sexta-feira, dezembro 29, 2006

Quem sou?

Muitas vezes me tenho colocado a mim, ou a um qualquer alter ego, a seguinte pergunta: Quem sou?
Serei realmente quem penso que sou? Sou antes quem tu pensas que sou?
Alguém me confidenciava a propósito de um artigo meu no blog: Nunca te imaginei com aquele tipo de sensibilidade...
Então, eu não sou quem aquele amigo sempre pensou que eu sou, e ele construiu de mim, uma imagem distorcida...
Porém, que certeza tenho eu também, de ser quem eu penso que sou?
O que será mais importante e real na minha existência, quem eu penso que sou, ou o que o outro, ou a comunidade pensam de mim?
Por exemplo, eu penso ser sério, cumpridor, e honesto; Porém se a comunidade ou o outro, tiverem de mim uma ideia diferente, eu não consigo em qualquer lado obter o crédito necessário para a pessoa que julgo ser. Logo o que a comunidade pensa, passando a ser um estorvo ao meu ser, me torna naquilo que eu não sou.
Há uns anitos atrás – como o tempo passa – em Atenas, alguém arguido de um julgamento que duraria vários dias e noites, em vez de argumentar a sua defesa, fazia antes a apologia do Eu, embora com a certeza absoluta de que não iria mudar nada o veredicto daqueles juizes, por eles já terem formado por antecipação uma opinião contrária à sua essência, ao seu eu, e a verdade é que este amigo acabou condenado à morte, tal como previra e afirmara, por ter sido mais importante a imagem pré concebida daqueles juizes, do que o que ele sabia de si próprio. De nada lhe valeu a sua honorabilidade, seriedade, e honestidade, porque a realidade da sua existência passou a ser a realidade que os outros lhe construíram.
Devo então ser quem sou, ou antes esforçar-me por construir em mim a figura que julgo ser do agrado do outro? Que realidade teria afinal essa outra figura? Terá algo de real a realidade que outros constróem do meu eu, ou de um qualquer alter ego, perante a complexidade e intimidade do meu pensar, agir, e reagir?
Se a opinião dos outros a cerca de mim faz que seja o que não sou, ou que não seja o que sou, então não há realidade em mim, porque essa realidade depende da visão dos outros.
porém, o olhar dos outros não pode trespassar o muro que veda o quintal da minha intimidade, com todo o seu labirinto de complexidades.
Perante este pequeno exercício de maiêutica, continuo perguntando: Quem sou afinal?
Acredito ser simples criatura de um Deus maior, orgulhoso de ser pessoa, e capaz de fazer perguntas que nunca verei respondidas.

Um Bom Ano para todos Tônho d’Adélia

terça-feira, dezembro 26, 2006

DA PÓVOA À LAPA (Por Padre Assunção)


DA PÓVOA À LAPA
Valores e tradições na Póvoa

Quem visita o blog da Póvoa-Lamego, procurará descortinar particularmente o que lhe é específico. E quanto maior for a sua identidade, mais valor terá a sua divulgação. Mesmo na hora da globalização, há tradições que têm a marca da Póvoa, ainda que não o sejam exclusivamente de cá.
A tradição genuína é sempre uma boa notícia. E aí está uma de muito valor que vale a pena divulgar. Caro visitador do blog, sabia que todos os anos é nomeado rotativamente um “Juiz” da Póvoa, outro de Juvandes e outro de Melcões para organizar uma romaria ao Santuário da Senhora da Lapa (concelho de Sernancelhe)?
Sua função é a de recrutar peregrinos das três povoações para irem pedir à Senhora a bênção para as suas gentes, para os animais, colheitas e nomeadamente a sua famosa castanha. Na obra de Gonçalves da Costa, “História do Santuário da Lapa” p.53, um historiador natural de Quintela de Penude, pode ler-se: “A origem de algumas das procissões de penitência radicava nas graças alcançadas por intercessão da Virgem especialmente eficazes na destruição da lagarta, que invadindo vinhas, searas, árvores de fruta e hortaliças lançava os pobres lavradores na miséria. Nos castanheiros tornava-se a perda mais sensível, num tempo em que o povo se alimentava, em parte do pão de farinha de castanha, as “falachas”.
A lagarta deixava a planta completamente despida de folhas, de modo que, a breve trecho, secava. Daí, terem as freguesias do vale do Balsemão e do Varosa recorrido ao poderoso auxílio da Senhora da Lapa, a clamar remédio para tamanha desgraça.
São documentadas por Aquilino Ribeiro no “homem da Nave” estas romarias, informando-nos de que os porta-estandartes das terras de soutos (aludindo a Penude e Magueija) ostentavam grandes rosários ao pescoço que lhes desciam até abaixo dos joelhos em que os padre-nossos eram representados por castanhas rebordonas e as avé-marias por castanhas de demanda.
Perguntar-se-á. Ainda terá sentido na era pós-moderna, alimentar e apoiar estas tradições? Então os pesticidas já não previnem todas as calamidades…? “O coração tem razões que a razão não compreende”, dizia Pascal. A religião é intrínseca ao homem e não está prisioneira do tempo ou de uma cultura determinada. “O homem necessita de Deus como do ar que respira”. Esta afirmação é de Alexis Carrel, um convertido e prémio Nobel de Medicina.
Concluo, pedindo emprestada a voz ao poeta José Gonçalinho, aqui nascido, porque ele perpetua o sentido das tradições e dá-lhes a forma de um monumento, ao recriar-lhes constantemente a verdade.
“ Faz-me poeta a natureza…”
“ Rezo em silêncio, enquanto as preces minhas
São como o debandar das andorinhas
Cortando o azul infindo pelo espaço…” (Extractos dos poemas “Sedução” e “Alminhas”)
P. Assunção

