quinta-feira, novembro 17, 2005

Um reconhecimento sentido

Quantos de nós passámos parte da nossa infância na extinta escola da Póvoa, na altura “Posto Escolar Misto da Póvoa”, dando dores de cabeça e fazendo aquelas maldades inocentes próprias da infância, à nossa professora, a tia Lucília?!... E quantos anos passaram já sobre a data do nosso aparatoso exame de 4ª classe, em que nos saiamos tão bem ou melhor que muitos alunos de outras escolas?!..porém, para se chegar a estes resultados foi necessário dedicação e empenho de quem tinha a responsabilidade pelas nossas aprendizagens. Crianças como éramos, o que queríamos era brincar e em casa, poucos podiam contar com o apoio dos pais, já que muitos deles não tiveram o privilégio de ir à escola. A vida naquele tempo era particularmente difícil para todos: a pobreza era uma constante naquele meio, logo a instrução não se considerava uma prioridade; pelo contrário, era preciso trabalhar duramente para aguentar o escasso rendimento familiar. Com esta mentalidade é fácil perceber a razão da falta de envolvimento/apoio dos nossos pais na nossa progressão escolar.
Tenho presente na minha memória aqueles dias de preparação exaustiva para o exame que se aproximava: os fins de tarde que por vezes se prolongavam até depois da ceia, passados em sua casa, na cozinha e à sua volta; como uma ninhada de pintos sob a protecção da mãe galinha!...
Ali estávamos concentrados nas contas, nos problemas, na leitura que tinha de ser corrente e expressiva, na História de Portugal repetida de “cabo a rabo” da 1ª à 4ª dinastias, sem esquecer as Ciências e a Geografia, nesta última rios, serras, províncias, linhas férreas etc., tudo bem sabido. E tudo isto porque segundo ela ainda hoje diz, sempre valorizou o saber. Além disso, ver os seus alunos regressar do exame com um sorriso” de orelha a orelha” inchados de orgulho, dava-lhe uma alegria imensa.
Não esqueci também o trabalho que teve a ensinar-nos nas aulas, numa escola sem o mínimo de condições como todos sabemos.
E agora pergunto eu: será que algum de nós, os seus antigos alunos, ao cruzar-se com ela nos caminhos da nossa terra, se lembrou que tinha uma divida para com ela? Uma dívida que afinal custa tão pouco a liquidar, se não o fizemos, façamo-lo agora, porque basta muito simplesmente dizer-lhe obrigada (o).

Celeste Gonçalinho de Oliveira Duarte, 17 de Novembro de 2005

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