quarta-feira, maio 10, 2006

Rimas ao berço da moura”adaptação para texto dramático”

Narrador - No tempo da formação
da nossa nacionalidade
não era com certeza,
uma novidade
o amor da um rei
por uma jovem princesa.

Fugindo à perseguição
Com motivo?...sem razão?!...
A jovem encontra abrigo
Num campo semeado de trigo
E transgredindo a lei
Ali fica no lugar de Souto D’El-Rei.


Sendo época estival
E estando já loiro o cereal,
Homens e mulheres de rostos corados
Ceifavam o pão muito animados
E por vezes amores iniciavam
entre gestos convencionais e sincronizados
que por toda a vida perduravam.


Ceifeiro - Oh da frente,
Oh do poente,
Sua Majestade é chegado
E nós, não daremos o trigo cegado
Sem antes um trago de vinho beber
E pão de centeio comer
Sem o nosso Rei saudarmos
E à sombra do trigal descansarmos!...

Outro ceifeiro – Façamos pois uma pausa,
Que será por boa causa,
Façamos já uma investida
À merenda ali escondida
Onde encontraremos boa comida
Alimentemos o nosso corpo,
Que de fome mais parece morto!...

Rei- Ora salve-nos Deus
súbditos meus!
E agora, dizei-me cá,
Os daqui
e os de lá
faláveis de presunto e de chouriça,
de queijo, pão e linguiça?
Ou será que confundi,
E julguei que foi isso que ouvi?...
Mas…estou certo de que escutei bem!
Pois, haverá entre vós alguém,
Que reparta comigo a merenda
E me faça tal oferenda?!...

Todos respondem - Tome Vossa Majestade,
Se é essa a vossa vontade,
Um golo deste garrafão
vinho das vinhas do Douro
Que para nós é um tesouro,
Guardado em pipos há mais de um ano
Feitos de madeira de castanho.
Comei também umas rodelas de salpicão,
E um bom naco deste pão…

Rei – Deus vos dobre para o dobro
A refeição que aqui tomo,
Pois é muito superior ao que como,
Nos aposentos reais
E em outros sítios de requintes tais!...
Saibam que vou promover
E muito bem dizer
Do vosso presunto e do fumeiro
Fora e dentro deste reino.

Uma das ceifeiras – pareceu-me agora escutar,
Alguém ali a falar!
Vejam além o trigo a bulir,
Não vos pareceu agora ouvir
Alguém p’raí a tossir?!...
Venham aqui ver,
Se é que querem saber!
Veja Vossa Majestade, se isso vos apraz;
É uma donzela,
Por sinal muito bela
O que será que aqui faz?!...

Narrador – a jovem era moura
E o rei, esse era cristão,
De tal forma a ela se afeiçoa,
Que seu amor por ela aperfeiçoa,
Dando fruto a proibida relação.


Temendo por sua vida
E vendo-se perseguida;
Por momentos fica aterrada
Muito assustada
Perante aquele encontro Real
Absolutamente casual.
Diante do rei chora,
E ajoelhando lhe implora.

Moura - Poupai-me senhor,
Que não existe maior dor,
Pois tive muito má sorte,
Se me condenardes à morte!
Encontro-me perdida,
E há muito tempo fugida
À ira de reis cristãos,
E porquê? Se dizem que todos somos irmãos?!...
Só porque moura nasci
e outra cousa não conheci?...
Apenas procuro abrigo
neste campo semeado de trigo.

Rei – Não pretendo que vos assustais
Comigo nada temais,
Ficai aqui moçoila,
Que sois linda como a brava papoila!
Comei do que cá temos
Pois muito mal vos vemos!
E depois ide comigo,
Que serei vosso amigo.
Ordeno-vos pois que esqueçais,
Vossa origem e de vossos pais!...

2ª parte
narrador – Muito tempo passou
por preconceito muita coisa mudou,
Até que um dia
Quando ninguém suspeitaria,
se levanta grande alvoroço,
junto à ermida de Santa Cruz
uma menina é dada à luz
filha do rei ainda moço.

Moura – Ai pobre de mim
Terá chegado o meu fim?!..
Pois tão mal me sinto!...
Sou uma pobre coitada,
Que não tem mesmo nada,
A não ser uma filha para dar à luz
Aqui mesmo no lugar de Santa cruz.!...
Mas…eu juro sobre este penedo duro,
Que serei forte e corajosa,
E também ambiciosa
O rei hei-de desposar,
E este reino haverei de governar!..