domingo, dezembro 24, 2006

Ao velho amigo

Se tu fores, meu caro Zé Monteiro, o Zé da Portela, que eu suponho que possas ou devas ser, então, velho companheiro e amigo, permite-me que me reapresente e que ao mesmo tempo te diga quanto apreciei a tua primeira participação no blog da Póvoa.
Sê bem vindo portanto.
Sim, sou o trigémio Zé Macário, Tonho D’Adélia e futuro Zé Costa; que sendo natural da Póvoa sou também um semi radicular de Sucres, neto de uma simpática velhinha cega de uma vista – a Ti Maria Costinha – bem do centro da povoação, como muito bem sabes, se fores – e serás – quem eu penso que és.
Não sabia que também eras dos que ias à Póvoa apanhar sanchas, pois retenho na minha memória como principal e quase único apanhador de sanchas aí de Sucres, o velho e pequeno Valentim Cerdeira.
Ao longo destes anos – e já lá vão 38 - pensava em ti de vez enquando.
Foi um prazer ler-te e reimaginar-te.
Obrigado Zé, meu caro Dr. Zé Monteiro.
Vai contando coisas.
Bom Natal!!

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Natal

Especialmente neste Natal
tal com há dois mil anos em Belém,
abre o teu coração a todos por igual,
suspende nele estrelas de fina brancura,
como metáforas não do mal , mas do bem
como nos diz a Lei, que desde então perdura!

Esta, foi-nos deixada por um Sábio Menino,
que sendo Deus veio á Luz,
apresentando-se ao mundo como um simples mortal,
com a fragilidade de um ser pobre e pequenino,
nascendo no humilde aconchego de um curral
Porém sabemo-lo: o seu nome é Jesus!

Celeste Gonçalinho Oliveira Duarte

quarta-feira, dezembro 20, 2006

festas felizes

Ao(s) mentor(es) do projecto deste blog, ao(s) técnico(s) realizadores desta estrutura, aos colaboradores, e aos que futuramente venham a colaborar, aos amigos da Póvoa, aos que apesar de se manterem em "silêncio", sentem o mesmo carinho e apego à nossa aldeia, aos que à distância nacionais e estrangeiros (caso de um comentador brasileiro), que não nos conhecendo, apreciam os nossos valores tradições e a nossa genuina simplicidade; nos encorajam a prosseguir nesta caminhada, aos nossos idosos e doentes (que nos estão ligados por laços familiares ou de amizade),
e às gentes dos povos vizinhos da nossa terra, que nos conhecem e respeitam: a todos um Natal em verdadeira Paz, saúde e felicidade e que o Ano Novo, vos traga tudo de bom!
Vamos à Póvoa passar o Natal! Ela espera-nos, encarrega-se de nos reconfortar, de renovar as nossas energias e de nos deixar felizes!...
Celeste Gonçalinho O. Duarte

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Fábrica da Igreja (por Padre Assunção)

FÁBRICA DA IGREJA?

