domingo, fevereiro 04, 2007

Terra do nosso encanto



Quando penso na aldeia da Póvoa, no meu pensamento, ela transcende em muito os limites de uma pura relíquia do passado.
Foi por excelência o modesto berço que nos embalou e nos acarinhou; foram nossos infantários os seus rudes caminhos e as eiras repletas de medas de cereal, onde sem recurso a educadores, a livros, a um espaço confinado a quatro paredes, sem horários e formalidades a cumprir, aprendemos em liberdade as regras da vida, tendo como modelos inequívocos os nossos pais e as suas duras actividades, que, eram o garante do nosso sustento.
Ali tiveram lugar os nossos mais inocentes sonhos, as esperanças que vieram a concretizar-se e também as que sem consistência, pereceram na sua caminhada, mas permanecem como luzes de presença no nosso espírito.
Ontem como hoje, mantém um perfil sempre fiel, mostrando ao mundo um certo negrume em sua “face” e nas velhas e austeras paredes, profundas marcas que o tempo lhes foi infligindo.
Digamos que esta terra não se apresenta com “pompa e circunstância” se considerarmos o ponto de vista meramente urbano. Pelo contrário, ela quase toca a estética medieva. Aqui permanece um intimismo pleno, uma tranquilidade inalterável e simultaneamente um singular sopro de ar novo, que discretamente desponta e configura um novo conceito de modernidade. Provam-no, cada palheiro ao qual foi restituída a verdadeira dignidade, cada habitação que ao definhar na sua própria ruína, se ergue gloriosa dos seus escombros mantendo a sua traça primitiva.
Sem dúvida, esta nossa terra mexe no mais íntimo de nós, activa as nossas emoções e eleva o nosso ego !
Mas, tal como as aves do céu a dada altura deixam o ninho aventurando-se no imenso espaço à sua volta, também nós um dia deixámos o berço que nos adormeceu, partimos na mesma aventura que todas as criaturas da terra empreendem. Contudo, esta decisão não terá sido nunca fácil nem o será provavelmente para ninguém. Assim, deixar a terra - mãe, significa antes de mais uma despedida emocionada e a promessa de jamais a esquecer e como bom filho, a casa regressar.

Celeste Gonçalinho Oliveira Duarte

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