sábado, abril 28, 2007

Cântico à Virgem do Pranto

A música e letra do cântico em honra de Nossa Senhora do Pranto que agora publico, não são profissionais. Eu própria as criei e não tenho formação musical nem em texto poético.
É uma melodia simples, tão modesta como o é a letra também. Todavia, na minha opinião, adapta-se à imagem de gesto triste, humilde e frágil desta Senhora.
É possível que não tenha grande interesse para alguns dos visitantes e colaboradores do blog. Porém, este cântico tem para mim um significado especial: acho-o autêntico e espontâneo porque surgiu de um impulso natural de uma necessidade de o realizar. Entendo-o e vejo-o como um acto oracional, no qual me envolvi a sério e outros como eu, se envolveram também.
Ao falar da envolvência de outros refiro-me ao grupo coral da Igreja Paroquial de Santa Maria de Agualva, a quem agradeço uma vez mais pela sua interpretação (vozes e instrumental).
No dizer do responsável deste grupo (o Ricardo), a gravação não está em perfeitas condições, devendo-se isso ao facto do reduzidíssimo tempo que houve (um dia apenas), para aprender a letra, ensaiar e gravar.

Nota: Esta música é dedicada em primeiro lugar à minha mãe, que me estimulou com a sua visível satisfação e aprovação quando a ouvia, às minhas irmãs Alzira e Alda Cristina que cantaram comigo na 1ª gravação e ao grupo coral que fez o trabalho definitivo que agora apresento. Dedico-a também aos meus conterrâneos, aos amigos da Póvoa e finalmente aos visitantes deste blog.
Para todos um abraço.

Celeste Gonçalinho Oliveira Duarte
Oiça aqui o poema
Veja aqui algumas fotos

quarta-feira, abril 25, 2007

Laureados ( por Zé Macário)

Tive ocasião e o prazer de, logo no inicio da minha participação no bloog, homenagear em vários escritos, pessoas simples da Póvoa, que influíram no meu crescimento, e que libertando-se da lei da morte, merecem serem lembrados entre os vivos. É no prazer das coisas simples da vida, que se vê a grandiosidade dos homens, que, por actos valorosos se vão da lei da morte libertando.
Foi tal o prazer nessas homenagens a pessoas idas, quanto o desprazer de imaginar homenageados aqueles de cuja vida, que se saiba, ninguém beneficiou.
Estes – que por vezes, nem na morte foram acompanhados – tendo vivido mortos ou nulos, não podem libertar-se nem nos é legitimo que os libertemos da lei da morte, até por configurar um acto de grande injustiça em relação aos outros.
Como de costume, no 25 de Abril e já perto do 10 de Junho, cá virá a procissão dos condecorados e comendadores – alguns valorosos entre tantos nulos…
Alguns mesmo, deixando atrás de si esteiras de vítimas exploradas.
Enfim, foge cão, foge cão, que fazem varão! Para onde? Para onde, se me fazem conde?!
Também no que diz respeito às coisas e gentes da Póvoa, me parece não devermos fazer promoções ou louvaminhas exageradas àquilo que nos parece menos merecedor. E neste particular, revejo-me muito num artigo de um anónimo que realço pelo conteúdo, entre outros seus de que mais gostei e invejo, pela singeleza e beleza da construção literária. Absoluto amante da vida, não posso ver em qualquer outra criatura um mérito maior, do que o dos nossos pais ou avós, que audaciosamente operaram o feito valoroso de nos parirem, criarem e educarem – sem a rendição à tentação do aborto – apesar das dificuldades com que o fizeram, afrontando, na nau das tormentas o mar revolto, que era a vida do seu tempo.
Não apoiarei portanto a promoção da imagem de alguém que, de si ou de seu, nada dera aos seus ou à sociedade. Não tenho nada contra quem o queira fazer – cada um sabe das suas razões – mas, também eu não darei nada para esse peditório.
Porém àqueles simples, que por “simples” actos valorosos, se vão da lei da morte libertando, também eu louvarei por toda a parte, se a tanto me ajudar o engenho e a arte.

