sexta-feira, dezembro 09, 2005

Malhadas do cereal em eiras de terra.

A debulha dos cereais na Póvoa de Lamego até aos anos 50, era feita por homens, em eiras de pedra ou de terra e chamavam-se malhadas.

Vou fazer a descrição, do processo de preparação para as malhadas duma eira de terra:
Tomem atenção nos pormenores que ela encerra.

Havia uma no cimo do povo,
outra no fundo
e fazê-las,
não era nada de outro mundo!

A do cimo,
chamava-se eira dos Rijos,
a do fundo, era eira do Pinheiro,
esta última, era quase do povo inteiro!

O terreno era plano,
de terra bem calcada,
arranjar matéria prima,
não custava mesmo nada!

Logo ao amanhecer,
as vacas iam para o pasto,
o excremento delas nas ruas,
era mesmo muito basto!

E lá íamos nós,
de balde na mão,
apanhar a bosta,
sem nenhuma hesitação!

Repetíamos esta tarefa várias manhãs,
não era brincadeira,
pois era preciso muita bosta,
para fazer uma eira!

A pequenada ficava contente,
de ver os montes de bosta no chão,
e os homens de pés descalços,
pisavam-na com animação!

Iam juntando água,
para a massa ficar fina e maleável
e se querem saber; tinha um aroma agradável!

Tinham uns utensílios de madeira chamados rodos,
com eles apanhavam e alisavam a massa,
para espanto de todos!

A bosta era bem dividida pelo terreno
e todos se reviam na obra feita,
com os derivados da erva e do feno!

Depois da massa espalhada,
na eira não se podia por pé,
por cada pegada deixada,
os artífices faziam banzé!

Brincar nessa eira, era caso arrumado!
pois era necessário, ficar bem seca,
para o cereal lá ser malhado!

Ficava muito dura,
que durante todo o dia,
os malhadores, bem podiam bater forte com os manguais,
que a obra não fendia!

Findas as malhadas,
a eira não ficava abandonada à solidão,
faziam nela os bailaricos
próprios da ocasião!

Sinto saudades,
ao recordar o passado,
mas é bom trabalhar,
mesmo que seja necessário as mãos sujar!

Venham visitar a Póvoa
que tem muito para ver,
seja em dia de festa
ou em dia de laser.

Lucília Alves

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