Por várias vezes, me têm interrogado paroquianos e não só, sobre a razão de se designarem Fábricas das Igrejas aos Conselhos Económicos Paroquiais.
No caso da Paróquia de Vila Nova de Souto d’El-Rei, a título de exemplo, o seu número de identificação fiscal está em nome de “Fábrica da Igreja Paroquial de Vila Nova de Souto d’El-Rei”.
Então, vamos à origem. A Igreja Católica existe há cerca de 2000 anos, convém tê-lo presente, e no concílio realizado em Calcedónia em 451, (um dos 22 concílios ecuménicos já realizados), aparece pela primeira vez, nas suas actas, a expressão “fabricarum eclesiarum”, que foi sendo repetida em concílios posteriores e se tem mantido até hoje.
Quando o Imperador Teodósio decretou por “edito” (ano 310) que a Igreja Católica adquiria o estatuto de religião oficial do Estado, terminando a clandestinidade e a perseguição dos cristãos, começou o processo de construção de templos, espaços para a celebração do culto. A maioria foi edificada de raiz, ainda que algumas igrejas fossem adaptações de templos pagãos.
As sobras da construção, quer os materiais quer os dinheiros eram religiosamente guardados por uma comissão que se erigia para o efeito. Por vezes, guardavam numa casa pertencente à paróquia esses materiais da igreja acabada de edificar. Ainda nos nossos dias, há Paróquias onde existe a “Casa da Fábrica”.
O tempo faz com que as palavras sofram ora evoluções fonéticas, ora evoluções semânticas. É o caso da Fábrica da Igreja. Aqui verificou-se uma mudança de significado, uma evolução semântica. No princípio, referia-se apenas à edificação (fabricação), depois aplicou-se esta designação aos materiais sobrantes da Fábrica da Igreja. Finalmente, passou a designar-se Fábrica da Igreja à Comissão encarregada de zelar pelos bens económicos da Igreja. Hoje, as Comissões Fabriqueiras, a meu ver, deveriam denominar-se pura e simplesmente “Conselhos Económicos Paroquiais”.
Mas em qualquer repartição de finanças ou nas Conservatórias do Registo Civil, ainda não foi registado este último nome como oficial. Foram muitos os séculos a sedimentar e prolongar essa nomenclatura, em documentos legislativos. É bom, porém que saibamos, esclarecidamente, a que se refere esta entidade.
A Fábrica da Igreja, porque os seus fins não são lucrativos mas religiosos, estou certo de que nunca irá à falência. Constato por experiência própria que a larga generosidade dos fiéis excede em muito a constrangente justiça de pagamentos obrigatórios. Essa é também a actual e permanente “edificação da Igreja”, o sentir-se cada um uma “pedra viva”.
E já agora… Será possível avistar a chaminé dessa Fábrica? Trata-se de uma metáfora, supostamente. Apenas na eleição de um papa, quando da chaminé do Vaticano sai um fumo branco. A última vez que se acendeu, foi no dia 19 de Abril de 2005.
Um santo e feliz Natal para todos.
Vila Nova de Souto d’El-Rei, 19 de Dezembro de 2006
Padre Assunção

sábado, dezembro 16, 2006

Balanço de Fim de Ano ( por Zé Macário e Tonho D’ Adélia )

Ao chegar a este Natal e depois de mais de um ano de existência do blog da Póvoa, desejamos especialmente a todos os participantes, mas também a todos os “poveiros”, um óptimo Natal e Próspero Ano Novo.
Aproveitamos também para agradecer as muitas manifestações de agrado ( houve pessoas que nos disseram ter chorado de agradável emoção por alguns artigos) pela nossa participação no blog que, quer pessoalmente quer via telefone, nos tem chegado a par mesmo com algumas oferendas materiais; Admitindo embora, como é naturalíssimo a probabilidade de existência de reacções de sinal contrário, o que também nos estimula.
No decorrer deste processo reavivamos pessoas, personalidades, orografias, paisagens, “monumentos” e formas de vida há muito esquecidas; reacendemos por algum tempo a chama, o viço e a irreverência das nossas meninices e juventudes passadas, e muito, muito mais; Mas muito principalmente ao estimular outras participações, aumentamos o nosso conhecimento sobre as coisas, sobre a vida, sobre as pessoas…
Foi bom, muito bom mesmo.
Valeu a pena.
Continuaremos a prenunciar as nossas dúvidas, certezas, ignorâncias e conhecimentos sobre uma boa diversidade de assuntos e a incentivar outras publicações até que nos cortem o pio.
Estamos especialmente satisfeitos por sentir ter provocado sentimentos e reacções, pois achamos essa, uma das principais funções da escrita, e assumimos de bom grado que, isso pode expor-nos também a juízos menos lisonjeiros, o que acontece aliás, até com prémios Nobel; Interessa-nos principalmente comunicar e defender o pluralismo e edificação das ideias.
Embora tenha sido para nós uma agradável surpresa o aparecimento de tanta gente a publicar, apelamos ainda ao aparecimento de mais pessoas e com maior diversidade de temas.
Ficamos à espera.
Para todos um Santo Natal e um Ano Novo cheio de vida viva.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Restaurar a nossa capela é preciso

