A minha saudação aos residentes e aos da diáspora!
Quem visita a Póvoa pela Páscoa, em dia de visita pascal, e eu vou ter este ano essa dita, fica com a sensação de que esta terra não tem limites, é um tempo sem hora, uma luz que não se apaga, mesmo soprando o vento ou a chuva desabando. Ela é o torrão natal, o berço amigo que a todos atrai. As casas alargam-se, os tectos alteiam-se. Há lugar para todos: os familiares, os vizinhos, os amigos. Trocam-se beijos e abraços, recordam-se momentos passados. As flores de alecrim emergem dos muros das casas de pedra como setas, não de ameaça, mas como anúncio de festa, porque o visitante agora é o Ressuscitado.
O chefe de família dá a cruz a beijar. Todos se perfilam em alegria transbordante. As crianças regurgitam de são contentamento, e os mais velhos enternecem-se com a sua meiguice. Que é a Póvoa afinal?
Creio que são três, os espaços da Póvoa real, assim enumerados:
- O “espaço físico”. Esse é o único que pode delimitar-se, e de há muito, dada a sua riquíssima história. Tem os confins geográficos, abarca os campos, a serra, as habitações e logradouros, mas também o sol puro e dourado, o ar límpido e a água cristalina.
- Mas o “espaço social” em muito que sobrepuja o físico. As pessoas saíram, investiram, realizaram sonhos, escolarizaram-se, fizeram opções de vida, propagaram-se, socializaram-se, inculturaram-se. Criaram-se amigos longe da terra e até da Pátria, cruzaram-se destinos. Hoje, trocam mensagens gráficas ou telemáticas. Escrevem, lêem e pronunciam-se. Em suma, poderão estar distantes, mas estão sempre perto, numa proximidade que os identifica.
- O “espaço psicológico”. Este é o mais misterioso. Quem ousa retirar o afecto à “alma mater”, quem poderá desligar alguma vez o fio da comunicação telúrica? Este aspecto das vivências, das experiências de vida, das histórias mais poéticas, hilariantes ou dramáticas, é que define e identifica a verdadeira Póvoa. O que mais une não é a terra, mas o sangue, não é o riacho ou a fonte, mas os sentimentos que jorram ou se silenciam, os laços de família, o coração forte e generoso moldado pela natureza humana e divina. Acresce ainda a base religiosa que o poveiro transporta, partindo e regressando, sempre com sonhos na bagagem.
Termino com uma evocação à Terra-Mãe-Póvoa. Mãe não morre nunca! Ela ficará sempre junto de seus filhos e eles, idosos embora, serão sempre pequeninos, sem os limites estratificados da idade, que parece ser uma única, a olhar o céu. Ressuscitemos todos para a amizade e para a vontade de sermos felizes.
Uma boa Semana Santa e Páscoa Feliz e bom regresso à terra natal dos poveiros na diáspora.
Pe. Assunção