sábado, março 31, 2007

A PÓVOA NA PÁSCOA



A minha saudação aos residentes e aos da diáspora!
Quem visita a Póvoa pela Páscoa, em dia de visita pascal, e eu vou ter este ano essa dita, fica com a sensação de que esta terra não tem limites, é um tempo sem hora, uma luz que não se apaga, mesmo soprando o vento ou a chuva desabando. Ela é o torrão natal, o berço amigo que a todos atrai. As casas alargam-se, os tectos alteiam-se. Há lugar para todos: os familiares, os vizinhos, os amigos. Trocam-se beijos e abraços, recordam-se momentos passados. As flores de alecrim emergem dos muros das casas de pedra como setas, não de ameaça, mas como anúncio de festa, porque o visitante agora é o Ressuscitado.
O chefe de família dá a cruz a beijar. Todos se perfilam em alegria transbordante. As crianças regurgitam de são contentamento, e os mais velhos enternecem-se com a sua meiguice. Que é a Póvoa afinal?
Creio que são três, os espaços da Póvoa real, assim enumerados:
- O “espaço físico”. Esse é o único que pode delimitar-se, e de há muito, dada a sua riquíssima história. Tem os confins geográficos, abarca os campos, a serra, as habitações e logradouros, mas também o sol puro e dourado, o ar límpido e a água cristalina.
- Mas o “espaço social” em muito que sobrepuja o físico. As pessoas saíram, investiram, realizaram sonhos, escolarizaram-se, fizeram opções de vida, propagaram-se, socializaram-se, inculturaram-se. Criaram-se amigos longe da terra e até da Pátria, cruzaram-se destinos. Hoje, trocam mensagens gráficas ou telemáticas. Escrevem, lêem e pronunciam-se. Em suma, poderão estar distantes, mas estão sempre perto, numa proximidade que os identifica.
- O “espaço psicológico”. Este é o mais misterioso. Quem ousa retirar o afecto à “alma mater”, quem poderá desligar alguma vez o fio da comunicação telúrica? Este aspecto das vivências, das experiências de vida, das histórias mais poéticas, hilariantes ou dramáticas, é que define e identifica a verdadeira Póvoa. O que mais une não é a terra, mas o sangue, não é o riacho ou a fonte, mas os sentimentos que jorram ou se silenciam, os laços de família, o coração forte e generoso moldado pela natureza humana e divina. Acresce ainda a base religiosa que o poveiro transporta, partindo e regressando, sempre com sonhos na bagagem.
Termino com uma evocação à Terra-Mãe-Póvoa. Mãe não morre nunca! Ela ficará sempre junto de seus filhos e eles, idosos embora, serão sempre pequeninos, sem os limites estratificados da idade, que parece ser uma única, a olhar o céu. Ressuscitemos todos para a amizade e para a vontade de sermos felizes.
Uma boa Semana Santa e Páscoa Feliz e bom regresso à terra natal dos poveiros na diáspora.
Pe. Assunção

