sexta-feira, dezembro 29, 2006

Quem sou?

Muitas vezes me tenho colocado a mim, ou a um qualquer alter ego, a seguinte pergunta: Quem sou?
Serei realmente quem penso que sou? Sou antes quem tu pensas que sou?
Alguém me confidenciava a propósito de um artigo meu no blog: Nunca te imaginei com aquele tipo de sensibilidade...
Então, eu não sou quem aquele amigo sempre pensou que eu sou, e ele construiu de mim, uma imagem distorcida...
Porém, que certeza tenho eu também, de ser quem eu penso que sou?
O que será mais importante e real na minha existência, quem eu penso que sou, ou o que o outro, ou a comunidade pensam de mim?
Por exemplo, eu penso ser sério, cumpridor, e honesto; Porém se a comunidade ou o outro, tiverem de mim uma ideia diferente, eu não consigo em qualquer lado obter o crédito necessário para a pessoa que julgo ser. Logo o que a comunidade pensa, passando a ser um estorvo ao meu ser, me torna naquilo que eu não sou.
Há uns anitos atrás – como o tempo passa – em Atenas, alguém arguido de um julgamento que duraria vários dias e noites, em vez de argumentar a sua defesa, fazia antes a apologia do Eu, embora com a certeza absoluta de que não iria mudar nada o veredicto daqueles juizes, por eles já terem formado por antecipação uma opinião contrária à sua essência, ao seu eu, e a verdade é que este amigo acabou condenado à morte, tal como previra e afirmara, por ter sido mais importante a imagem pré concebida daqueles juizes, do que o que ele sabia de si próprio. De nada lhe valeu a sua honorabilidade, seriedade, e honestidade, porque a realidade da sua existência passou a ser a realidade que os outros lhe construíram.
Devo então ser quem sou, ou antes esforçar-me por construir em mim a figura que julgo ser do agrado do outro? Que realidade teria afinal essa outra figura? Terá algo de real a realidade que outros constróem do meu eu, ou de um qualquer alter ego, perante a complexidade e intimidade do meu pensar, agir, e reagir?
Se a opinião dos outros a cerca de mim faz que seja o que não sou, ou que não seja o que sou, então não há realidade em mim, porque essa realidade depende da visão dos outros.
porém, o olhar dos outros não pode trespassar o muro que veda o quintal da minha intimidade, com todo o seu labirinto de complexidades.
Perante este pequeno exercício de maiêutica, continuo perguntando: Quem sou afinal?
Acredito ser simples criatura de um Deus maior, orgulhoso de ser pessoa, e capaz de fazer perguntas que nunca verei respondidas.

Um Bom Ano para todos Tônho d’Adélia

terça-feira, dezembro 26, 2006

DA PÓVOA À LAPA (Por Padre Assunção)


DA PÓVOA À LAPA
Valores e tradições na Póvoa

Quem visita o blog da Póvoa-Lamego, procurará descortinar particularmente o que lhe é específico. E quanto maior for a sua identidade, mais valor terá a sua divulgação. Mesmo na hora da globalização, há tradições que têm a marca da Póvoa, ainda que não o sejam exclusivamente de cá.
A tradição genuína é sempre uma boa notícia. E aí está uma de muito valor que vale a pena divulgar. Caro visitador do blog, sabia que todos os anos é nomeado rotativamente um “Juiz” da Póvoa, outro de Juvandes e outro de Melcões para organizar uma romaria ao Santuário da Senhora da Lapa (concelho de Sernancelhe)?
Sua função é a de recrutar peregrinos das três povoações para irem pedir à Senhora a bênção para as suas gentes, para os animais, colheitas e nomeadamente a sua famosa castanha. Na obra de Gonçalves da Costa, “História do Santuário da Lapa” p.53, um historiador natural de Quintela de Penude, pode ler-se: “A origem de algumas das procissões de penitência radicava nas graças alcançadas por intercessão da Virgem especialmente eficazes na destruição da lagarta, que invadindo vinhas, searas, árvores de fruta e hortaliças lançava os pobres lavradores na miséria. Nos castanheiros tornava-se a perda mais sensível, num tempo em que o povo se alimentava, em parte do pão de farinha de castanha, as “falachas”.
A lagarta deixava a planta completamente despida de folhas, de modo que, a breve trecho, secava. Daí, terem as freguesias do vale do Balsemão e do Varosa recorrido ao poderoso auxílio da Senhora da Lapa, a clamar remédio para tamanha desgraça.
São documentadas por Aquilino Ribeiro no “homem da Nave” estas romarias, informando-nos de que os porta-estandartes das terras de soutos (aludindo a Penude e Magueija) ostentavam grandes rosários ao pescoço que lhes desciam até abaixo dos joelhos em que os padre-nossos eram representados por castanhas rebordonas e as avé-marias por castanhas de demanda.
Perguntar-se-á. Ainda terá sentido na era pós-moderna, alimentar e apoiar estas tradições? Então os pesticidas já não previnem todas as calamidades…? “O coração tem razões que a razão não compreende”, dizia Pascal. A religião é intrínseca ao homem e não está prisioneira do tempo ou de uma cultura determinada. “O homem necessita de Deus como do ar que respira”. Esta afirmação é de Alexis Carrel, um convertido e prémio Nobel de Medicina.
Concluo, pedindo emprestada a voz ao poeta José Gonçalinho, aqui nascido, porque ele perpetua o sentido das tradições e dá-lhes a forma de um monumento, ao recriar-lhes constantemente a verdade.
“ Faz-me poeta a natureza…”
“ Rezo em silêncio, enquanto as preces minhas
São como o debandar das andorinhas
Cortando o azul infindo pelo espaço…” (Extractos dos poemas “Sedução” e “Alminhas”)
P. Assunção