Um aldeão – Vós aí o moleiro
Podereis ser nosso mensageiro?
Será que em Lamego passais
E um recado nosso deixais
Nos aposentos reais?
Pois então informai
Que princesa já nós cá temos
E muito bem lhe queremos,
E mais dizei,
Que isso bem eu sei,
Quem é afinal seu pai!...

Narrador - Ignorando o seu amor pela moura
E temendo no reino grande confusão ,
E enorme embrulhada
Põe fim àquela relação
Tão pouco duradoura;
Ignora o que lhe vai no coração,
Ordenando à moura então.
Imediata retirada

Chega o rei
Rei – Levantai-vos daí ó mulher,
Para responderdes ao que eu quiser,
Com esta é que eu não contava!
Essa criança não é minha!
Pois andais p’aí à toa sozinha
Há-de ser filha de algum forasteiro,
Pé – rapado e sem dinheiro,
Posto depois em retirada.

Moura – porque de mim tanto zombais (troçais)
Será que não vos lembrais
Do que me dizeis,
Do que me prometeis,
Do que me fazeis?!...
Calai-vos então,
Ou vos levantarei a mão,
Para vos fazer entender
Qual é o vosso dever!...


Rei – belzebu!... já aqui ouvi demais…
Ou vossa boca calais,
Ou daqui vos mando expulsar,
Para nunca mais vos ver
Nem de vós saber
É isso que imediatamente farei
E neste caso jamais pensarei!

narrador
O povo enfurecido
Com tal acto do monarca
Levanta-se em desenfreado ruído,
E em cortes se regista em acta:
A princesa será cristã,
Não queremos que ela parta!
O rei desvairado demasiado assustado
Com voz grave ameaça,
Toda aquela populaça:

Quem ao diabo se render
Ou tiver tal ousadia,
Da princesa defender
Pode desde já pensar
Que ao inferno o mandarei lançar,
E nós, os outros, faremos folia!...

Todos – Vossa majestade isso não diga,
Pois tal coisa não nos faz diferença;
Comeremos e encheremos a barriga,
Sem tal cousa julgar,
Ou de algum modo o mesmo pensar ,
É assim que a gente pensa!

Vá lá a gente saber
E certas cousas entender
que um simples caso de amor
cause a todos tanta dor,
mas…conservemos nossos ideais,
e a moura jamais
para longe de nós irá
pela nossa honra juremos
que belo palácio lhe construiremos
o melhor que no reino haverá!...

narrador-Com tal determinação
Do povo ,raia miúda
Não restava ao rei solução,
Que não fosse aceitar a filha;
Impondo porém uma condição
E logo dali se põe em fuga.

A moura mulher de princípios
Rejeita qualquer negociação,
Dizendo que o amor não tem preço,
Nem se prende a artifícios
E deitando a pequena no berço,
Pede ao povo protecção.


Seguiu-se grande agitação
E enorme emoção
em todos ali envolvidos
Para o topo do planalto seguiram,
E ali mesmo construíram
Um palácio de feição.

As paredes de granito duro
E pedras a servir de colchão
Um palácio nobre e seguro
para quem esteve em apuro
e não mais tem ilusão!

Do palácio apenas restam ,
Penedos e pedras lendárias
E ainda histórias
De quem um dia ali passou,
E tão fascinado ficou,
Que sempre lá voltou!...

E se o rei por magia os penedos visitasse,
E por encanto encontrasse
A mesma moura de outrora,
Seria naquela hora,
Que com ela casaria
E a felicidade de ambos voltaria!...

E hoje, nas crianças fica a memória
da sua verdadeira história
daquele lugar de magia
de em tais pedras se baloiçar,
de tantas vezes ali brincar
como está a sonhar,
ser rei e princesa por um dia!

Eu cá por mim digo:
Aquele lugar é imponente,
E ficaria muito contente,
Se na realidade soubesse um dia,
Que quem noutro tempo ali vivia,
Era gente como nós,
Como os nossos pais e os nossos avós!...

Celeste Gonçalinho de Oliveira Duarte

3 comentários:

nelson disse...

Belo poema, com ritmo e figuras que evocam a alma portuguesa que permeia estes distantes sertoesda amazonia brasileira.
www.nelsontownes.uol.com.br

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
JMOV disse...

Que melhor!?
O comentário anterior é de um jornalista brasileiro.
Parabéns, parece-me muito bom, mas não era suposto ser conhecido só mais tarde?

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