sexta-feira, junho 30, 2006

Bonita

Por mais estranho que pareça,

Bonita não é adjectivo

mas um nome próprio e apelativo

para um animal

não um qualquer irracional

mas antes um muito especial

que tal nome mereça.

Assim meu pai pensou

sendo sua intenção

juntar o nome ao adjectivo

e por este motivo

assim baptizou

deveras rendido

à beleza e mansidão

o seu animal preferido.

Era uma vaca amarela

de expressivos olhos negros

que foi mãe um dia

dando à luz uma esbelta cria

Tão bela

Ou mais do que ela…

e a dor confundiu-se com a alegria!

mas foi sol de pouca dura

perdeu a filha com meses de vida

foi imensa a sua amargura

quase sucumbiu a essa ferida!...

bem sei, é difícil acreditar

mas vi esta pobre mãe chorar

a chorar lágrimas de dor

de profundo amor

pela sua cria

que procurava e não via!

Fugiu desvairada

E berrava …

Berrava…

Mas o que não se compreende,

é que só parou em Gosende

Onde a cria foi comprada

Ali ficou,

Como quem diz: aqui estou

Triste e humilhada

Perdi minha filha, perdi tudo

Já não me resta mais nada!...

Maria Herminia Gonçalinho Oliveira

quarta-feira, junho 28, 2006

NÃO VEJO A HORA...

Não vejo a hora de repousar os meus olhos
Na quietude das penedias,
Na tranquilidade do sorreal e humilde casario,
No ritmo cadenciado da água que jorra das bicas do tanque, onde refresco a minha sede
No brilho intenso das giestas floridas,
Na quente cor dos dias de sol,
Nos calorosos abraços da nossa gente de faces rosadas,
Gente que finta o tempo e reinventa sorrisos abertos e rasgados!...
Quero sentir de novo o cheiro da terra quente ao ser regada,
Comer verdes e ácidas maçãs do meu quintal,
Saborear arroz de moira bem fumada, como antigamente
Deleitar-me na calma da tardinha,
Acordar tranquila de manhãzinha com a melodia da passarada!...
Quero ir à Póvoa!...

sexta-feira, junho 23, 2006

Minha estrela perdida

Balada para uma velhinha

Em minha vida houve uma estrela
Pequena, frágil e bela
Não na sua aparência
Mas em toda a extensão de sua longa vivência!...
Uma beleza interior,
Que transbordava de amor
Por mim, por todos quantos viu e ajudou a nascer…

Esta minha estrelinha,
Além de avó, deu-me o nome; foi minha madrinha!
Uma alma especial
E abismal,
Contudo pequenina!...
Sempre a si mesma igual…
Em tudo na vida coerente
Frontal, como o vidro, transparente
Totalmente independente!...
.
Seus olhos pequenos,
Serenos,
Espelhavam sabedoria,
Não aquela que aprenderia,
Se um dia
Tivesse ido à escola;
Porém para ela fora,
Uma aprendizagem certeira,
Feita não sei de que maneira,
Que fez dela,
O que ela era.

Um ser admirável
E incomparável
Em tudo,
Sobre tudo,
Em cada resposta que dava
Sempre inesperada
E a cada situação adequada.
Seu carácter pleno de talento
Um olhar
A transbordar
De afecto
Um espírito repleto de humor!...

Um dia, a sua já pálida alegria
Transfigurou-se na névoa que a levou
Que a vida não lhe poupou
E entre outras estrelas
Como ela belas,
Sua vida no infinito ecoou!...
Perdeu-se numa imensa penumbra
Longínqua, profunda!...
Quis abraçá-la
E contra mim aperta-la,
Mas escapou-me da mão
Ferindo irreversivelmente meu coração!...

A lembrança que dela tenho,
Não a trocaria por nada
É de compreensão e de harmonia
E eu tudo faria
Para recuperá-la,
Porque foi a minha fada,
Ensinou-me a crescer do nada
Foi a minha luz e minha guia
Quando crescia
Quando precisava!...


Celeste Gonçalinho de Oliveira Duarte

sábado, junho 17, 2006

Extracto de um texto da colecção Minerva Lusitana

Noticias circunstanciadas dos sucessos na viagem do General Loison, dos dias 21, 22, e 23 de Junho do 1808.

POR ORDEM DO GOVERNO.
Coimbra Quinta Feira 21 de Julho de 1808.
Chega-se a Lamego: a valorosa coluna de Vila Real formada a 3, com Bandeiras despregadas, e. ao som de caixas batentes, e seguida das outras fazem declarar a esta Cidade, ressoar nas suas ruas alegres vozes de Viva o PRÍNCIPE REGENTE, Viva PORTUGAL, Morram os seus inimigos. Os Cidadãos desta Cidade, berço da nossa Monarquia, repetem o mesmo, correm às Armas, e se unem à causa comum. Isto feito, corre-se ao ataque, e se encontra o inimigo acima da Póvoa de Juvantes, aonde estavam descansando; mas vendo, que o seguíamos, continua a sua marcha nesta forma: O General Loison com toda a sua Cavalaria na Vanguarda levando no centro a bagagem, e a Infantaria em coluna na retaguarda, marchando com grande união, e disciplina, mas velozmente. Foi aqui que 250 a 300 homens valorosos, cheios do maior ânimo, e coragem fazem sobre o inimigo um fogo matador, e constante por mais de duas léguas. É de admirar a ordem, e o método, com que o faziam, aproveitando-se das posições locais, penedias, e desfiladeiros; a presteza, com que depois de fazerem a sua descarga, se lançavam à terra para carregar, e enquanto os outros avançavam terreno para dar a sua descarga, o reconhecimento das alturas, as emboscadas, etc. sendo animados todos pela, Nobreza já dita, distinguindo-se muito o Monsenhor Miranda , e o Tenente João Pinto Passo, que igual ao vento chegou em uma escaramuça, a raspejar a coluna inimiga; porém a. falta de pólvora, e bala fez cessar o fogo, e ataque. Mostra bem o respeito, que nos olharam, a disciplina, com que a coluna inimiga marchava, a retirada em ordem que fazia, as, guardas, que lançava para protege-la, e o ser obrigado o General a montar a Cavalo, e a manobrar em consequência.

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Iniciado em 2005, este blogue cumpriu em parte, aquilo para que tinha sido inicialmente projetado. Com o decorrer do tempo e tal como n...