quinta-feira, março 29, 2007

DESAPARECIMENTOS MISTERIOSOS



Decorriam os primeiros anos da década de setenta do século passado quando ocorreu, nesta terra que é a vossa, um verdadeiro mistério, qual triângulo das Bermudas. Sem deixar qualquer rasto, as galinhas desapareciam, de forma sistemática e em grande número, dos caminhos por onde vagueavam, das capoeiras e de um pouco por todo o lado. Perante a ausência de vestígios, tornava-se, assim, impossível determinar o agente causador de tal desgraça. É certo que eram vistos por essas bandas, de vez em quando, umas raposas, umas doninhas e uns rapazolas, mas não mais que isso. Quanto às raposas e às doninhas, obrigatoriamente deixariam vestígios. Quanto aos rapazes, se bem que no grupo houvesse uns quantos magarefes, outros havia que eram, verdadeiramente, insuspeitos. Neste contexto, como desvendar o mistério?
Após uma exaustiva investigação de cerca de quarenta anos, eis-me, pois, a fazer-vos a apresentação pública e conclusiva de tal trabalho.
Efectivamente, desapareceram, nesse período, 1429 galináceos, pertencentes a diferentes proprietários, com especial relevo para os que moravam no fundo do povo. Tal ocorrência nunca foi participada às autoridades, não se sabendo bem porquê. Talvez porque os visados estariam na dimensão do sucedido – mistério. De facto, e segundo apurei, não se tratava de mistério, mas sim de um misterioso ritual de sacrifícios às divindades.
Ora, não querem saber que esses rapazolas de que atrás vos falei eram reencarnações de povos que habitaram esta região!? Pois, eram isso mesmo! Seguiram os mesmos princípios, usaram as mesmas técnicas, por vezes, os mesmos materiais e até os mesmos locais de culto.
Desta forma e a bem da comunidade, arquitectaram formas ardilosas de diminuir os efectivos dos galináceos, controlando a espécie e acalmando os espíritos. Afinal, um gesto verdadeiramente altruísta e louvável, a todos os títulos. Grandes rapazes! Que a memória os perpetue!
Sem nada fazer para tal, certa noite, fui convidado para assistir a um único desses rituais e confesso-vos que me senti lisonjeado por participar em tão nobre manifestação de amor ao próximo.
Essas benditas aves foram sacrificadas, em nome de um Deus maior que as suas próprias vontades individuais e colectivas.
Quem eram os sumo-sacerdotes, não vos vou divulgar, mas eram gente boa, séria e honesta. Claro que eram! Quanto aos outros, esses até seriam capazes disso. Coitados dos rapazes! Em nome da sua fé, tudo faziam e a tudo estavam dispostos. Não eram cruzados, mas que o faziam, muitas vezes, atrás do cruzeiro, lá isso era verdade. Quanto não lhes custaria! Olhem que era tarefa penosa, sim porque de penas se tratava! E olhem que algumas eram bem difíceis de depenar!
Com estas genuínas manifestações de culto, com todos estes rituais e sacrifícios, estou certo que os que faleceram estão em bom lugar e outros para lá caminham ou Deus não fosse misericordioso.

Anónimo

terça-feira, março 13, 2007

Democracia anã ( por Zé Macário )

Morreram os meus avôs muito antes de eu nascer, e as minhas avós conheci já muito velhinhas, embora ainda me acompanhassem gostosamente durante perto de vinte anos.
A minha avó da Póvoa que mais de próximo e mais tempo me acompanhou – que avó culta e que óptima cozinheira aquela – tinha já o tique de abanar muito a cabeça de forma afirmativa, ao contrário das suas contemporâneas irmãs Quintelas ( Albertina, Ana e Maria) que a abanavam de forma negativa. Dir-se-ia mesmo que aquela, estava sempre em contradição com estas três irmãs, arremedando-se mutuamente.
Para além disso, esta minha querida avó, pela sua própria idade, tinha muitas flatulências, pelo que andava sempre a deixar cair displicentemente traques intestinais, inodoros e poucos sonoros, que mais se assemelhavam a quedas ou choques de berlindes em cima de soalho flutuante; Isto bem ao contrário daquelas que, pela força da sua juventude se orgulhavam de dar peidos vernáculos estrondosos, arreados a pau e corda.
Lembro-me por exemplo daquela vez em que uma mulher ainda nova e bem nutrida, detonando um trovão anal, sonoro e fedorento, junto à eira nova, gerou alvoroço nos cães, que ladraram aflitos no fundo da aldeia.
Vem isto a propósito da miserável qualidade da nossa participação democrática, trinta e três anos após a instauração deste regime.
É próprio da regulamentação das nossas instituições e organizações que as suas assembleias possam reunir em segunda convocatória em horário posterior à primeira ( normalmente meia hora depois da primeira convocatória), para se poder esperar pelos atrasados, aumentar o nº de presenças, poder formar quorúns e validar deliberações.
Não obstante isso, as pessoas primam pela ausência, e mesmo entre os presentes, são raríssimas as intervenções enfáticas.
São também poucas, tímidas, displicentes e sem eco, outras intervenções, isto é , muito parecidas com os tais traques da minha avó.
Mesmo numa qualquer votação de braço no ar, é bem notória a hesitação tímida de muita gente, enquanto observa cautelosamente a tendência da maioria que irá dirigir ou condicionar a sua opinião, numa atitude parecida com a daqueles alunos que, não sabendo a lição, se escondem atrás dos colegas para não se sujeitarem a ser chamados ao quadro e demonstrarem a sua ignorância; Ou daquelas pessoas que dando um descuidado traque quando sentados à mesa, se põem a arrastar a cadeira para confundir o som do traque com o do ranger da cadeira.
Ora, sendo rara, raríssima mesmo, a nossa participação convicta e enfática, é evidente que nunca faremos ladrar os “ cães “ do fundo da aldeia…
E assim não vamos lá!...
Haveremos assim de passar a vida a queixarmo-nos das deliberações sociais, que outros tomam por nós, pois primamos pela ausência mesmo quando estamos presentes, e não tenhamos dúvidas de que, desta forma, teremos sempre uma democracia da trampa, insonora e inodora.
A não assunção das nossas responsabilidades individuais –e não esqueçamos que o todo é sempre a soma das partes que o compõe – serão o caminho natural para que, mesmo “democraticamente”, possa abater-se sobre nós uma qualquer tirania autocrática.