Nova Apresentação


Na esperança de uma boa receptividade, também hoje resolvemos dar uma cor diferente ao nosso blog, a cor da esperança.
Esperamos de todos a continuação da vossa colaboração

O primeiro Marquês de Povoalva


Em finais dos anos trinta, chegou a terras D`El-Rei um anónimo cidadão com o fito de aí se fixar e fundar o seu império sentimental. Não se apresentava montado em garanhão de alta escola conduzido por esporas de ouro ou de prata, mas sim a pé, de tamancos coçados e desajeitados. Portanto, nada que fizesse lembrar qualquer personagem dos clássicos da literatura universal. Quando se passeava pelo terceiro dos seus povoados, travou conhecimento com Dona Margueritta, senhora de fino trato, filha do terceiro conde de Gonçalvinhos e da duquesa de D`Oliva. Decorrido algum tempo, depois de alguns contactos e de algumas peripécias pelo meio, o anónimo cidadão lá se enamorou pela dita senhora e adivinhava-se o casamento próximo. Não obstante o título nobilárquico, esta família não era tão abastada quanto isso. Por sua vez, a D. Vasco, assim se chamava o cidadão, nada restava que não fosse um espírito de guerreiro ganho à custa de umas quantas batalhas que havia travado noutras paragens. Tais limitações não seriam, no entanto, impeditivas de satisfazer as duas vontades num enlace matrimonial e disso mesmo deram conhecimento à família da nobre senhora, tendo, de seguida, acontecido o tradicional pedido de mão. Tanto o conde quanto a duquesa deram o seu assentimento, tendo para o efeito, estabelecido que Dona Margueritta receberia, em forma de dote, o empréstimo de uma casa para habitação, um pequeno trem de cozinha, algumas terras de renda e umas quantas alfaias agrícolas. Quanto a D. Vasco, este propôs-se arranjar uns quantos quilos de sementes, das quais constava uma arroba de batatas, promessa de um abastado compadre. Desta forma, deram cumprimento aos seus desejos, iniciando o seu noivado e tendo vindo a casar, uns meses mais tarde, com a bênção do cardeal Cartabranca, primeiro irmão da nubente.
Pareciam, assim, estar reunidas as condições mínimas para se estabelecerem, desenvolverem e serem felizes. Todavia, não tardou que tal cidadão revelasse uma personalidade multifacetada, expressa em atitudes rudes, ar austero e ambições pessoais incontidas, contrastando com o fino trato da senhora, o que originou uma vida de conflito permanente ao ponto de, em momentos vários, este lamentar o facto de não haver consumado algumas das suas antigas paixões: Dona Sujelia, condessa de Quintelais e, mais tarde, D. Viuvelina, prima em segundo grau de D. Margueritta.
Além dos atributos atrás referidos, este “ilustre” cidadão possuía um indisfarçável culto de auto-imagem, alicerçada na aceitação que lhe era dada pela sua expressão fácil, ar generoso e capacidades de intervenção e liderança, tendo-se tornado, até, juiz e conselheiro. Por tal motivo, adquiriu um estatuto tal que, em Assembleia Magna do Povo, lhe foi atribuído o título de primeiro Marquês de Povoalva a que foi acrescido, mais tarde, o de Aquém e Além-Rio e Terras Circunvizinhas. Por essas alturas já se movimentava em elegantes jumentas, encasacadas com o mais fino tecido da Cordoaria Nacional. Para que este suado título se perpetuasse e contrariando todas as tradições da nobreza, delegou no segundo dos seus três filhos a missão de levar a cabo tal tarefa. Para o efeito, tratou de o educar segundo as boas regras e de o proteger de todos os males da natureza: do sol, do frio, da chuva e até das trovoadas. Tal tratamento diferenciado viria a produzir os seus efeitos, tendo sido atribuído a este “principesco” jovem o grau de “Intocável”, pela Academia Superior da Opinião Pública. Entretanto, os dias do marquês iam chegando ao fim e aquilo por que tanto havia lutado ia-se esfumando, numa espécie de neblina matinal que precede um novo dia.
Partiu o marquês e a vida continuou para uns e renasceu para outros, sem títulos ou honrarias, mas com a marca indelével do tempo de outros tempos.
(Sinopse dos capítulos I e V do livro “Venturas e desventuras de um renegado”)
Ass: Anónimo

