddonis, nome germânico latinizado, que aparece já em documentos do sec. VII ou VI .
Nome de origem germânica (suevo-visigótica) é também o do monte de Ufe, situado a sul da nossa Póvoa. Segundo uma lenda popular, aqui teria morrido em combate um “mouro” com esse nome. Que “mouro” não podia ser, pois é muitos séculos anterior. Quando muito seria um guerreiro suevo ou visigodo de nome Wulf, morto possivelmente em luta contra os romanos. Mas também pode ser que o nome designe um sitio povoado de lobos – Wolf quer dizer lobo.
Mas a confirmar a passagem dos Mouros, por este lugar, temos o berço da moura, onde dizem ela ter embalado o seu baby, assim como o famoso moinho, onde ela moía os grãos de centeio que naquela zona cultivava, para seu sustento. (isto é apenas um aparte. Mas que aquele sitio vai ser provavelmente local de curiosidade, e nascimento de outras "estórias", isso vai)
Todos os lugares que hoje fazem parte da freguesia de Vila Nova do Souto d’El-Rei, excepto o de Lamelas que nessa altura fazia parte da freguesia de Penude, pertenciam no sec XII à Sé de Lamego.
Junto com o nome de Ajuvandes, aparece em documentos do sec.XIII o nome de Santa Cruz. Nome este de uma ermida com esta invocação, certamente anterior ao sec. XII, ao pé da qual se viria a formar uma pobra, quer dizer um “pequeno povo”, com esse mesmo nome de Santa Cruz, mas que posteriormente é chamado Póvoa. Esta ermida deve ter existido no mesmo sitio onde está hoje a capela da Póvoa (do sec XVII) no lugar ainda hoje conhecido por Santa Cruz.
Não obstante a aparente insignificância da actual capela da Póvoa – “ermida de Santa Cruz” ela gozava na Idade Média de uma certa aura e importância. O que se pode deduzir do facto de o bispo de Lamego, D. Gonçalo ter doado, em 1418, umas casas ao cabido da Sé, para este ir todos os anos à dita capela celebrar as festas da Invenção e Exaltação da Santa Cruz (3 de Maio e 14 de Setembro). Costume este que se manteve até ao fim do sec.XIX. Nestes dias segundo dizem os antigos, era costume irem em procissão desde a dita capela até ao cimo do monte de Ufe (até ao picoto).
Das “Inquisições” de D. Afonso III (1258) se deduz que a maior parte das terras de Santa Cruz (Póvoa) eram “reguengas”, quer dizer, do senhorio do rei e andavam aforadas a certas “fogueiras” de Lamego e seu termo. Diziam-se “fogueiras” grandes casais cujos proprietários (ditos cabeceies ou cabeças de fogueira) eram obrigados a pagar ao rei ou ao senhor da terra determinado foro, geralmente em géneros.
A capela de Santa Cruz - hoje de Nª Sº do Pranto - no lugar da Póvoa (do sec.XVII) possui um belíssimo retábulo barroco, em talha dourada (mas da qual o douramento desapareceu quase por completo).
Na Póvoa, no sitio das Ribas, assente sobre um enorme penedo, ergue-se o chamado “Cruzeiro dos Centenário”, levantado em 1940, por ocasião do terceiro centenário da fundação e independência de Portugal. (Faz hoje precisamente 365 anos)
A população, gente simples, humilde e hospitaleira, vivia da agricultura e criação de gado. Hoje não temos quem trabalhe as terras; as pessoas estão velhas e cansadas e os novos vão procurando outros lugares onde a vida lhes sorria e lhes proporcione melhores condições.
No entanto, estes últimos anos, tem-se notado algum progresso. Já se construíram algumas casas novas e outras foram reconstruídas, sinal que “os bons filhos à casa voltam”.
É bom que outros sigam estes exemplos. E tu, se andas stressado e precisas de descanso, vem até esta pequena aldeia gozar da sua paz e sossego, beneficiando ainda do seu ar puro e das suas águas refrescantes.

2 comentários:

Anónimo disse...