sexta-feira, março 09, 2007

A todos os que passaram pela Chicala ANGOLA

( palancas)
Memórias de outros tempos

Já há uns anos, quis o destino, que de uma pequena aldeia esquecida no sopé do monte D`Ufa, partissem para planalto angolano uns quantos dos seus filhos. Partiram em silêncio e, em silêncio, regressaram, sem que alguém os haja visto partir ou chegar. Talvez tivessem partido sem ambição e regressaram apenas com o inconformismo do letárgico imobilismo dos tempos que o tempo não apagou. À chegada, encontraram as mesmas casas de um granito rude, encimadas por pseudo-chaminés de telha, por onde não circulavam fumos ou ventos de esperança. Depararam-se com os mesmos rostos definhados, de olhares cabisbaixos e sombrios, como se o sol permanecesse escondido no horizonte e as estrelas tivessem deixado de cintilar. Pisaram as mesmas ruelas com as suas calçadas polidas pelo tempo. Observaram os mesmos silêncios. Sentiram os mesmos odores. O verde dos campos desaparecera, como que se a Primavera nunca tivesse passado por ali. Talvez por isso, as andorinhas, os cucos, as cotovias … tinham partido e esses, sim, para não mais voltarem. Poder-se-iam observar apenas umas quantas carriças desajeitadas e turbulentas, de olhos pequenos e curtos voos, mas de bico afiado, receosas de que lhe invadissem o seu território de vermes. A Russa, a Preta e outras tantas mais tinham deixado a terra dos moribundos, certamente por opção ou ainda num desgostoso gesto suicidário. Paz às suas almas e que Deus as tenha em bom lugar que o merecem bem mais que outros mortais!
Mas, esses que haviam partido estão vivos, vivinhos da silva, embora longe ou talvez perto demais para que das suas memórias o tempo não tenha deixado apagar o sentimento de imobilismo ortodoxo que se estabeleceu como princípio doutrinário.
Meus caros companheiros de aventura, meus bravos, congratulem-se porque nos restam outras memórias de vivências ímpares que não caberiam neste espaço. Todavia, permito-me recordar pequenas diabruras, do tipo circense ou do coliseu romano, que um catraio de vinte anos fazia com uma tal Laika e que, por razões óbvias, não podem ser reveladas. Não esqueço também um tal pequeno Castro, guarda-costas de um calmeirão a quem fielmente servia, controlando, à porta do estabelecimento, a chegada do boss ou outro qualquer intruso que pudesse interferir com o seu refastelante repasto de enguias acabadinhas de sair das águas do Luena ou, por vezes, sardinhas de barrica. Igualmente recordo os caçadores de serpentes, que, pela noite dentro, as conduziam para nobres sessões de encantamento. Não incluo aqui aquele que, por cima da jibóia, em pleno mato, pensava sentir o pulsar de um tronco animado! E aquela história do célebre caçador que queria caçar veados atraindo-os com garrafas de wisky!?. É verdade que não caçou nenhum, mas que prometeu fazer-lhes a barba, lá isso prometeu! E aqueloutro que quis dar lições de caça ao jacaré com granadas de mão e ia sendo engolido pelas águas do rio Lume!? Outras histórias de caça não faltam, não fossem os nossos personagens caçadores exímios. A prova disso é que um vasto grupo de caçadores de elite e na posse de armas sofisticadas organizaram uma caçada em que conseguiram gastar um cunhete de balas (cerca de quatrocentas) atirando sobre uma enorme manada sem que um único animal tenha sucumbido. Para cúmulo deixaram enterrar os unimogs em que seguiam, tendo ficado cativos de si próprios e da sua ineficácia durante três dias. Passaram fome de rato! Sim, porque se a fome é de três dias, foi isso mesmo que lhes aconteceu. Tudo se passou, em pleno mato, a cerca de duzentos quilómetros da localidade mais próxima. E mais não foram os dias de cativeiro porque os seus amigos e familiares ao registarem esta ausência prolongada montaram toda uma operação de resgate que culminou em sucesso.
Por último, recordo a aventura de um conhecido pára-quedista, armado em piloto, que levantou voo num camião Mercedes e foi aterrar sabiamente na varanda de um prédio. Lembrais-vos certamente!
Pois é, meus caros, a passagem foi curta, mas suficientemente longa para que esse outro mundo novos mundos ao mundo desse e que permitirão a outras gerações ter outras memórias de outros tempos.
Até sempre!