segunda-feira, abril 23, 2007

A CORRIDA AO OURO NEGRO



Com este título, demasiado comum, pretendo transportar-vos para uma realidade vivida há umas décadas atrás, por alturas do Verão, aquando da maturação e colheita do centeio, um dos principais produtos agrícolas desta terra e base alimentar da sua população.
Se bem se lembram, os mais velhos, ao mesmo tempo que apascentavam os seus animais nas orlas das vastas searas de centeio, dedicavam-se à apanha do cornelho. Também os crivos das malhadeiras eram vasculhados à procura do mesmo produto. Mas o que era, afinal, e o que tinha ele de tão importante?
Numa breve síntese, tratava-se apenas e tão só de um fungo, de cor negra que surgia em várias espigas de centeio, ligeiramente parecido com um grão alongado. Não se sabia o porquê, mas é verdade que esse produto era vendido a peso de ouro. Lembro-me de na década de sessenta e setenta ser vendido a um preço variável entre os quinhentos e mil escudos o quilo. As pessoas questionavam-se sobre tão exorbitante preço e qual o destino do produto. Falava-se, em surdina, que seria destinado à indústria farmacêutica. Pois bem, não andavam muito longe da verdade os que assim conjecturavam. Talvez para vossa surpresa, posso garantir-vos que o mesmo se destinava ao fabrico da dietilamida de ácido lisérgico, conhecido como LSD, um poderoso alucinógeno, percursor da heroína e da cocaína e com efeitos similares. Afinal, a questão das drogas não é nova! O problema é que não era tão divulgada e o poder de compra dos consumidores era reduzido. Por tal motivo, o seu consumo era limitado às altas esferas das sociedades mundiais. Embora este produto fosse sintetizado em 1943, já no século XVII era usado como terapia para certos males. Este mesmo produto foi ainda muito utilizado na prática abortiva. Quem diria que os que apontam o dedo a outros, por motivos vários, e convictamente votam contra o aborto, fossem esses mesmos, embora indirectamente, a contribuir para tal? Questiono-me se nesses mesmos tempos e a preços tão exorbitantes este conhecimento alteraria a atitude de alguém. Sou daqueles que acreditam que a honestidade e os princípios, se é que os há, dependem apenas da conjugação do trinómio necessidade/ambição/preço. Neste domínio e como reforço deste juízo, recordo o episódio bíblico em que ninguém ousou atirar uma única pedra à conhecida “pecadora”.
Brevemente vos surpreenderei com outro produto idêntico, este da família da “claviceps purpurea” e o outro a revelar.
Anónimo

domingo, abril 22, 2007

O ontem e o hoje


Nunca foi minha ideia vir aqui falar de história, e muito menos trazer para este espaço quaisquer tipos de recordações de guerras, mas aparecem por vezes noticias que nos fazem mudar de ideias.
Provavelmente ainda hoje não estaria aqui a escrever estas linhas, se não tivesse recentemente lido, um artigo de Alexandre Herculano publicado em 1838, com o seguinte teor: “Dentro em pouco os inválidos que lá existem terão de ir mendigar o pão, que a pátria tem obrigação de lhes dar, havendo eles ganho o direito a recebe-lo com o seu sangue, e com os perigos e fadigas da guerra, que só sabem avaliar aqueles que os têm passado
(Referia-se aqui A. Herculano, aos veteranos de guerra que se encontravam no Real Hospital de Veteranos, em Runa.)
Ao ler este artigo, lembrei-me imediatamente de duas coisa:
De dois velhos soldados que tive o prazer de conhecer e que tinham participado na 2ª guerra mundial, e todos os anos compareciam fardados, ostentando as devidas condecorações de guerra, no dia do aniversário da assinatura do Armistício, (11 de Novembro) na Avenida da Liberdade em Lisboa, e do que mais recentemente fora prometido aos ex-combatentes do ultramar.
Se Herculano em 1838, já escrevia aquilo, o que diria ele hoje se cá andasse?
Puderam aqueles dois militares contar com o apoio de um hospital real, (agora, lar) onde viveram os seus últimos dias, de vida devidamente acompanhados e com a assistência que mereciam, porque uma princesa, de nome “ Maria Francisca Benedita Ana Isabel Josefa Lourença Inácia Gertrudes Rita Joana Rosa” que casara com um sobrinho com apenas 15 anos, quando ela já tinha 30, e que após enviuvar, resolveu mandar construir em Runa um hospital, que demorou 35 anos a construir, e ao qual dedicou toda a sua vida e riqueza, em favor dos veteranos de guerra., mas que após a sua morte passou por algumas dificuldades financeiras. E agora? O que tem sido dado aos milhares de ex-combatentes, que continuam a sofrer de graves perturbações, provocadas por uma guerra que não quiseram?
Estes tal como aqueles, também merecem continuar a ser vistos como verdadeiros patriotas. Cumpriram aquilo que a Pátria lhes exigiu. Cumpra a Nação o seu dever de patriotismo para com eles, não os esquecendo, como tenta esquecer, para os deixar impunes, aqueles que tão mal têm feito a este país.
JV

sábado, abril 21, 2007

Avaria na parabólica ( por Zé Macário)

