segunda-feira, maio 15, 2006

Pedido de casamento

José - levanta-te da cama Maria,
Que a manhã já vai alta,
Ainda mal o sol se via;
Já me fazias tanta falta!…

Maria – Deixa-me ainda dormir,
Que estou na primeiro sono;
Faz o que te estou a pedir,
Saberás depois o meu sonho…

José – Vê aquela cotovia,
Já ali estava ao amanhecer;
Vem depressa, já é dia
Tenho pressa de te ver!...

Vem daí rapariga,
Que eu mal posso esperar…
Ou não queres que te eu te diga,
Que te quero desposar?!...

Maria – Vai lá com Deus José,
Que ainda não ouvi cantar o cuco,
Ele dirá o tempo de solteira, quanto é…
Fala comigo depois, não sejas maluco!

Espera então um bocadinho,
Vou ali, e volto já;
Vou perguntar-lhe ali ao ninho,
Se o casamento é p’ra já!

José – És burra em no cuco acreditar…
Não confies nele dessa maneira!....
Ou muito vais esperar,
Ficarás velha e morrerás solteira!...

Ó dama da minha vida
Quero falar-te a sós,
Não quero que alguém diga,
O que ouvir falar entre nós!

Ouve-me lá bem…
E não te arrependas depois,
Há sempre no mundo alguém,
Que nos queira separar aos dois!...

Maria – Vai-te já daqui embora,
Que eu cá fico sossegada,
Não penses que alguém chora,
Assim por coisa de nada!…

José - Pensas que ao falares assim comigo
Para mim é uma ameaça?
Pois esquece-te de mim…
Já vi que és de má raça!...

Maria – Cala-te pois,
Que calado falas bem…
Discutimos sempre, e depois?!
Outros discutem também.

José – Ó mulher olha lá,
Na verdade não te entendo!
Não me conheces já?
Nada disto compreendo!

Maria – O que tinha a dizer,
Foi dito mesmo agora,
E o que tenho p’ra fazer
É pôr-te imediatamente lá fora!

José – Não te adiantes no falar,
É melhor que a boca cales;
Não me obrigues a ordenar,
Que comigo jamais fales!

Olha menina p’ra mim
Que nos teus olhos vejo a verdade…
Pensas que me enganas assim?!...
Não é essa a tua vontade!…

Não te vás embora “menino”,
Não adiantes o passo,
Anda mais devagarinho
Se queres o meu abraço!...

O que tu queres, eu bem sei…
É levares-me ao altar!
E uma decisão eu já tomei,
A de contigo casar!

Maria – Ó que tão estranho é,
Estar p’ráqui a discutir...
Tenho meu amado aqui ao pé,
Porque continuo a fingir!...

Esqueçamos a discussão,
Pensemos na boda agora…
Falemos da nossa união.
E não no que pensam lá fora…

José - Isso mesmo é que eu gosto de ouvir
E, o que iremos nós comer?
Verás muitos p’ro lado cair
Com tanto vinho beber!...

Maria – afinal o que pomos na mesa?!
O que temos por cá?
Cozido à portuguesa,
É o melhor prato que há!...

E naquela panela
Se fará coisa boa!...
Arroz doce com canela
Leite-creme ou bacalhau com broa!

Com uma boda assim
Todos à farta vão comer,
O pior sobra para mim,
O estômago dará horas, com tanto para fazer!

José – Minha noiva, não fales assim,
Agora que já és minha,
Que era vergonha para mim…
O trabalho é a dois; não ficarás sozinha!

O que aqui trago p’ra te dar,
É belo e foi caro,
É um anel e um colar,
De pérolas brancas e ouro do mais caro!

Maria - A enfeitares-me assim,
Vão pensar que tenho riqueza,
Sou mulher pobre sou assim;
Não sou nobre nem burguesa.

José - Que me interessa isso agora ,
Se p’ra mim és a rainha
Faz-se tarde vamos embora;
Casemos já; a Senhora do Pranto é madrinha!

Maria -Casamos na Sé de Lamego ou na nossa capela?!
Na capela da Póvoa, já se vê,
Porquê fazer tal pergunta, Porquê?!...
Se é esta a da nossa terra…

José – logo que acabe a boda, quero ver-te bailar,
Não com outro mas comigo…
E aí te irei beijar,
Esperar mais, não consigo!...


Qual a razão de ser do” papel “ do cuco nestas quadras?
Dizia-se há anos atrás na Póvoa, que quando o cuco em Maio cantava, os jovens numeravam esses trinados, para saberem quantos anos estariam solteiros.


Celeste Gonçalinho de Oliveira Duarte

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