P.S.: Não quero o documento assinado


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Esta musiquinha para recordares

domingo, março 04, 2007

HIERARQUIAS ECLESIÁSTICAS (2)

Os três graus no sacramento da Ordem
Situando-nos agora no princípio constitucional hierárquico da Igreja, vejamos como se distribuem os variadíssimos títulos eclesiásticos. Destacaremos apenas os principais.
O sacramento da Ordem (um dos sete sacramentos) faz com que, por instituição divina, alguns de entre os fiéis sejam constituídos ministros sagrados. E “segundo o grau de cada um” desempenham as funções de ensinar, santificar e reger o povo de Deus.
São três os graus de Ordem: o grau do “diaconado”, do “presbiterado” e do “episcopado”.
- a) Com o diaconado adquire-se o acesso ao estado clerical. A este primeiro grau pertencem os “diáconos”. Distinguem-se ainda os “diáconos permanentes” que podem ser casados, solteiros ou viúvos (há três, a exercer, neste momento, na nossa diocese de Lamego). E há os diáconos “transeuntes” que são os que se encaminham para o sacerdócio. Estes últimos são necessariamente celibatários. Vai ser ordenado um, de sacerdote, no próximo mês de Junho, natural de Quintela da Lapa, concelho de Sernancelhe.
Têm como “funções”, assistir ao bispo ou ao presbítero na celebração da Eucaristia, presidir ao culto e à oração dos fiéis, ser ministro ordinário da Bênção do Santíssimo, da Comunhão e do Baptismo, presidir a casamentos e às exéquias e administrar outros sacramentais.
- b) Ao segundo grau, o do presbiterado, pertencem os “presbíteros”, vulgarmente designados por padres ou sacerdotes. Exercem o sacerdócio em nome de Cristo. Foi Ele que lhes confiou o poder (sacro) de repetir o sacramento da Eucaristia, de perdoar os pecados, anunciar o evangelho, baptizar e outras formas de serviço (diaconia), na formação de consciências, santificação da vida, comunhão fraterna, etc.
- c) Ao terceiro grau, pertencem os “bispos”. Chama-se “bispo diocesano” o que está à frente de uma diocese; “arcebispo” se está à frente de uma diocese metropolitana (Braga, Lisboa e Évora). O bispo “titular” é o que não é diocesano. Caso particular, é o Papa que é o arcebispo (bispo) de Roma, sucessor de Pedro e chefe da Igreja Universal.
Então, onde se incluem os cónegos?
Os “cónegos” são sacerdotes que têm o dever de celebrar as funções litúrgicas mais solenes na Igreja Catedral, competindo-lhe ainda desempenhar funções que lhe são confiadas pelo direito ou pelo bispo diocesano. Actualmente, na nossa diocese o cabido catedralício (conjunto de 12 cónegos) exerce a função de Colégio de Consultores. São nomeados pelo bispo, assessorando-o nos assuntos de maior importância para a diocese.

- Em conclusão. Cargos e títulos (com excepção dos honoríficos) são “serviços”. Na igreja, instituição “sui generis”, só podemos compreender a missão de cada um a partir daquela resposta que, há dias, o Papa Bento XVI dava a um seminarista que lhe perguntava, por ocasião da sua visita ao Seminário Maior Romano.
- Sua Santidade previne-nos de que não caiamos na tentação do “carreirismo”, como tentativa de sucesso, de procurar obter uma posição através da Igreja. Pode explicitar-nos melhor o que quer dizer com esta sua admoestação?
Respondeu o Santo Padre:
“É uma pergunta não fácil. O Senhor sabe que na Igreja também há o pecado e para nossa humildade é importante reconhecê-lo, também nos cargos hierárquicos, para sermos mais humildes e aprender que não conta diante do Senhor a posição eclesial, mas estar no seu amor e fazer brilhar o seu amor”.
Obs: Para uma informação actualizada e permanente nas actividades da Igreja, pode ver-se o site http://www.ecclesia.pt/. Aí se encontra uma “enciclopédia cristã”, de muita utilidade.
P. Assunção

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