terça-feira, abril 15, 2008

DIGRESSÕES LINGUÍSTICAS ACERCA DA PALAVRA “CÔNGRUA”


Por ocasião da Páscoa, ocorre o costume de em várias Paróquias se recolher a “Côngrua Paroquial”. Por falta de conhecimento da origem da palavra, aparecem popularmente as pronúncias de “congra”, “côngora”, “côngura” e outras. Tudo são corruptelas da palavra certa, que é “Côngrua”. O fenómeno é curioso, faz parte das “metamorfoses” da nossa língua materna, que sendo um ser vivo, nasce desenvolve-se e não é imortal.
Não cremos, porém, que seja para breve a sua extinção e, a morrer, será das últimas. Mas a verdade é que nas próximas décadas, calcula-se que mais de metade das línguas existentes no planeta venham a desaparecer, sobrevivendo apenas de futuro as mais faladas no mundo. Por aí, a nossa aguentar-se-á com ou sem o acordo ortográfico, que firmado por motivos políticos, é certo, e não por razões linguísticas, tem em vista a sua maior afirmação no mundo, tornando o Português a língua dos 200 milhões de falantes.
Mas voltemos ao nosso tema. Em latim, denomina-se por “congrua sustentatio” aquilo que se atribui ao sacerdote, com munus pastoral, para a sua sustentação adequada (côngrua sustentação). Para simplificação do significante, um efeito da “lei do menor esforço”, acaba por se suprimir a palavra sustentatio (sustentação) e usa-se apenas a palavra “congrua”. Passa-se um fenómeno de substantivação do adjectivo. Algo semelhante se verifica, por exemplo, na palavra “caldo” que vindo do latim “cibum calidum” (alimento quente) se substantivou, para se designar simplesmente por “caldo” (à letra, o quente).
Importa referir que a Côngrua faz parte dos bens temporais da Igreja. Estes destinam-se a satisfazer três fins legítimos e consentâneos com a missão da Igreja: a realização do culto, a sustentação do clero e as obras de apostolado e caridade. A hierarquização destes fins é arbitrária. A título de exemplo, a conservação dos templos ou o seu restauro insere-se no primeiro dos fins. Mas, dependendo das circunstâncias, se fosse prioritário socorrer os pobres numa necessidade, este último passaria a ser primeiro.
Portanto, o adjectivo qualificativo côngruo, na sua forma de masculino, tal como aparece em verbete do dicionário, tem como sinónimos entre outros: condizente, adequado, proporcionado, apropriado, ajustado, decoroso, congruente, honesto, digno, etc. Devo manifestar a minha admiração e reconhecimento a tantos, e são tantos os fiéis, que sem saberem a origem da palavra (para eles é absolutamente indiferente) conhecem e testemunham, com o sentido preciso de gratidão e justiça para com a Igreja, o valor daquele donativo que sempre foi voluntário e nunca foi “imposto”. Se o fosse, perderia a congruência e enfraqueceria a justiça, porque esta nem sempre consegue ser humana e humanizadora.
E a propósito dos bens temporais da Igreja, os meus amáveis leitores aguardarão ansiosamente as contas finais das obras de restauro da capela. A isso têm direito. O pré-orçamento foi colocado no blog em devido tempo, tal como os pormenores técnicos da intervenção. Logo que a iluminação esteja colocada, (está, de momento, a ser estudada pela Comissão de Arte Sacra Diocesana) de modo a valorizar o tecto e a destacar a sua policromia, última operação a efectuar, aqui mesmo serão divulgadas. Resta-me agradecer a todos os ofertantes e responsáveis pelo empreendimento. Pela minha parte pessoal, apenas me ocorre a passagem do Evangelho, após a missão cumprida, “somos servos inúteis, não fizemos mais do que o que devíamos fazer”.


Pe. Assunção

1 comentário:

jmov disse...

Porque se justifica, aqui fica a PROPOSTA DE INTERVENÇÃO, assim como a MEMÓRIA DESCRITIVA, publicadas neste blogue em 11 e 15 de Fevereiro de 2007


PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Publica-se agora o resultado do estudo feito pela firma, após observação “in loco” de um técnico superior, com a proposta de intervenção e o orçamento previsto.

