sábado, outubro 22, 2005

Ai que saudades!...



Ai que saudades!....
Sim, que saudades eu tenho dos meus tempos de menina e moça!...
Dos serões que fazíamos todos em casa, ouvindo as anedotas e adivinhas do meu pai, ou escutando a “Nau Catrineta” que a minha mãe tão bem cantava. E nós, os irmãos, todos bons cantores, não esquecíamos os fados de Coimbra, que todos gostávamos.
Recordo com saudades aquelas idas pelo corgo abaixo, tudo numa corrida, a não ser que se encontrasse algum namorico. Nessa altura esquecia-se o tempo.
E se aparecesse o Zé Minhoto!....
- “ó que caraçasaquela é que é rica!.. dizia ele. Nesta altura o tempo passava sem se dar conta, e quando se podia, lá vinha o desgraçado a “acamboar” com um grande pedregulho metido no molho da erva.
- Aquilo é que são marotos!...
E o Chica? Ai o Chica a imitar tudo e todos, era da gente se mijar a rir.
Este foi mais um dotado que se perdeu no tempo e no espaço; mas os tempos eram difíceis e não havia as facilidades e as ajudas que há hoje. Caso contrário teríamos agora o Chica no lugar do “Bisalhão” para ajudar a Júlia Pinheiro na 1ª Companhia, e tenho a certeza que desempenharia bem o seu papel.
Recordo com saudades os bailaricos na eira de pinheiro, ao som do realejo do Isac.
As idas à Stª Eufémia, que para nós era uma festa.
A noitada do fogo dos Remédios, onde nunca o meu pai faltava, assim como eu e o meu Manel.
Òh tanta, tanta coisa boa e bonita!....
Até as próprias maroteiras dos rapazes, desde o roubar, ou melhor, fazerem desaparecer as galinhas, e a pobre raposa é que ficava com as culpas, ao irem durante a noite tirar a roupa dos estendais, para a irem estender na torre do sino. Só deles….
Já agora aproveitando a embalagem, deixem-me que lhes conte apenas duas de entre muitas das suas façanhas.
Uma noite, resolveram pregar uma partida ao tio David.
Foram buscar a burra e prenderam-na dentro de casa, junto à porta. Quando ele ia a entrar, deu logo um grande beijo no focinho da burra. Estão a ver o que lhe podia ter acontecido?! não havia luz, e ele entrar em casa, e sem contar bater contra o focinho do pobre animal!...
Claro a sua reacção foi gritar:
- Acudam-me, acudam-me….
- Tio António, anda um “sprito” maligno na minha casa.
- Ai minha rica casinha que tenho de te abandonar.
Doutra vez resolveram ir passear uma galinha a cavalo na burra do tio Minhoto.
Trouxeram a malograda galinha, que vinha toda contente a passear a cavalo, até ao largo. As do “Mestre” deram conta, abriram a janela e a galinha assustada, queré-qué-qué, queré-qué-qué, lá se foi, tentando esconder-se na sombra da noite, mas provavelmente não se conseguiu safar, e acabou nos estômagos dos raposos, como tantas outras.
Não acham que é para se ter saudades desses tempos? Mas…tudo passa, tudo esquece, só a saudade permanece.
M.C.O.V.G.

3 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
JMOV disse...

Muito obrigado, por nos trazer à memória, mais algumas das personalidades engraçadas da nossa terra. Provávelmente haverá muitas mais.
É bom revivermos,nem que seja por breves instantes, e podermos partilhar com os mais novos alguns dos melhores momentos da nossa terra e da nossa infância.

Anónimo disse...

Muito bem!...
É pena que muitas das pessoas que mais gostariam de ler estas histórias de outros tempos não tenham acesso a este site. Certamente cada um deles teria a sua para contar. Também te lembras de quando entornei um pote de água a ferver sobre um monte de brasas que a Mãe fazia nas noites de inverno para nos aquecermos? Foi só para vos meter medo, mas a verdade é que levei um valente ensaio, porque vos escaldei.
Um beijo de parabéns.

Manuel

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