sexta-feira, agosto 31, 2012

Festas da Póvoa 2012


Festas da Póvoa 2012

Regressado de férias, faço,  como habitualmente, o meu comentário às festas da Póvoa.

Eu tinha interiorizado a ideia de que, talvez daqui a uma década, as festas deixassem de se realizar por falta de promotores. Longe de mim porém, a ideia de que isso pudesse acontecer tão cedo.

Não obstante o respeito que deveria merecer a deslocação de tantos filhos da Terra, a estas já «tradicionais» festividades, parece que assim não o entenderam as pessoas nomeadas como comissão promotora.

É pena que agora, que parecia ter-se reiniciado o desenvolvimento de um novo espírito comunitário, as coisas fossem suspensas tão depressa.

Ao que fui informado, já teria acontecido o mesmo com a peregrinação da Sra. da Lapa, não fora alguém oferecer-se como substituto do indigitado, para salvar a « honra do convento».

Permitam-me meus caros «compoveiros» que relembre o seguinte facto histórico ou lendário:

A peregrinação à Sra. da Lapa foi um compromisso que os nossos ancestrais – da Póvoa, Juvandes e Melcões – fizeram por si e pelos seus vindouros, em «troca» da eliminação de uma qualquer peste dos castanheiros; o que significa que, honrando a palavra dos nossos avós, deveríamos continuar a assumir tal compromisso.

Parabéns por isso aos Homens que ainda não deixaram desta vez que tal compromisso fosse quebrado!

Pelo menos neste particular, são Homens que têm os «palmos da lei» e que devem ser exaltados por isso !...

Costumamos dizer que Portugal é um grande Povo, porque deu novos mundos ao mundo...

Ora, isto não é mais do que sentirmo-nos grandes, não pelos nossos feitos hodiernos, mas sim porque vestimos, imerecidamente, as calças, já «esfrangalhadas», dos nossos «icosavós» do século XV, sem reparar-mos sequer no ridículo que é a situação, de nos sobrarem calças e não aumentar a estatura.

 É patético apropriarmo-nos de uma herança cujos preceitos testamentários não cumprimos. Mas, enfim!...

Entendo como muito fantasioso o ensino da História de Portugal que me foi ministrado na minha instrução primária, tendo no entanto por objectivo incutir-me – e conseguiu -  os valores da honra, da dignidade, engrandecimento da Pátria e seus símbolos, e defesa de seus legados e compromissos «testamentários». Confesso que esse ensino me empolgou, e por isso, aqui evoco alguns exemplos:

a)     - Nos primórdios da nossa história, por altura do cerco a Guimarães, Egas Moniz – aio de D. Afonso Henriques e ao que se pensa, nosso conterrâneo – assumiu perante o rei de Leão, para que este monarca levantasse o respectivo cerco, o compromisso de que seu amo lhe prestaria vassalagem. Como D. Afonso Henriques se furtara ao cumprimento do acordado, Egas Moniz foi, de baraço ao pescoço, oferecer ao rei de Leão, a vida sua e dos seus, como penhor da palavra dada.

        

b)     - Era dia l de Março de l476, decorria a batalha de Toro entre tropas  portuguesas e castelhanas, com grande superioridade numérica destas.

Quando o alferes Duarte de Almeida tenta libertar a bandeira  portuguesa do vilipendio espanhol, é lhe decepado o braço direito, e ele defendeu-a  só com o braço esquerdo, e, «ignorando» ainda heroicamente no calor da refrega, a perda deste segundo braço, defendeu-a com os dentes, não deixando que fosse ignominiosamente enxovalhada pelo inimigo.


c)      - D. João De Castro, vice rei da Índia entre l5OO e l548, dirigiu uma carta aos habitantes de Goa solicitando um empréstimo para a construção da fortaleza de Diu, oferecendo como penhor as suas barbas.

Recebeu dos Goeses uma soma muito maior do que solicitara, e a devolução do penhor.


Eram estes ensinamentos, talvez muito fantasiados, que tanto me empolgavam.

Sim, empolgavam-me tanto, quanto me entristece hoje saber que, principalmente aqueles que mais ufanamente se pavoneiam entre a comunidade, exibindo as suas «filactérias com as gravações dos preceitos da lei», se demitem tão facilmente das  responsabilidades comunitárias que lhes são atribuídas, e deviam assumir. 

Zé Macário 

31/08/2012

3 comentários:

Anónimo disse...

Surpreendido?!
Não acredito.
Mas, a crise que se instalou em Portugal, não foi só financeira, também começamos a ter a crise de valores.
Mas meu caro Zé, se eu fosse politica, diria: Aqui têm o que quiseram gentes da minha terra.
E agora acrescentaria, mas vamos voltar a ter festa.
Não sou político, nem a tal aspiro e então apenas poderei dizer: Uma festa que estava a começar de aprender a andar não pode cair assim e não voltar a levantar-se e por isso vai voltar erguer-se e andar.

ARQUIMEDES disse...

Ora nem mais, meus bravos!
Dos fracos não reza a história. Vamos a eles, esses energúmenos que não respeitam a cultura de um povo, assente nos seus: usos costumes e tradições. Engorde-se o carneiro, encha-se a pipa e farte-se o povo. Às armas, às armas... contra eles lutar, lutar!

Anónimo disse...

Com quase 1 ano de atraso, quero dizer:
Haja gente de coragem, haja gente com vontade que não deixe cair um momento que faz respirar e encher de orgulho as gentes de um Povo que dificilmente será esquecido.

Maria Herminia Gonçalinho Oliveira

Reativar este blog

Iniciado em 2005, este blogue cumpriu em parte, aquilo para que tinha sido inicialmente projetado. Com o decorrer do tempo e tal como n...