segunda-feira, novembro 28, 2005

A memória de antigos Invernos

Naqueles dias
e noites frias,
dias de Inverno
diferentes dos restantes do ano,
com o vento a soprar,
parecendo tudo arrebatar
e a assobiar lá fora
quase a toda a hora;
num enorme rodopio
tantas vezes a gente viu!...
A chuva nas vidraças a bater,
e nós dentro de casa a ver
grandes poças no chão formava
e a miudagem que nelas chapinhava;
assim como a neve
que do céu caía leve
tão branca e bela
que nada mais se comparava a ela;
cobrindo hortas e telhados
uns dos outros pouco afastados,
onde deles nem um palmo se via
à noite ou durante o dia.
Nos seus beirais, “círios” pendentes
esculturas surpreendentes
de completa transparência,
que a criançada encantava
e logo o sabor experimentava;
coisa própria da inocência.
Tapados de branco manto, os palheiros,
piscos e pardais eram os primeiros
na neve a esgaravatar,
para na palha debicar
um ou outro grão
que lhes servisse de refeição,
misturando-se o castanho e o branco
num espectáculo de incomparável encanto
de tão grande beleza,
só possível ser criado pela mãe Natureza!
As giestas e pinheiros,
couves tronchas e castanheiros;
tudo pela neve derrubado
só para o Inverno mostrar
que todos vão admirar,
o seu toque improvisado
misterioso e requintado.
Com temperatura tal
até nem fazia mal,
pois assim sobrava tempo
para se ter algum alento
à volta do lume,
sendo em alguns casos costume,
a lenha ir buscar à eira,
para na cozinha se fazer boa fogueira,
que, o corpo aquecia
e os alimentos dos potes cozia
preparando-se comida reconfortante e suficiente
que chegasse para toda a gente!...
Eram dias calmos
em que por vezes da bíblia se liam salmos
as mulheres remendavam roupa ou faziam meia.
Tudo isto e muito mais acontecia
numa ordenada sintonia
na minha querida aldeia!...


Alda Cristina Gonçalinho de Oliveira Morais

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Pois é; por vezes no Inverno, quando acordávamos, olhávamos pela pequena janela do nosso quarto e só víamos um grande manto branco de neve que se estendia desde o monte Dufe até à serra das Meadas. Não perdíamos muito tempo, num minuto, vestíamos roupa quente calçávamos as galochas, pegávamos num saco plástico e por fim corríamos até ao palheiro mais próximo. Mesmo assim cheio de neve conseguíamos lá para dentro
do palheiro alguma palha seca, que logo de seguida servia para encher o dito saco plástico. Contentes corríamos até ao cimo da calçada da tia Maria Augusta e em fila, sentadas em cima dos sacos, deslizávamos pela calçada até
bater nos muros, ou até à mina "velha" quando não parávamos no campo da tia Maria Augusta.
Lembro-me bater contra os muros, lembro-me que era muito frio, mas não me lembro sentir dor , não me lembro sentir frio. Lembro-me apenas; que era lindo que eram
momentos vividos com muita, muita alegria. E tu maninha , ainda te lembras? Tenho muitas saudades, não me vou nunca esquecer dos Invernos na nossa aldeia.


Hermínia Gonçalinho

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