domingo, dezembro 24, 2006

Ao velho amigo

Se tu fores, meu caro Zé Monteiro, o Zé da Portela, que eu suponho que possas ou devas ser, então, velho companheiro e amigo, permite-me que me reapresente e que ao mesmo tempo te diga quanto apreciei a tua primeira participação no blog da Póvoa.
Sê bem vindo portanto.
Sim, sou o trigémio Zé Macário, Tonho D’Adélia e futuro Zé Costa; que sendo natural da Póvoa sou também um semi radicular de Sucres, neto de uma simpática velhinha cega de uma vista – a Ti Maria Costinha – bem do centro da povoação, como muito bem sabes, se fores – e serás – quem eu penso que és.
Não sabia que também eras dos que ias à Póvoa apanhar sanchas, pois retenho na minha memória como principal e quase único apanhador de sanchas aí de Sucres, o velho e pequeno Valentim Cerdeira.
Ao longo destes anos – e já lá vão 38 - pensava em ti de vez enquando.
Foi um prazer ler-te e reimaginar-te.
Obrigado Zé, meu caro Dr. Zé Monteiro.
Vai contando coisas.
Bom Natal!!

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Natal

Especialmente neste Natal
tal com há dois mil anos em Belém,
abre o teu coração a todos por igual,
suspende nele estrelas de fina brancura,
como metáforas não do mal , mas do bem
como nos diz a Lei, que desde então perdura!

Esta, foi-nos deixada por um Sábio Menino,
que sendo Deus veio á Luz,
apresentando-se ao mundo como um simples mortal,
com a fragilidade de um ser pobre e pequenino,
nascendo no humilde aconchego de um curral
Porém sabemo-lo: o seu nome é Jesus!

Celeste Gonçalinho Oliveira Duarte

quarta-feira, dezembro 20, 2006

festas felizes

Ao(s) mentor(es) do projecto deste blog, ao(s) técnico(s) realizadores desta estrutura, aos colaboradores, e aos que futuramente venham a colaborar, aos amigos da Póvoa, aos que apesar de se manterem em "silêncio", sentem o mesmo carinho e apego à nossa aldeia, aos que à distância nacionais e estrangeiros (caso de um comentador brasileiro), que não nos conhecendo, apreciam os nossos valores tradições e a nossa genuina simplicidade; nos encorajam a prosseguir nesta caminhada, aos nossos idosos e doentes (que nos estão ligados por laços familiares ou de amizade),
e às gentes dos povos vizinhos da nossa terra, que nos conhecem e respeitam: a todos um Natal em verdadeira Paz, saúde e felicidade e que o Ano Novo, vos traga tudo de bom!
Vamos à Póvoa passar o Natal! Ela espera-nos, encarrega-se de nos reconfortar, de renovar as nossas energias e de nos deixar felizes!...
Celeste Gonçalinho O. Duarte

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Fábrica da Igreja (por Padre Assunção)

FÁBRICA DA IGREJA?

