quinta-feira, outubro 06, 2005

A Póvoa, passado e futuro



Não vão longe os tempos, em que todas as casas eram habitadas, mesmo aquelas, que nos anos mais recentes, serviram de palheiros.
Hoje porem, a realidade é outra. Cada vez, mais casas fechadas, mas também, cada vez mais casas recuperadas, e mais gente com vontade de recuperar outras. São os filhos desta terra, que por um motivo ou outro tiveram na sua grande parte de imigrar, enquanto que mais recentemente outros emigraram, mas sempre com a sua terra no coração.
Pretendem todos eles sempre que possível, passar algum do tempo disponível, na terra que os viu nascer e mais tarde partir, transportando consigo as recordações de infância, que nunca mais se apagaram da memória. E são tantas as recordações, e por vezes tão estranhas, que os mais novos, hoje ao ouvi-las, e porque convivem com realidades completamente diferentes das do nosso tempo, outra coisa não dá que não seja motivo de risota e escárnio. Mas para todos nós, que ainda nos lembramos dos finais de dias de segadas, em que, em alegre cantoria as mulheres e homens anunciavam o fim de mais um dia de ceifa, ou os fortes berros dos malhadores de mangualde que gritavam após mais uma malha feita “ á eiiiiiiira!.. á eiiiiiiira!.., para anunciarem ás mulheres que tinham acabado de malhar o trigo ou o centeio, para que estas viessem fazer a respectiva limpeza, (na eira dos Gonçalinhos ainda hoje se encontra uma grande pedra, para onde subiam os homens, para gritar “à eira”, mas isto acontecia em todas as outras) ou ainda, as loucas correrias pela levandeira ou corgo, acima e abaixo, para verificar se a água para regar o cebolo, ou apegar as batatas ou outra coisa qualquer, ainda cobria a marca, que antes de se juntarem outras águas se tinha feito. Tudo isso para além de trabalho era brincadeira, tal como eram mais recentemente, por volta dos anos 70 as malhadas já efectuadas com malhadeiras, e que os rapazes muito bem aproveitavam para se divertir, criando falsos caminhos por onde supostamente as raparigas teriam que passar, para depois caírem em algum buraco. O pior era quando lá caía alguma pessoa mais velha!...
Nós não tínhamos computadores, nem televisão, por isso tínhamos que arranjar diversões na rua, e criar os nossos teatros, até mesmo aquelas brincadeiras de quem ía pela calada da noite roubar as burras para assustar as pessoas, ou se metia nos cedros do cemitério com a mesma finalidade!.... Hoje recordamos tudo isso com nostalgia. Provavelmente a mesma com que os mais novos um dia recordarão os seus feitos, numas imortais férias na Póvoa. Aquela terra onde a liberdade que lhes falta nas grandes cidades, aqui podem desfrutar, sem os receios de que seus pais são acometidos nos grandes centros. Por isso, na Póvoa, as noites são mais pequenas, não para fazerem os mesmos jogos que nós fazíamos, como seja o “rou-rou, a barra ou até mesmo o pino”, mas outros jogos que muitas vezes se traduzem em amenas cavaqueiras e troca de conhecimentos, de que hoje são possuidores, fruto das novas tecnologias. Nós não tínhamos essas diversões, por isso mesmo, de tudo fazíamos divertimento. Como nos dava prazer esperar as raparigas, junto ao tanque, para as molharmos, ou então para esperarmos que enchessem os canecos de água e nós atirarmos umas pedrinhas para dentro, para que elas voltassem a ter que os encher novamente e demorassem mais uns quantos minutos a ouvir uns piropos. Por vezes fugir era o nosso recurso, para não sermos reconhecidos pelos pais, que muitas vezes vinham procura-las tal era a demora a que estavam sujeitas, por nossa culpa.
As noites de Inverno eram demasiado grandes, para que fossem passadas inteiras dentro de casa., por isso arranjava-se de quando em quando umas churrascadas, lá para os lados do cruzeiro, que mais tarde se liquidavam, nos confessionários, com uns puxões de orelhas, e alguns tostões que se davam na missa, para remissão das referidas faltas, já que dar vida às galinhas para se entregarem aos donos era impossível, e demais a mais quem as tinha comida tinha sido a maldita raposa.
Tudo isto nos trás muitas saudades, tal como já todos sentimos da alegria que este ano teve a nossa festa. Sim aquela foi a festa de uma família, a família da Póvoa, onde os mais novos, que estiveram em grande número sentem aquela festa como sendo a sua, e por isso foi muito bonito ver a alegria com que todos se divertiram e contribuíram para a festa, mesmo tendo-se a certeza de que não estiveram lá os seus grupos preferidos, como os Anjos ou os D’zrt, entre outros, mas muito bem, isso não foi pretexto para não darem o seu contributo, e dizerem bem alto á Póvoa que poderá contar com eles em próximas edições, ou outros eventos, como por exemplo, o mais que provável magusto que se irá realizar no final deste mês. A festa essa será na mesma altura, ultima semana de Agosto, com um programa que esperamos venha a ser do agrado de todos. Para tal, podem também colocar aqui em (comentários) as vossas sugestões.
Um abraço para todos.
(Jorge Venâncio)

1 comentário:

Anónimo disse...
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