segunda-feira, outubro 03, 2005

Memórias da Póvoa (por Fernando Costa)




Memórias da Póvoa…Quando era garoto passava o ano inteiro à espera do próximo verão para ir passar as férias à Póvoa com a Avó Gloria e o Avô Macário… Apesar ter imigrado para Lisboa com apenas 3 anos e portanto as minhas experiências na Póvoa serem as de uma criança/adolescente à descoberta de uma terra e das suas gentes muitas vezes enigmáticas e dignas dos melhores contos de aventuras juvenis, sempre senti que no meu sangue corria a alma daquelas gentes e hoje afirmo com orgulho que, esta terra, a sua alma e as suas gentes moldaram a minha personalidade e a minha forma de estar na vida.Recordo com alguma nostalgia as aventuras passadas com os amigos de então… o Manel e o Jorge do Clemente e as saídas para o monte com as vacas ou as idas ao rio tomar banho no final do dia… as histórias do Fernando do Franquelim… as noitadas a jogar o "sobe e desce" na taberna da Celeste… as passeatas para as festas de aldeia em aldeia com o Rui pra curtir umas bubas… e claro o prazer de estar com os meus avós nos serões passados a ouvir sempre e todos os anos as mesmas histórias (a história do "Bicho Cabra"… a história da "Perseguição dos Lobos"… todas as histórias das patifarias do meu Pai e dos meus Tios, isto no tempo em que não havia Game Boy e por isso eles tinham que se entreter com outras "brincadeiras", às vezes pouco apreciadas pelos mais velhos), tantas e tantas histórias que se passadas para o papel encantariam certamente muitas crianças nos contos de adormecer.Aos promotores desta iniciativa um agradecimento por, em nosso nome, e de todos os nossos Pais e Avós, abrirem a esta "porta para o mundo" chamada Internet esta Aldeia, as suas gentes e os seus costumes.Bem-haja a todos!!!Fernando Costa

3 comentários:

Anónimo disse...
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Anónimo disse...

Póvoa Rituais Iniciáticos…
Totalmente isolados do mundo, os rapazes tinham normalmente como parceira na sua iniciação sexual, a irmã da “canhota”, rapariga da mesma idade, insaciável e incansável, que funcionava como intermediaria entre a captação ou projecção da imagem e prática mecânica do sexo.
De fértil imaginação, seguravam por cima com a mão esquerda os vestidos das primas ou das vizinhas (conforme a facilidade de chegar a tais peças) e por baixo a irmã da “canhota” traduzia em prática mecânica todas as fantasias sexuais.
A visualização deste vestidos era tirada nas grandes noites de gelo, dos “coradoiros”, que, gelando transformavam as “lingeries” de simples peças de vestuário feminino, em esbeltas e bem torneadas cachopas. Como eram imaginativos os rapazes desse tempo!
Engaiolávamos mentalmente as moças dentro do vestido da nossa prima e ali as “comíamos” sem excepção, e com a larga fantasia da imaginação.
Para estimular esta mesma imaginação, enchiam-se por vezes os vestidos com trapos em formatos de mamas ou de cus, e a fantasia voava, voava, voava… e a irmã da canhota mexia, mexia, mexia…
Era esta a prática virtual do tele-sexo, havendo no entanto também alguma diminuta prática real, testemunhada só por comoros, penedos, giestais, matagais ou fetais de alta densidade.
Palavras socialmente interditas tais como pito, pintelho, ou piça, eram porém “objecto” muito estimulantes e tornavam-se palavras-chave em todas as conversas entre os rapazes da mesma geração.
Nos matagais funcionávamos como camaleões observando as cachopas curvadas distraidamente nos trabalhos agrícolas mostrando as pernas e os saiotes, e num relance – qual língua de camaleão – lhes roubávamos a imagem que sexualmente “deglutíamos” ali, só com os fetos as giestas ou os penedos como testemunhas.
É engraçado!... O afecto que todas estas práticas, virtuais ou reais, criaram em nós, de tal forma que, ainda hoje quando visitamos a Póvoa, vemos as novas gerações como se fossem nossos filhos e continuamos a visitar os soutos, pinhais, cômoros, giestais, fetais e falamos mesmo com eles afectuosamente gratos por terem sabido ser a caixa dos nossos segredos.
Diziam-nos que isto eram práticas pecaminosas, de que devíamos, arrependidos, confessar-nos ao Padre e obter o perdão divino; não cremos no entanto que alguém, algum dia se arrependesse ou que sinceramente e arrependido, se tenha confessado. Acreditamos porém, estar todos divinamente perdoados.
Se algum dia, algum de vós (mais novo) vir algum de nós (mais velho) parado, absorto, e falar com as pedras ou com os matos não penseis que estamos doidos, mas simplesmente a falar com as nossas memórias, e a agradecer àqueles a protecção que nos deram e os segredos que sempre guardaram.
Zé Macário