Por várias vezes, me têm interrogado paroquianos e não só, sobre a razão de se designarem Fábricas das Igrejas aos Conselhos Económicos Paroquiais.
No caso da Paróquia de Vila Nova de Souto d’El-Rei, a título de exemplo, o seu número de identificação fiscal está em nome de “Fábrica da Igreja Paroquial de Vila Nova de Souto d’El-Rei”.
Então, vamos à origem. A Igreja Católica existe há cerca de 2000 anos, convém tê-lo presente, e no concílio realizado em Calcedónia em 451, (um dos 22 concílios ecuménicos já realizados), aparece pela primeira vez, nas suas actas, a expressão “fabricarum eclesiarum”, que foi sendo repetida em concílios posteriores e se tem mantido até hoje.
Quando o Imperador Teodósio decretou por “edito” (ano 310) que a Igreja Católica adquiria o estatuto de religião oficial do Estado, terminando a clandestinidade e a perseguição dos cristãos, começou o processo de construção de templos, espaços para a celebração do culto. A maioria foi edificada de raiz, ainda que algumas igrejas fossem adaptações de templos pagãos.
As sobras da construção, quer os materiais quer os dinheiros eram religiosamente guardados por uma comissão que se erigia para o efeito. Por vezes, guardavam numa casa pertencente à paróquia esses materiais da igreja acabada de edificar. Ainda nos nossos dias, há Paróquias onde existe a “Casa da Fábrica”.
O tempo faz com que as palavras sofram ora evoluções fonéticas, ora evoluções semânticas. É o caso da Fábrica da Igreja. Aqui verificou-se uma mudança de significado, uma evolução semântica. No princípio, referia-se apenas à edificação (fabricação), depois aplicou-se esta designação aos materiais sobrantes da Fábrica da Igreja. Finalmente, passou a designar-se Fábrica da Igreja à Comissão encarregada de zelar pelos bens económicos da Igreja. Hoje, as Comissões Fabriqueiras, a meu ver, deveriam denominar-se pura e simplesmente “Conselhos Económicos Paroquiais”.
Mas em qualquer repartição de finanças ou nas Conservatórias do Registo Civil, ainda não foi registado este último nome como oficial. Foram muitos os séculos a sedimentar e prolongar essa nomenclatura, em documentos legislativos. É bom, porém que saibamos, esclarecidamente, a que se refere esta entidade.
A Fábrica da Igreja, porque os seus fins não são lucrativos mas religiosos, estou certo de que nunca irá à falência. Constato por experiência própria que a larga generosidade dos fiéis excede em muito a constrangente justiça de pagamentos obrigatórios. Essa é também a actual e permanente “edificação da Igreja”, o sentir-se cada um uma “pedra viva”.
E já agora… Será possível avistar a chaminé dessa Fábrica? Trata-se de uma metáfora, supostamente. Apenas na eleição de um papa, quando da chaminé do Vaticano sai um fumo branco. A última vez que se acendeu, foi no dia 19 de Abril de 2005.
Um santo e feliz Natal para todos.
Vila Nova de Souto d’El-Rei, 19 de Dezembro de 2006
Padre Assunção

sábado, dezembro 16, 2006

Balanço de Fim de Ano ( por Zé Macário e Tonho D’ Adélia )

Ao chegar a este Natal e depois de mais de um ano de existência do blog da Póvoa, desejamos especialmente a todos os participantes, mas também a todos os “poveiros”, um óptimo Natal e Próspero Ano Novo.
Aproveitamos também para agradecer as muitas manifestações de agrado ( houve pessoas que nos disseram ter chorado de agradável emoção por alguns artigos) pela nossa participação no blog que, quer pessoalmente quer via telefone, nos tem chegado a par mesmo com algumas oferendas materiais; Admitindo embora, como é naturalíssimo a probabilidade de existência de reacções de sinal contrário, o que também nos estimula.
No decorrer deste processo reavivamos pessoas, personalidades, orografias, paisagens, “monumentos” e formas de vida há muito esquecidas; reacendemos por algum tempo a chama, o viço e a irreverência das nossas meninices e juventudes passadas, e muito, muito mais; Mas muito principalmente ao estimular outras participações, aumentamos o nosso conhecimento sobre as coisas, sobre a vida, sobre as pessoas…
Foi bom, muito bom mesmo.
Valeu a pena.
Continuaremos a prenunciar as nossas dúvidas, certezas, ignorâncias e conhecimentos sobre uma boa diversidade de assuntos e a incentivar outras publicações até que nos cortem o pio.
Estamos especialmente satisfeitos por sentir ter provocado sentimentos e reacções, pois achamos essa, uma das principais funções da escrita, e assumimos de bom grado que, isso pode expor-nos também a juízos menos lisonjeiros, o que acontece aliás, até com prémios Nobel; Interessa-nos principalmente comunicar e defender o pluralismo e edificação das ideias.
Embora tenha sido para nós uma agradável surpresa o aparecimento de tanta gente a publicar, apelamos ainda ao aparecimento de mais pessoas e com maior diversidade de temas.
Ficamos à espera.
Para todos um Santo Natal e um Ano Novo cheio de vida viva.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Restaurar a nossa capela é preciso