Andava Jesus Cristo cá pela terra, e um dia contou uma parábola mais ou menos do seguinte teor:
- Um dia um administrador, sabendo que iria ser despedido, chamou os indivíduos que deviam dinheiro ao seu senhor, e acertou com eles o registo de uma imensa redução da dívida, lesando com este “furto” os interesses que devia defender.
Caindo na miséria depois de despedido, este administrador foi recebido e alimentado em casa daqueles a quem tinha reduzido as dívidas.
E Cristo termina a parábola louvando a acção deste homem por saber conquistar amigos com o dinheiro da iniquidade.
Tendo defendido noutra ocasião que é devido a César o que é de César, parece-me haver contradição entre estes dois princípios.
Sem pretender reduzir o pensamento de Cristo ( Deus ) , à dimensão da minha compreensão (humana) , mas supondo que era para mim que falava, confesso simplesmente que não percebo a parábola.
Terei ouvidos de ouvir? Terei sentidos de sentir?
Possivelmente uma qualquer interferência na minha “parabólica” não deixa chegar o sinal, com a nitidez necessária à compreensão da parábola.

sexta-feira, abril 20, 2007

A Parábola ( por Zé Macário)

Em certa altura da sua vida, e numa severa crítica à avareza, disse Jesus Cristo aos seus discípulos:
É mais fácil entrar uma camelo num buraco de uma agulha do que um rico no reino do céu.
Nunca ao longo de vinte e tal anos tinha compreendido a utilização da figura do camelo, naquela asserção.
Embora percebesse o sentido e o exagero da alegoria, não conseguia perceber a lógica da utilização da figura daquele animal. Porque não utilizar a figura de um elefante, de um hipopótamo ou de um rinoceronte?
E que ideia maluca de querer enfiá-los no buraco de uma agulha? E para quê?
Só aos 25 anos, com a aprendizagem de vários termos técnicos de marinhagem, vim a saber que um camelo é afinal a corda mais grossa de um navio e que serve para a amarração deste, à muralha do cais onde atraca.
Disse corda mais grossa, porém disse mal, pois a esta corda como a todas as outras num navio, se chama cabo, à excepção de meio metro, preso ao badalo da sineta na proa do convés.
Com a revelação de que uma corda muito grossa é um camelo, fizera-se luz na minha cabeça, e ficara esclarecida a figura do camelo na imagem daquela alegoria.
Sim, agora havia lógica e tudo fazia sentido.
Enfim, o tempo que um homem leva a aprender coisas tão simples !...
Também agora na visita pascal, o reverendo pároco, me ensinou que Macário, é derivado da palavra grega Macárius e que significa homem de sorte.
No caso do meu pai, o significado correspondia mesmo à verdade, pois ele era um gigante que tinha e espalhava sorte, por onde quer que passasse.
Devia fazer-se-lhe uma estátua, mas não há na Póvoa pedra com tamanho suficiente, para esculpir um gigante daqueles, e com uma alma ainda maior !...

quinta-feira, abril 19, 2007

A tainha ( por Zé Macário)

