segunda-feira, março 06, 2006

Cores e sons da minha aldeia

Debaixo daquele céu de azul pintado
Tão sabiamente decorado
De estrelas ornamentais
E de outros corpos celestes ancestrais
De brilho imenso
E intenso,
Correm cristalinas águas puras
Boleando fragas duras,
Que contam velhas máguas,
Da nossa antiga gente
Irremediavelmente ausente.
Murmuram suas dores,
E falam de seus amores,
Revelam segredos bem guardados
A silêncios forçados,
Num canto cadenciado
Verdadeiramente emocionado.
Naquele solo outrora produtivo
Hoje porém esquecido
Nascem humildes violetas
Coloridas com o roxo do martírio
E também o singular lírio
Um dia ali plantado
Mas agora abandonado.
Florescem de branco e amarelo as giestas,
Tornando-se para os sentidos verdadeiras festas,
Combinações de imagens
espontâneas e selvagens.
Crescem
E amadurecem
Saborosas cerejas,
De vermelho escuro pintadas
E aos pares penduradas,
Em velhas cerejeiras
Plantadas em quintais e lameiras.
Sob o mesmo céu bendito,
Que se estende ao infinito,
Formam-se gotas de orvalho,
Que a noite trás consigo,
Sendo delicado abrigo
Para o verde de vários tons,
Tão variado como os inúmeros sons,
Constituindo complexa linguagem,
Que mais não é que uma abordagem,
Ao murmúrio da água da fonte,
Ao fustigar do vento no monte,
Ao barulho das rãs nos charcos a coaxar,
Aos chilreios dos pássaros no ar,
À lamúria do lume a arder na lareira,
E ao tilintar da enxada na lameira.
Escurecem de fuligem as varas nos caniços,
Tornam-se castanhos os ouriços,
Cinzentos são os penedos as paredes das casas e rochedos,
Dourado fica o grão nos trigais
O milho nos milheirais,
A noite dorme tranquila
Em sua escuridão envolvida
E prateada
Fica a fresca madrugada!...


Celeste Gonçalinho de Oliveira Duarte

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