Não querendo fazer afirmações que venham a revelar-se desajustadas, mas, pretendendo porém, também eu, dar a minha opinião no que diz respeito a um possível restauro na talha e pinturas existentes na nossa capela, pelo que penso saber, é bem possível, que não passe de um simples sonho este nosso desejo e antes se torne numa utopia pensar naquele edifício religioso que tanto acarinhamos, com nova vitalidade.

Perguntar-se-á, mas porquê?

Vários são os motivos que constituem entrave, verdadeiro impedimento para que projectos desta natureza se concretizem:

  1. A talha é barroca, (séc. XVII ou XVIII) mais provavelmente deste último. As pinturas apresentam características, que apontam para o mesmo estilo artístico. Assim, penso que estão reunidas as condições, para que este conjunto goze desde logo do estatuto de interesse artístico, pela qualidade e originalidade dos elementos ornamentais e pela sua antiguidade.
  2. Este facto não facilita em nada a obtenção de luz verde no sentido da intervenção em objectos desta natureza, devido às exigências que o próprio processo implica.

Refiro-me concretamente aos diversos procedimentos a levar a cabo, como por exemplo, o estudo em laboratório e com equipamentos sofisticados dos materiais de origem das obras a restaurar e mão de obra altamente especializada, o que acarreta encargos por vezes incomportáveis.

  1. Outro problema que se coloca com alguma frequência aos responsáveis por ponderar a exequibilidade e decidir essas intervenções, é não ter a garantia, por vezes, de um restauro qualificado e fiel ao objecto original; ou seja, é necessária a abonação de que não se descaracterize ou desqualifique o património.

Veja-se o seguinte caso:

Parte da pintura que da abóbada da sé de Lamego já caiu, deixando sinais inequívocos de visível degradação!

Põe-se -nos então a questão:

Como é que uma cidade com uma tradição religiosa e artística reconhecidas, se mantém impávida e serena, a assistir ao lento e triste definhar de um património tão valioso? É possível que a resposta seja esta: o autor daquelas pinturas, foi um artista italiano de nome Nicolau Nazoni famoso palas obras de rara beleza que criou, sendo mesmo uma autoridade no mundo artístico daquela época (barroca).

Intervir numa obra desta envergadura implica grande responsabilidade ao nível técnico e financeiro…

Contudo não pretendo fazer uma equivalência entre as duas situações citadas, até porque, não é equivalente -julgo eu - ,o valor artístico nos dois casos.

Tudo o que disse até agora é pouco encorajador, mas pode ser que eu esteja equivocada. Para além disso dá a sensação, de que tenho uma posição contrária à do administrador do blog e à do Sr. Dr. Assunção, o que não é verdade. Pelo contrário considero urgente, tentar encontrar meios, que nos permitam preservar o nosso original património religioso e se se vier a considerar essa possibilidade, temos o dever de estar atentos, para que tudo se faça com a maior honestidade e qualidade artística contando com pessoas credíveis nestas matérias que respeitem e não adulterem as obras de arte.

Celeste Gonçalinho Oliveira Duarte

sábado, dezembro 09, 2006

VOTOS DE BOAS FESTAS (de José Gonçalinho de Oliveira)

















FELIZ NATAL

Acolham no peito os sinos festivos,
Embalem o s sonhos com papéis coloridos ,
Façam de amor seus laços garridos,
Juntem o afecto de francos sorrisos,
Ofereçam a paz com fortes raízes
E t enham umas FESTAS muito FELIZES !
BOM ANO NOVO
J. Gonçalinho de Oliveira (filho) - Natal, 2006

terça-feira, dezembro 05, 2006

ARTE SACRA NA PÓVOA (Por Padre Assunção)