Ainda na minha geração, o estuário do Tejo era habitado por uma fauna bastante rica, e não há muitos anos ainda, havia aqui dois golfinhos que exibindo as suas brincadeiras, faziam as delícias dos passageiros dos cacilheiros, e dos turistas que em travessias de e para a outra banda, demandavam o mar da palha. Quer por motivos de morada, quer por motivos profissionais, estes golfinhos tornaram agradáveis muitos, muitos dos meus dias.
Hoje porém, e não obstante a despoluição a que já foi sujeito este estuário, ele é habitado quase só por tainhas – peixe de águas pouco profundas – e que vivem à babugem de todos os resíduos que flutuam no cimo das águas. Lindo, lindo, este peixe!
Ninguém pense porém comê-lo, porque a sua frescura e beleza nos enganam. Seja qual for a forma de o cozinhar, têm sempre um intenso sabor a petróleo, próprio aliás das águas em que só esta espécie consegue sobreviver e multiplicar-se.
Já há bastantes anos atrás, estando a trabalhar a bordo de um navio Japonês, atracado ao cais da Fundição ( Santa Apolónia) observei a cena que a seguir descrevo:
- Tendo uma maré cheia levado grande quantidade de água para dentro dos esgotos da cidade, dois marinheiros daquele navio, colocaram grandes redes num bocal desses esgotos, que na maré vazante, e com o retorno das águas, se encheram, cheiinhas, de tainhas lindas e frescas, capturadas portanto no regresso de uma visita às sanitas de muitos lares da baixa Lisboeta; Foi esta, uma pescaria maior, muito maior do que a tal do São Pedro que nos é relatada pelo evangelho.
Continuavam lindas aquelas tainhas, não obstante a viagem que acabavam de fazer sem qualquer escafandro.
Parece-me que também a degradação ou alteração dos valores reguladores da nossa vida colectiva, estão a empestar de tal forma o ambiente que, a breve trecho só conseguirá sobreviver nele uma espécie sub-humana sem coluna vertebral. Sucedem-se quotidianamente denúncias de pedofilia, de abuso sexual de menores, de corrupção, de tráfico humano, eu sei lá…
Aparecem vulgarmente autarcas e outros políticos e governantes constituídos arguidos por peculato ou outra qualquer forma de apropriação ilícita de fundos…
Há insinuações de grande promiscuidade entre universidades privadas e governantes, usurpação de títulos académicos, leccionação por professores inabilitados para tal…
Tudo isto descredibiliza pessoas e instituições.
Há assaltos a bancos, carrinhas de transportes de valores, gasolineiras etc, e começam a ser já muitas as agressões às autoridades policiais, e assassínios por dá cá aquela palha, ou por meia dúzia de tostões…
Os professores perderam a autoridade e são agredidos fisicamente dia a dia, pelos alunos que, parece serem apoiados muitas vezes pelos próprios pais. As famílias honradas começam a ter dúvidas sobre os valores em que devem educar os seus filhos, para não os sujeitar a viver vassalagens sob malfeitores…
Antigamente os facínoras eram representados na tela, com caras muito feias, desgrenhados e andrajosos.
Se hoje fossem representados, teria de ser por nédios, bonitões, bem enroupados, engravatados e engomados.
Tal como na velhíssima sociedade espartana, à “ pirataria “ tudo é permitido e incentivado, com a única proibição de que não se seja caçado em flagrante.
A justiça é tardia, infuncional ou inexistente e já não há condenação social – mas antes louvores – pelos maus actos de ninguém, considerando-se até irrelevante que um governante seja verdadeiro ou um compulsivo mentiroso.
Vivemos cada vez mais cercados pela ignomínia, e parece que só ela sobreviverá – tal como a tainha – neste meio, cada vez mais putrefacto.
Não me confesso surpreendido porém, pois percebi que poderia vir a ser assim, quando a seguir ao 25 de Abril verifiquei que poderia vir a ter ao leme deste país, a maioria do tempo, uns ociosos auto proclamados antifascistas, alguns filhos de beneficiários do antigo regime, que, - tal como Dom Quixote – encontraram no combate ao fascismo, a razão de ser das suas vidas, tornando-nos a nós, ao longo destes anos, fiéis escudeiros Sanchos Panças.

CARTAS NOTADAS

CARTAS NOTADAS
Há uns bons anos atrás esta aldeia padecia do mesmo mal que a maioria da sociedade portuguesa, a iliteracia. Desta forma, quando os mais velhos pretendiam escrever a alguém, recorriam à vizinha ou à amiga. Era um processo complexo que implicava um acentuado grau de confiança na pessoa que escrevia e esta, por sua vez, tinha o rigoroso dever de sigilo. Então, era frequente ouvir-se dizer: “Vou notar uma carta para o meu Júlio”; “Preciso de notar uma carta para a minha Ana, mas nem sei com quem vá ter. A Amélia é uma língua de trapo e a Graça nem tempo tem para catar os piolhos”.
De uma forma ou de outra, lá iam suprindo os seus deficits literários e enviando as suas mensagens. Estas, de um modo geral, baseavam-se nas vivências do quotidiano, acrescidas de uma ou outra questão social e, de quando em vez, uma ou outra fofoquice, não fugindo muito ao modelo que se segue:
“ Meu querido filho:
Espero que esta carta te vá encontrar de perfeita e feliz saúde. Nós por cá todos bem. Soube que tens tido muito trabalho e que te encontras um pouco adoentado. Olha, por aqui, as coisas também não vão muito bem: o frio é muito, as couves queimaram-se todas e há falta de pasto para o gado.
Não vês que a malvada da coelha pariu sete coelhinhos e matou-os a todos! O porco está a ficar bem cevado e, lá para o Natal, vai à faca!
O Manel da Zeza fala com a Teresa da Micas e parece que vamos ter casório! Já os viram a beijar-se em público! É uma pouca vergonha! Mal empregado rapaz para aquela sirigaita!
Ouvi dizer que o Carlitos da Mariquinhas vai para o seminário. Aquilo é que vai ser um tal padre!
Muito mais tinha para te contar, mas como o tempo escasseia…
Quando é que vens cá? Não estejas preocupado connosco! Não nos falta nada! Graças a Deus temos muitas batatinhas, muita hortaliça e ainda um naco de pá para comerdes quando vierdes. Faz hoje quinze dias que cozi o pão e ainda está fresquinho. Se calhar, vou ter que o cozer outra vez. Isto, se o moleiro não se esquecer de vir. Os salpicões do ano passado vendemo-los a dez notas o quilo e os presuntos a dois contos. Vê lá se não é um bom dinheirinho!? Olha, aqueles dois frangotes que cá viste são para dar ao médico, se ele der a baixa ao teu pai. Se não lixa-se e levo-os à feira que sempre renderão cinco notas.
Meu querido filho, despeço-me de ti com muitas saudades. Um abraço para ti e outro para a tua Maria. Diz-lhe que mandei um abraço para ela. Beijinhos para a Rita, para o Nuno e para o João. Diz também à tua vizinha que eu perguntei por ela. Não te esqueças! Que Deus vos abençoe a todos.
Até à volta do correio”
Pois, era assim mesmo. Vastas vezes, tive a honrosa missão de satisfazer o apelo de alguns desses notantes. Custava-me um pouco, devo confessá-lo, mas não podia nem devia deixar de o fazer. Tais missivas retratavam fielmente a vida de um povo: na sua forma de ser e de estar, nas suas condições de vida e limitações, nos seus projectos e ambições, enfim, em pequenos nadas que davam razão de ser à sua existência.

