sábado, setembro 10, 2011

TEMPOS QUE JÁ LÁ VÃO

Decorria a década de 50 do século passado, paroquiava Várzea De Abrunhais um tal padre Soeiro – que Deus tenha na sua glória.
Homem de quem se dizia ser grande barrasco, e não perder a oportunidade de cobrir as necessidades de qualquer rata de sacristia ou mesmo de confessionário. Homem às direitas, teria mesmo – se bem me lembro - assumido a paternidade dos filhos.
Ora, padreando assim com tanto zelo e caridade, tinha nesta freguesia a aversão dos homens, e grande simpatia entre as mulheres mais formosas e mais «necessitadas».
Lembro-me dele já muito velho e muito surdo.
Uma vez veio à Póvoa celebrar missa, em substituição do padre João Mendes, tendo como acólitos o Zé Duarte e o Joaquim Piedade.
Altissonante, de braço apontado na direcção do Zé Duarte, começou a homilia pela seguinte frase – repetida aliás ao longo de todo o sermão:
- Homem, paga-me o que me deves!...
Como era muito surdo, ignorava em muito o ambiente que o rodeava, e o Joaquim Piedade aproveitando-se desse facto, exortava o Zé Duarte a que lhe pagasse.
O Zé Duarte escondia o riso com a cara entre as mãos, envergonhado com o caricato da situação…
O padre repetia-se…
E o Joaquim Piedade incitava o Zé Duarte para que pagasse ao homem.
O padre voltava a repetir a frase, e o Joaquim Piedade insistia: - Paga-lhe, porque ele não se cala!
A prática foi assim uma gargalhada geral do princípio ao fim, pela cómica situação, gerada pela acção daqueles três actores.
Momento «teatral» digno de um Solnado!...
Foi o dia que mais gostei de ir à missa, e teria mesmo sido capaz de pagar para assistir àquele momento.
Muitos anos depois, e a título póstumo, obrigado aos actores.



Zé Macário

2011 / 09 / 04

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