As pinturas do tecto da capela da Póvoa bem como a talha do altar mostram-nos figuras de anjos, entre outros motivos. No altar-mor é de facto impressionante o número de anjos. Um especialista de arte sacra poderá comentar a sua beleza, a linguagem comunicativa, a cor, o movimento, a antiguidade, a preciosidade, o enquadramento dentro de um estilo ou época, etc. Aí o conduzem os estudos, certamente fundamentados, adquiridos nessa área.
Consciente da minha condição de leigo nessa matéria, ou quando muito aprendiz, contactei já a Comissão de Arte Sacra Diocesana para avaliar e pré-orçamentar o projecto de intervenção em matéria de restauro por peritos reconhecidos por essa Comissão. Porém, não posso ocultar a minha crença nos anjos. E sem a crença prévia, temos que convir, faltaria a matéria para a iconografia. Aqui a ciência é outra, a teologia, e sinto mesmo o dever de elucidar, e porque não doutrinar, se é essa a minha missão de sacerdote, acerca do lugar que ocupam os anjos entre as nossas verdades da fé.
Não é assunto fácil de tratar em blogs, porque isso obrigaria a massacrar os leitores com questões muito profundas. E como a religião deve ser como o sal na comida, traçarei umas simples pinceladas de orientação, deixando evidente que não falta literatura sobre os anjos. Porque chamamos anjos ou arcanjos às pinturas do tecto da capela, e querubins ou serafins às esculturas do altar-mor?
O saber não ocupa lugar. Há dois estudiosos dos anjos a quem todos os posteriores foram beber como a uma fonte. São eles o Pseudo-Dionísio (um teólogo grego na transição do século IV para o V) e outro, S. Tomás de Aquino (teólogo e filósofo do século XII).
É o primeiro que divide pela primeira vez, em três ordens, a hierarquia dos anjos, partindo naturalmente de passagens bíblicas. Ficou clássica a sua “Angeologia”. O segundo, (1225-1274) autor de inúmeros escritos filosófico-teológicos, na sua obra fundamental “Summa Theologica” dedicou grande atenção aos anjos. Falou com tanta profundidade e soube exprimir-se de modo tão convincente que os seus contemporâneos lhe atribuíram mesmo o epíteto de “Doutor Angélico”.
Anjos são puros espíritos criados por Deus e a quem Ele reserva mensagens e intervenções no nosso mundo. “Angelos” vem do grego e significa “mensageiro”.
a)- À primeira ordem de coros, pertencem os serafins, os querubins o os tronos;
b)- Á segunda ordem (de hierarquia), as dominações, as virtudes e as potestades;
c)- À terceira ordem, os principados, os arcanjos e os anjos.
Os pertencentes à primeira ordem são os mais próximos de Deus, desempenhando funções junto do Pai. Daí, se colocarem os querubins e os serafins mais próximos dos sacrários ou do trono, onde se faziam as exposições solenes. A palavra serafim significa “adorador”, “o que se consome de amor por Deus”; os da segunda ordem na hierarquia são os que operam junto dos governos gerais do universo; os da terceira, são os que se encarregam dos caminhos das nações e dos homens. Estes, os anjos e os arcanjos, estão mais próximos dos homens. Aqui, se incluem o Anjo de Portugal ou o Anjo da Guarda de cada um.
Em síntese, a todos se designam por anjos (mensageiros de Deus) independentemente da sua hierarquia (funções e ministérios diversos), que não é tão importante como a sua essência. É S. Tomás de Aquino que afirma que “os anjos têm diferentes graus de sabedoria e de perfeição”.
Para terminar, porque o sermão já vai longo e corro o risco de o deixarem a meio, presto a minha afectuosa homenagem a todas as mães da Póvoa, que sem saberem muito de teologia livresca, ao longo de todos os tempos em que estiveram expostos estes anjos nesta capela, ensinaram aos seus filhos, com incomensurável amor e ternura, tudo aquilo que elas compreendiam e que no seu coração de mães intuíam. Junto com a paciência e o carinho, quantas preces ficaram por saber-se. Uma, certamente a adivinhamos: a intercessão de todos os anjos para que nunca os seus filhos deixassem de ser os mais felizes do mundo.
Hoje as crianças continuam a fazer-nos perguntas sobre temas de fé. Saberemos nós ensinar-lhes melhor que as nossas mães? Falta-nos provavelmente a “sabedoria do coração”.
É esta mais uma particularidade de uma capela única no seu recheio artístico. Vale bem a pena, como dizia o sr. Administrador do blog, estarmos atentos à sua conservação e restauro. Pode contar com o meu apoio.
P. Assunção
Vila Nova de Souto d’El-Rei, 5 de Dezembro de 2006.

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Iniciado em 2005, este blogue cumpriu em parte, aquilo para que tinha sido inicialmente projetado. Com o decorrer do tempo e tal como n...