Anónimo disse...

Póvoa, cantinho de paz, de lembranças, de amor pela natureza. Póvoa é onde nos encontramos com nós próprios.

Passei lá todas as minhas férias grandes e muitas épocas festivas, como o Natal e Páscoa.

Foi na Póvoa que aprendi, com os rapazes, a assobiar, aprendi a nadar, no rio Balsemão, com as suas águas geladas e de seixos que feriam os pés, mas que eu adorava. Descia, juntamente com a Rita (amiga de Vila Real que também ali passava férias), o Souto até ao rio sempre contente e sem me preocupar com o percurso imenso que tanto custava mas não deixava de fazer.

Foi naquela aldeia que fiz grandes amizades, a Nela e a Lurdes. Também tinham férias “grandes” mas era neste período que tinham mais tempo para ajudarem na lida da casa, na lavoura ou no tratamento do gado.

Para estarmos juntas íamos todas para o monte e, enquanto as vacas pastavam calmamente, nós conversávamos e brincávamos. À noite brincávamos às escondidas, saltávamos à corda. Éramos muitos, a Dília, a Paula, o Jorge, o Rui, o João, o Fernando, o Nelson a Leonor, a Lurdes, a Cristina e tantos outros.

Já na adolescência, os namoricos tomaram o seu percurso normal.

Crescemos, casamos …E a responsabilidade do emprego, da família, dos filhos que vieram e encheram a nossa vida de uma outra forma, fez-nos esquecer como foram boas aquelas férias “grandes”.

Porque é necessário levar os “putos” à escola, porque hoje o trânsito está infernal, porque é preciso ir às compras, porque há aquelas contas para pagar, porque hoje o Nuno tem natação, porque a Joana tem música, porque hoje é domingo e é preciso levar os miúdos à catequese, porque, porque, porque…

Hoje parei por momentos e sentei-me no sofá, no intervalo da natação e da música. Uma nostalgia serena percorreu-me todo o corpo arrepiando-me. Quero voltar à Póvoa, tenho saudades. Quero olhar pela manhã o soito, com o sol a bater no monte, ainda meio adormecido, como que a espreguiçar-se, esticando os seus braços, sobre os castanheiros e fazendo lembrar aos passarinhos que são horas de procurar alimento e o chilrear ecoa pelo monte numa melodiosa sinfonia.

Quero levar o Nuno e a Joana num passeio pelo pinhal e mostrar-lhe a paleta de cores que a natureza usa e modifica sempre que a Estação é outra.

Aqueles tons castanhos, laranja e vermelhos do Outono; os mais variados verdes do Verão e todo o arco-íris das flores, fazendo com que cada uma seja mais bela do que outra, tentando captar a atenção dos insectos que rodopiam numa grande azáfama.

Quero que cheirem a terra molhada os fenos secos. Quero que o avô Costa conte as suas fantásticas estórias da mocidade e nos retrate um pouco o nosso passado, por vezes difícil de entender. Quero levá-los ao berço da Moura e ao pico do monte. Quero que eles conheçam outras realidades diferentes das suas, onde as crianças, em vez de uma playstation jogam cartas enquanto o gado pasta no monte, que em vez de aulas de música, sabem, como ninguém, distinguir o canto dos pássaros e os imitam na perfeição. Quero que vejam a neve nos beirais e quero acordá-los a meio da noite para verem os flocos a cair. Quero olhar para o céu e contar as estrelas. Quero ter tempo e espaço para não pensar, só para ver e escutar.

Quero ir à Póvoa………………..

Teresa Paula

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