Não querendo fazer afirmações que venham a revelar-se desajustadas, mas, pretendendo porém, também eu, dar a minha opinião no que diz respeito a um possível restauro na talha e pinturas existentes na nossa capela, pelo que penso saber, é bem possível, que não passe de um simples sonho este nosso desejo e antes se torne numa utopia pensar naquele edifício religioso que tanto acarinhamos, com nova vitalidade.

Perguntar-se-á, mas porquê?

Vários são os motivos que constituem entrave, verdadeiro impedimento para que projectos desta natureza se concretizem:

  1. A talha é barroca, (séc. XVII ou XVIII) mais provavelmente deste último. As pinturas apresentam características, que apontam para o mesmo estilo artístico. Assim, penso que estão reunidas as condições, para que este conjunto goze desde logo do estatuto de interesse artístico, pela qualidade e originalidade dos elementos ornamentais e pela sua antiguidade.
  2. Este facto não facilita em nada a obtenção de luz verde no sentido da intervenção em objectos desta natureza, devido às exigências que o próprio processo implica.

Refiro-me concretamente aos diversos procedimentos a levar a cabo, como por exemplo, o estudo em laboratório e com equipamentos sofisticados dos materiais de origem das obras a restaurar e mão de obra altamente especializada, o que acarreta encargos por vezes incomportáveis.

  1. Outro problema que se coloca com alguma frequência aos responsáveis por ponderar a exequibilidade e decidir essas intervenções, é não ter a garantia, por vezes, de um restauro qualificado e fiel ao objecto original; ou seja, é necessária a abonação de que não se descaracterize ou desqualifique o património.

Veja-se o seguinte caso:

Parte da pintura que da abóbada da sé de Lamego já caiu, deixando sinais inequívocos de visível degradação!

Põe-se -nos então a questão:

Como é que uma cidade com uma tradição religiosa e artística reconhecidas, se mantém impávida e serena, a assistir ao lento e triste definhar de um património tão valioso? É possível que a resposta seja esta: o autor daquelas pinturas, foi um artista italiano de nome Nicolau Nazoni famoso palas obras de rara beleza que criou, sendo mesmo uma autoridade no mundo artístico daquela época (barroca).

Intervir numa obra desta envergadura implica grande responsabilidade ao nível técnico e financeiro…

Contudo não pretendo fazer uma equivalência entre as duas situações citadas, até porque, não é equivalente -julgo eu - ,o valor artístico nos dois casos.

Tudo o que disse até agora é pouco encorajador, mas pode ser que eu esteja equivocada. Para além disso dá a sensação, de que tenho uma posição contrária à do administrador do blog e à do Sr. Dr. Assunção, o que não é verdade. Pelo contrário considero urgente, tentar encontrar meios, que nos permitam preservar o nosso original património religioso e se se vier a considerar essa possibilidade, temos o dever de estar atentos, para que tudo se faça com a maior honestidade e qualidade artística contando com pessoas credíveis nestas matérias que respeitem e não adulterem as obras de arte.

Celeste Gonçalinho Oliveira Duarte

sábado, dezembro 09, 2006

VOTOS DE BOAS FESTAS (de José Gonçalinho de Oliveira)

















FELIZ NATAL

Acolham no peito os sinos festivos,
Embalem o s sonhos com papéis coloridos ,
Façam de amor seus laços garridos,
Juntem o afecto de francos sorrisos,
Ofereçam a paz com fortes raízes
E t enham umas FESTAS muito FELIZES !
BOM ANO NOVO
J. Gonçalinho de Oliveira (filho) - Natal, 2006

terça-feira, dezembro 05, 2006

ARTE SACRA NA PÓVOA (Por Padre Assunção)



