sábado, maio 24, 2008

Profissão de fé

Enquanto católico, creio em Deus – pai – criador e senhor de todas as coisas visíveis e invisíveis; e acreditando n’Ele enquanto pai, acredito que conhece em pormenor o coração de todos os filhos, não me acometendo no entanto o arrogo abusivo de tentar interpreta -Lo enquanto divindade.
Não conseguiria entender a atitude de Deus na passagem bíblica sobre Caim e Abel, se não acreditasse que os verdadeiros pais conhecem profundamente o âmago dos filhos, conhecendo implicitamente as intenções das acções destes – não sendo o inverso totalmente verdade.
À primeira vista, não se percebe que sendo Deus, pai de Caim e Abel, aceite de bom grado os pequenos agrados de Abel, olhando com indiferença – é o mínimo que se pode dizer – as valiosas ofertas de Caim; e estimule assim o ciúme e a inveja deste em relação ao seu irmão.
À luz do pensamento humano, poder-se-ia mesmo perguntar em última análise, quem foi afinal o verdadeiro assassino de Abel. Porém, não, não vamos por aí.
Os pais ao tomarem atitudes de diferenciação entre os filhos, apenas tentam corrigir as palpitações destes – que bem conhecem – para que não “caiam”, não se “aleijem” e não sofram futuramente.
É porém, de muito difícil entendimento esta dialéctica e nem sempre produz os melhores resultados.
É de difícil aceitação por parte dos filhos, a ideia de que os verdadeiros pais conhecem bem – por ventura melhor do que eles próprios – o fundamento das suas acções, inibições, limitações, comportamentos e até intenções.
O pai é sempre pai, até muito para lá do fim dos seus dias, e com o conhecimento empírico que tem sobre a vida, deve reprovar aos filhos, comportamentos que levem à sua queda ou ao seu sofrimento.
E quando este diálogo for impossível – o que acontece muitas vezes, principalmente devido à necessidade de afirmação e independência dos filhos – o afastamento do pai não deve querer dizer mais do que isto: não aprovo o que fazes, não estou contigo nesta caminhada, não serei conivente com o mal que sei espreitar-te.
Arrepia caminho!
É realmente difícil esta dialéctica, até porque os filhos nunca vão aceitar que muitos dos males que subsequentemente os venham a acometer, são afinal fruto da não audição atempada e respeitosa dos pais. Sobre isto, leia-se São Paulo, o homem que no seu tempo, nas suas cartas às comunidades religiosas que se iam fundando, melhores conselhos deu sobre comportamentos humanos e familiares – embora nem sempre compreensíveis à luz da cultura e do pensamento contemporâneos.
Não devem os pais exasperar os filhos, mas também não me parece que devam afligir-se em demasia, pela exasperação que eles se auto infligem, enquanto objecto de aconselhamento ou repreensão dos pais.
Nada de novo afinal!
Já tudo era assim no tempo de Adão e Eva.



Ass: Zé Macário

3 comentários:

ARQUIMEDES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ARQUIMEDES disse...

Certo pai, desde os seus primeiros passos, ofereceu a cada um dos seus filhos duas muletas. Com uma delas, pretendia que eles se equilibrassem e com a outra que se sustentassem. Mais tarde ofereceu-lhes uma bússola para que rumassem a Norte. Pai prudente, diria qualquer um de bom senso. No entanto, fruto do tempo, da evolução dos materiais e das tecnologias, as muletas não possuíam a mesma consistência e, como tal, algumas cederam. Por outro lado, a utilização das bússolas também se não mostrou eficaz porque tal orientação só se verifica no Hemisfério Norte. Assim sendo, quais as garantias que tal pai tinha de que os seus filhos se equilibrassem, se sustentassem e rumassem a Norte? Por melhores que hajam sido as suas intenções, aquele pai descurou uma parte do conhecimento, esquecendo que a resistência dos materiais é limitada e que os campos magnéticos sofrem alterações constantes. Igualmente, esqueceu-se que outros pontos cardeais existem e várias são as vias que podem conduzir a Roma. Mais difícil será chegar ao Céu, mas também para aí, há quem aponte caminhos e há-os que, convictamente, pensam estar entre os eleitos e alcançá-lo. Pela minha parte, não quero o céu, mas uma terra imunda e à medida dos outros também não me apraz.

monted'ufe disse...

Dificilmente este tema deixará ao longo dos anos de estar actualizado.
Os filhos nunca entenderão as proibições impostas pelos pais, assim como os pais nunca entenderão na sua plenitude o crescimento dos filhos. Os pais cada vez mais tendem a proteger os filhos, tentando prepara-los para um mundo cada vez mais agressivo e cheio de ciladas. Os filhos por sua vez só desejam o facilitismo e a ajuda enquanto os satisfaz, rejeitando a mesma, quando proibitiva e ai, vista como uma repressão.
Os filhos só entenderão isso quando tiverem de proibir os seus próprios filhos, e aí vão argumentar que hoje é diferente de naquele tempo. Mas a única diferença é que tudo evoluiu, até o errado hoje é visto por alguns, como menos correcto, ou ainda por outros, como uma maneira diferente de fazer, ver ou aceitar as coisas.

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