“Observamos a existência de elementos metálicos oxidados.
Em termos de policromia, verificamos a existência de sujidade superficial, resultante essencialmente da acumulação de poeiras, fumo e gordura de velas.
A oxidação do material de acabamento, desgaste de policromia, lacunas cromáticas e destacamentos pontuais são algumas das patologias diagnosticadas.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
* Registo fotográfico antes, durante e após a intervenção
* Limpeza mecânica superficial
* Pré-consolidação da película cromática, se necessário
* Realização de “facing” de protecção
* Desmontagem parcial do tecto
* Limpeza do tardoz das tábuas
* Desinfestação do material lenhoso
* Tratamento de elementos metálicos oxidados
* Consolidação e reforço dos elementos que apresentam perda de resistência mecânica
* Preenchimento de lacunas volumétricas
* Colmatação de juntas e fissuras com madeira de baixa densidade
* Limpeza química da película cromática
* Nivelamento de lacunas cromáticas
* Reintegração cromática
* Recolocação das tábuas desmontadas com parafusos inoxidáveis
* Protecção final
* Registo fotográfico após a intervenção
* Relatório final

Nota: os trabalhos que eventualmente venham a ser efectuados na estrutura da sustentação do tecto, não estão contemplados na presente proposta”.

PROPOSTA DE CUSTOS
15 800,00€ (quinze mil e oitocentos euros)
Ao valor apresentado acresce IVA à taxa legal em vigor
A presente proposta tem a validade de 60 dias
A água, luz e andaimes necessários à correcta realização dos trabalhos, ficam a cargo do cliente.

Obs: O IVA é reembolsado às instituições da Igreja Católica, por requerimento dirigido à Direcção Geral dos Impostos, sempre que se trate de manutenção e conservação de imóveis destinados ao culto (Decreto-Lei n.º20/90 de 13 de Janeiro).
P. Assunção

Publicada por jmov em 22:23 1 comentários
Domingo, Fevereiro 11, 2007
Restauro da Capela

Memória descritiva
Com a devida vénia, publicamos o texto da memória descritiva, que nos foi enviado pela Firma especializada em Conservação Preventiva, Restauro e Peritagem de Arte e Inventários, após a sua visita à nossa capela da Póvoa.

MEMÓRIA DESCRITIVA
“Trata-se de um tecto em abóbada de canhão, com tábuas corridas de madeira de castanho.
Este elemento, enquadra-se na tipologia estilística no Rococó (barroco final). A presença de elementos arquitectónicos que nos remetem para perspectivas em “tromp l’oeil”, a obediência a um ritmo simétrico e, mesmo o cromatismo forte, são uma constante na pintura desta época.
Pelo que tivemos a oportunidade de observar, apesar de manifestar um carácter popular, a pintura oferece alguma desenvoltura de execução.
Em termos estruturais, não são visíveis grandes deformações, pelo que, pensamos que o suporte deste tecto se encontre em razoável estado de conservação. No entanto, só após desmonte parcial das tábuas do tecto, se poderá confirmar esta situação.
A degradação visível do material lenhoso resulta fundamentalmente da entrada de água pela cobertura, responsável pela destruição das tábuas do tecto junto à parede do coro.
As variações termo-higrométricas que decorrem dos períodos de molhagem/secagem aceleram sempre o processo de degradação do lenho. Directamente, pelas contracções e dilatações que provocam, originando o surgimento de juntas e fissuras abertas e, indirectamente, com a criação de ambientes favoráveis ao desenvolvimento de bactérias e insectos xilófagos que, neste caso, parece tratar-se de Coleópteros.
Algumas tábuas desta abóbada perderam grande parte da sua resistência mecânica.
Existem zonas onde o lixo e o entulho acumulado provocaram deformações no material lenhoso”.

Nota: O texto seguinte será com a proposta de intervenção e o orçamento previsto. Antes, porém, pareceu-nos que devemos ter conhecimento do valor que tem a capela, das suas características e da necessidade de nos sensibilizarmos para a sua conservação, através de uma colaboração conjunta.
A Firma, em causa, é a recomendada pela Comissão Diocesana de Arte Sacra, porque tem dado provas, ao longo de 10 anos, com intervenções nas Igrejas e capelas da nossa diocese, de reconhecida competência.

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