Anónimo

terça-feira, abril 17, 2007

HOMENAGEM


Há dias, quando caminhava pela rua e acariciava uma criança dos seus sete/oito anos de idade, esta, muito senhora do seu nariz e apontando-me o dedo, referiu-me:
- Olha que eu tenho um tio padre!
Esta expressão tocou-me particularmente porque eu também tive um tio padre e terei sentido o mesmo algumas vezes. Tratar-se-ia de uma manifestação de apreço, admiração ou afectividade? Seria o reconhecimento ingénuo de uma certa forma de poder instituído que ainda por aí vai proliferando? Fosse o que fosse, tal conduziu-me a uma reflexão mais profunda sobre a influência que os padres e as freiras tiveram nas gentes desta terra. Quantos não foram “mimados” por estes? Quantos teriam a formação académica que têm? Quantos não foram colocados no mercado de trabalho? Pois é, isto são realidades insofismáveis e das quais tão boa gente se esquece. Pela parte que me toca, não lhes estou minimamente reconhecido. O único caso de gratidão de que me lembro foi a eminência de uma expulsão do Colégio de Lamego com o beneplácito desse meu tio que até era padre. Dever-lhe-ei estar agradecido por isso? Talvez sim! Poderá ter sido o primeiro passo para eu aprender a crescer sozinho. Mas, independentemente deste particularismo, para bem ou para mal, a influência dos padres e das freiras, dos tais tios e tias, foi decisiva na sociedade local. Se lhes devem estar gratos ou não, isso é do foro pessoal. Para mim, esta interferência, ainda que bem intencionada, foi limitativa em termos do desenvolvimento individual. Coarctou imenso a capacidade de iniciativa e criou em muitos um espírito de subserviência e acomodação. Estabelecendo uma comparação com os povos vizinhos que não sofreram estas influências, verificamos que estes dispõem de melhores quadros e de um maior sentido empresarial, não se limitando aos professores primários e enfermeiras que tal contexto criou. Trata-se pois do verdadeiro reflexo de uma educação, de certa forma monástica, a que a igreja sempre se dedicou. De qualquer das formas, estes tios e tias que um dia fugiram às agruras da vida e à miséria, tudo fizeram para que outros as não tenham sentido. Por isso, e só por isso, eu lhes rendo a minha homenagem.
Bravos, bravos!