Recordações por Zé Macário
C'um damonho!!... Era mesmo o mafarrico, aquele Ti Zé Diabo! Que se soubesse, nunca praticara qualquer culto, nunca fora à missa nunca fora bafejado-assim se pensava na aldeia- pelo espírito do bem.
Quando metade do lavradio, por questões de pousio e pastoreio, passava a uma espécie de baldio comunitário, o Ti Zé Diabo recusava que nesse "baldio" fossem incluidas as suas leiras.Para tanto, sinalizava-as amontoando-as com pequenos montículos de terra, tornando-se assim o terror dos pastores que, tinham de tomar todos os cuidados para não sofrerem coimas, pelo facto de deixarem que alguma das suas rezes pisassem aquelas terras.
Nunca aquele personagem fora muito fução no trabalho, porém, em família, parecia ser um santo homem.A sua esposa parecia uma fidalga, e as suas filhas gozavam de extrema liberdade.
Matava porco e fazia "função"...Era engenhocas, inventor e tinha uma forja. Dizia-se que em tempos, fabricara moeda- de tostão- mas, que, cedo fora descoberto e terminara tal activadade.Inventara uma máquina de "abufar" à lareira - coisa rara!- para que a família não sofresse queimaduras pela aproximação às chamas. No princípio da década de 50 inventou uma máquina de fazer electricidade aproveitando a energia eólica.
P'orriba da minha casa, na varanda da sua casa, plantou um pinheiro alto, encimado por uma ventoinha constituida por duas pás de lata - construção sua - com cerca de um metro cada; fez umas ligações a um velho dínamo - que alguém lhe trouxera da sucata - e deste, à sua casa, onde já houvera feito uma instalação electrica constituida por interruptores, tomadas e suportes de madeira - tudo de seu fabrico.
Nunca obtivera a energia que ambicionava mas, durante dois anos, estorvou o sono dos vizinhos com o "basqueiro" daquela geringonça altaneira e irritante. Bem olhavam estes, lá p'arriba, com vontade de lhe escangalhar a maquineta, porém, ela estava instalada em propriedade sua, e na altura era desconhecida qualquer lei do ruído.Inventara mais tarde um moinho movido a energia "alcínica" e que viera a ter um final igual aos inventos anteriores.
Pois bem, este homem, quando passava por mim, sendo eu garoto, passava-me a mão na cabeça e tinha para comigo sempre alguma demonstração afectiva - coisa rara nesses tempos, em que, nem os próprios pais podiam demonstrar afecto pelos filhos, pois, sendo preciso dar-lhes a "criação", era suposto falar com eles, sempre em gritaria ameaçadora e autoritária.
Andava eu na escola primária, e, este homem, sem que eu lhe pedisse, fez-me um pião, com ferrão de encaixe - um luxo de pião e terror dos outros piões.Criamos amizade e ao longo da vida fez-me gratuitamente vários utensílios, tais como sachos e engaços.
Dos brinquedos de garoto lembro-me de me fazer "baleiros" e principalmente um arco e flecha, que guardei religiosamente e que anos mais tarde serviu para acertar no cu, despido, do meu irmão mais novo,como castigo de uma qualquer patifaria.
O homem de que vos falo, arrastou um pouco penosamente a sua velhice pelas ruas da aldeia, tendo sempre contado com a minha simpatia e, muitas vezes saldei as suas contas quado era a ele que competia pagar o petisco ou mais uma rodada de vinho para que fosse aceite interpares, velhos da mesma idade.
Tivera também um filho varão - muito esperto - que viera a ficar maneta, por motivo de acidente e viera a ser meu "professor" e de quem também, muito grato, guardo boas recordações. Seguindo a prática de seu pai, não era também muito de assistir a serviços religiosos, porém, e ao contrário daquele, muito deligente e trabalhador. Era no entanto dele a grafonola, de corda, que, pelos idos do final da segunda guerra mundial animava todos os bailaricos de fim de semana na eira dos Rijos.
Deixem só que vos lembre mais um pequeno episódio:
- Estamos em fins da década de 50 e processam-se em Arneirós uma série de oito ou quinze dias de sermões, protagonizados por três padres redentoristas vindos prepositadamente do Porto. Dos púlpitos, estes padres pregavam assustadoramente o fim do mundo e a condenação eterna, vendendo ao mesmo tempo a salvação a quem lhes comprasse uns escapulários pretos, medalhas, pagelas e jaculatórias, todas carregadas de indulgências. Ninguém, absolutamente ninguém ficou indiferente a tal pregação. De tal forma foi impotante que, até o maneta foi assistir a um dos últimos sermões.
Comentava-se depois na aldeia, de forma admirada que os sermões haviam sido tão importantes que até tinham operado um milagre da conversão do maneta; pois até o maneta tivera receio de ir p'ro maneta sob ameaça castigadora daqueles aterradores sermões, com cenários ultradantescos.Porém, ao maneta, não conseguiram vender nenhum escapulário salvador, pagela, medalha ou jaculatória, e, que eu saiba, o maneta nunca foi condenado e acredito que há-de salvar-se como todos os outros.E aqui para nós, ele bem merece.Ele era, e é, também um Homem Bom.E que dizer, daquela gracinha de graça, a Tia Graça, que, de graça, tanto com ele engraçou??

Anónimo disse...

A ideia de publicar a História da nossa povoação não só foi adequadissíma
como exlente, já que é uma peça fundamental que enriquce o nosso
conhecimento àcerca do seu passado e dos factos que aí ocorreram;permitindo-nos assim um melhor entendimento de quem somos e
orgulhosos disso, nos esforçarmos por dignificar e dar continuidade à nossa
terra,para que a sua existência prossiga e um dia também ela possa
orgulhar-se de nós!...

Celeste Gonçalinho

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