Anónimo

sábado, abril 14, 2007

Meu caro Zé:
É sempre com grande agrado que leio os teus artigos. A lenda da alcateia, agora recriada por ti, com novas personagens, mais uma vez me fez regressar aos tempos em que já meio a dormir meio acordado me tentavam convencer de que se me portasse mal os mesmos lobos me iam aparecer.
Hoje vejo com agrado o teu apelo à união e participação de todos, na ajuda que possamos dar aos autarcas, para que também eles se sintam acarinhados e apoiados pelos incentivos que de todos nós possam receber.
Concordo contigo, sem contudo querer dizer que se deva a tudo dizer que sim, quando não se concorda, mas se a critica for construtiva também ajudará os nossos autarcas a melhorar o que possa estar mal.
O tempo das pessoas aceitarem tudo, alegando que primeiro nada havia, e agora já temos isto ou aquilo, mesmo sendo fraquinho, já lá vai.
Temos por obrigação o dever de não nos calarmos àquilo que está mal.
Parece-me lógico que se possa e deva enaltecer o trabalho desenvolvido por esta Junta nos últimos tempos na Póvoa. Merecem de todos nós uma palavra de incentivo, mas também requerem de todos nós uma critica naquilo que mesmo fazendo melhor que aquilo que estava, ficou mal. Devemos por isso denunciar e exigir as reparações das coisas mal feitas.
O Sr. Presidente da Junta, (que muito considero), finalmente e após anos de espera por parte da população, mandou fazer aquela obra no cemitério, que considero de muita utilidade e por isso merece também aqui ser referenciada. Mandou ainda calcetar a rua que vai do fontanário ao tanque de lavar, mais uma boa obra, só que esta com erros demasiado grandes para que se possa deixar passar sem ser denunciada Não sei se já reparou ou até se já exigiu a respectiva reparação por parte do empreiteiro, mas nesta obra as coisas não ficaram bem. O Sr Presidente já passou por lá para ver os desníveis que ficaram agora em relação aos que havia primeiro, na entrada de algumas casas? Aconselho-o a passar por lá e ver que há casos de desníveis superiores a 30 cm. Penso, Sr Presidente, que o Sr não aceitaria um trabalho daqueles, junto a uma casa que fosse sua. Tenho a certeza que imediatamente mandaria levantar todo o chão e exigiria ao empreiteiro que fizesse as coisas profissionalmente. O empreiteiro que fez aquele serviço tem a obrigação de o reparar e o Sr o dever de exigir uma obra que seja benéfica para todos sem contudo prejudicar ninguém. Só assim haverá democracia, mais ainda quando os dinheiros para estas obras são públicos, e não de um qualquer particular. Sr Presidente passe pela Póvoa e veja o serviço que está feito, e verá que tenho razão no que digo e depois diga-me, se aceitaria ficar com uma obra daquelas, junto à entrada de uma casa sua.
Já que estamos a falar de obras, e porque o apelo já aqui foi feito, e mais uma vez foi agora aflorado pelo Zé Costa, gostaria também eu de lembrar a todos a necessidade de unirmos esforços com vista à reparação do tecto da nossa capela, até porque esta parece ser uma obra urgente e que não vai poder esperar muito mais tempo, nem esperar que os apoios estatais cheguem.
Como todos sabemos este tipo de donativos entram nas deduções dos benefícios fiscais do IRS.
Um abraço para todos.
Jorge Venâncio
APELO ( por Zé Macário )

Acolhi com a maior boa vontade e com as melhores perspectivas o convite para participar activamente no bloog da Póvoa.
Imaginei-o imediatamente como um óptimo veículo de cruzamento de ideias e principalmente de intercâmbio com o poder autárquico, disponibilizando-lhe um melhor conhecimento das nossas gentes, e solicitando a realização das obras necessárias à satisfação das necessidades básicas das pessoas e também ao embelezamento e fluidez de trânsito auto na aldeia da Póvoa.
É por exemplo possível, com reduzidíssimos gastos, a passagem de automóveis em todas as ruas.
Assim, foram nesse sentido alguns dos primeiros artigos que escrevi, entendendo a necessidade de criar um clima de conhecimento e convívio com os referidos autarcas. Pensava eu que atrás de mim, outros e outros se seguiriam reforçando estes princípios, e não deixando em mim o ónus da saturação, pela repetição. Parece-me que, esta acção que teve um óptimo inicio, que levou até à organização da primeira festa convívio, cedo se deixou enfraquecer ou ficar pelo caminho.
Não podemos esmorecer e aguardo com ansiedade que também outros retomem este caminho.
É um apelo! Temos que nos unir aos elementos da junta de freguesia e formar com eles um coeso grupo de amigos que, muitas vezes se encontrem e algumas celebrem.
Se todas as nossas vivências têm de ser estimuladas para se manterem vivas, também as dos autarcas têm as mesmas necessidades.
Estimulemo-los pois, testemunhando-lhe a nossa amizade para além do exercício das suas competências.
Teremos de arregimentar para esta causa também, o Reverendo Pároco, como director espiritual que é desta comunidade, dado que para a causa dele (a restauração da capela) já todos estamos conquistados à partida.

quinta-feira, abril 12, 2007

A lenda da alcateia

Tem séculos esta história, contando-se puída de repetida, nos serões das longas noites de Inverno à volta da lareira entre as diversas histórias de terror, de lobos, de lobisomens, bruxas e feiticeiras, que embalavam, encantavam e atormentavam a minha meninice:

É da Póvoa o Albino e de Parafita a Carminda, sua conversada, por quem aliás morre de amores…
É tempo de recolha do milho – base de sustentação das gentes deste tempo – e há desfolhadas e debulhas em Parafita.
Na Póvoa, noite alta, e já na cama deitado, debate-se a imaginação de Albino entre o amor ciumento e o medo de atravessar aquela serra árida e solitária, toda povoada de lobos e perigos vários…
Não, não podia deixar que naquela desfolhada a sua Carminda pudesse, longe de si, ser abraçada por um qualquer rapazola cobiçoso e atrevido, que tivesse a dita de encontrar uma espiga de Milho Rei.
Afim de evitar alarmes em família, colocou em seu lugar, na cama, um pequeno molho de canas que, coberto com os lençóis e cobertores, configurava o próprio corpo, garantindo assim a sua presença, fictícia, em casa.
Sorrateiramente cobre o capote, sai de casa e põe-se a caminho de Parafita com o coração ardente de paixão pela sua amada.
Tendo só por companhia as cintilantes estrelas – que nessa noite tinham mais brilho – avança resoluto por ermos e áridos caminhos, assaltado muitas vezes pela visão imaginária de perigosos fantasmas .
Também o padrinho que na Póvoa mora perto de si, é assaltado por pesadelos medonhos, com a visão sonâmbola de um ataque de lobos ao seu afilhado.
Indo alarmado a casa da comadre perguntar pelo afilhado, esta sossega-o com a exibição do vulto das canas que , na cama, parecem o seu Albino. Enquanto isto, Albino avança no caminho a passos largos.
O padrinho não conciliava o sono e o sono não conciliava a sua tranquilidade…
Perante um segundo e um terceiro pesadelo com a visão dos lobos em fúria, o compadre volta a casa da comadre e então descobrem o engodo do molho das canas.
Por esta altura, o Albino irá para lá do cruzeiro do padre Justino, já muito perto das apertadinhas.
Descoberto o engodo, e perante a aflição do padrinho, com toque de sino a rebate, meia Póvoa se levanta e corre solícita no encalço daquele.
Junto ao cruzeiro de Parafita, Albino é atacado por sete lobos esfomeados… luta enquanto pode, destribuindo sacholadas, para afugentar os bichos…
A caminho e já nas apertadinhas, as pessoas da Póvoa ouvem os gritos e a luta de Albino…
Bem lhe gritam ainda, ânimo! Coragem ! Aguenta-te ! Larga perro! Era porém tarde demais, e quando estes amigos chegaram perto do cruzeiro de Parafita, já Albino tinha sido todo comidinho pela alcateia que, só deixara como vestígios os pés, dentro do cano das botas .
Carminda guardou luto até ao fim da vida, e para ali vinha todos os dias guardar as ovelhas, e, debroçada no penedo junto ao local onde Albino se foi, todos os dias carpia lamentos, que com o tempo, se tornaram numa canção-lamento.
Lá está ainda o penedo, polido, sem musgo, e , garanto-vos, que sempre que ali passo, encosto-lhe o meu ouvido, e é perfeitamente audível aquele dorido e terno lamento.
Também nas águas do rio que ali correm bem perto, e que em tempos testemunharam a tragédia, se ouve em doce múrmurio a bela canção dos amantes, celebrando nupcialmente o seu reencontro no céu.

segunda-feira, abril 02, 2007



Agradecimento ao Grupo Coral da Igreja de Santa Maria de Agualva

Eu, celeste Gonçalinho de Oliveira A. Duarte, quero aproveitar este meio de comunicação para publicamente mostrar a minha gratidão para com o jovem Grupo Coral da Igreja de Santa Maria de Agualva, pelo facto de ter interpretado instrumentalmente e com as suas belas vozes, a letra e música dedicada à Virgem do Pranto, que eu com algum esforço mas sem conhecimentos técnicos musicais, consegui realizar.
Gostei muito do vosso desempenho!
O meu muito obrigada a todos vós os que colaborastes de boa vontade neste meu modesto trabalho, especialmente ao Ricardo Santos "coordenador do grupo"a quem fiz o pedido.
Que a vossa vida vos sorria e se complete de melodias de Paz de saúde, alegria e de todo o bem.


Celeste Gonçalinho de Oliveira A. Duarte

Reativar este blog

Iniciado em 2005, este blogue cumpriu em parte, aquilo para que tinha sido inicialmente projetado. Com o decorrer do tempo e tal como n...