As pinturas do tecto da capela da Póvoa bem como a talha do altar mostram-nos figuras de anjos, entre outros motivos. No altar-mor é de facto impressionante o número de anjos. Um especialista de arte sacra poderá comentar a sua beleza, a linguagem comunicativa, a cor, o movimento, a antiguidade, a preciosidade, o enquadramento dentro de um estilo ou época, etc. Aí o conduzem os estudos, certamente fundamentados, adquiridos nessa área.
Consciente da minha condição de leigo nessa matéria, ou quando muito aprendiz, contactei já a Comissão de Arte Sacra Diocesana para avaliar e pré-orçamentar o projecto de intervenção em matéria de restauro por peritos reconhecidos por essa Comissão. Porém, não posso ocultar a minha crença nos anjos. E sem a crença prévia, temos que convir, faltaria a matéria para a iconografia. Aqui a ciência é outra, a teologia, e sinto mesmo o dever de elucidar, e porque não doutrinar, se é essa a minha missão de sacerdote, acerca do lugar que ocupam os anjos entre as nossas verdades da fé.
Não é assunto fácil de tratar em blogs, porque isso obrigaria a massacrar os leitores com questões muito profundas. E como a religião deve ser como o sal na comida, traçarei umas simples pinceladas de orientação, deixando evidente que não falta literatura sobre os anjos. Porque chamamos anjos ou arcanjos às pinturas do tecto da capela, e querubins ou serafins às esculturas do altar-mor?
O saber não ocupa lugar. Há dois estudiosos dos anjos a quem todos os posteriores foram beber como a uma fonte. São eles o Pseudo-Dionísio (um teólogo grego na transição do século IV para o V) e outro, S. Tomás de Aquino (teólogo e filósofo do século XII).
É o primeiro que divide pela primeira vez, em três ordens, a hierarquia dos anjos, partindo naturalmente de passagens bíblicas. Ficou clássica a sua “Angeologia”. O segundo, (1225-1274) autor de inúmeros escritos filosófico-teológicos, na sua obra fundamental “Summa Theologica” dedicou grande atenção aos anjos. Falou com tanta profundidade e soube exprimir-se de modo tão convincente que os seus contemporâneos lhe atribuíram mesmo o epíteto de “Doutor Angélico”.
Anjos são puros espíritos criados por Deus e a quem Ele reserva mensagens e intervenções no nosso mundo. “Angelos” vem do grego e significa “mensageiro”.
a)- À primeira ordem de coros, pertencem os serafins, os querubins o os tronos;
b)- Á segunda ordem (de hierarquia), as dominações, as virtudes e as potestades;
c)- À terceira ordem, os principados, os arcanjos e os anjos.
Os pertencentes à primeira ordem são os mais próximos de Deus, desempenhando funções junto do Pai. Daí, se colocarem os querubins e os serafins mais próximos dos sacrários ou do trono, onde se faziam as exposições solenes. A palavra serafim significa “adorador”, “o que se consome de amor por Deus”; os da segunda ordem na hierarquia são os que operam junto dos governos gerais do universo; os da terceira, são os que se encarregam dos caminhos das nações e dos homens. Estes, os anjos e os arcanjos, estão mais próximos dos homens. Aqui, se incluem o Anjo de Portugal ou o Anjo da Guarda de cada um.
Em síntese, a todos se designam por anjos (mensageiros de Deus) independentemente da sua hierarquia (funções e ministérios diversos), que não é tão importante como a sua essência. É S. Tomás de Aquino que afirma que “os anjos têm diferentes graus de sabedoria e de perfeição”.
Para terminar, porque o sermão já vai longo e corro o risco de o deixarem a meio, presto a minha afectuosa homenagem a todas as mães da Póvoa, que sem saberem muito de teologia livresca, ao longo de todos os tempos em que estiveram expostos estes anjos nesta capela, ensinaram aos seus filhos, com incomensurável amor e ternura, tudo aquilo que elas compreendiam e que no seu coração de mães intuíam. Junto com a paciência e o carinho, quantas preces ficaram por saber-se. Uma, certamente a adivinhamos: a intercessão de todos os anjos para que nunca os seus filhos deixassem de ser os mais felizes do mundo.
Hoje as crianças continuam a fazer-nos perguntas sobre temas de fé. Saberemos nós ensinar-lhes melhor que as nossas mães? Falta-nos provavelmente a “sabedoria do coração”.
É esta mais uma particularidade de uma capela única no seu recheio artístico. Vale bem a pena, como dizia o sr. Administrador do blog, estarmos atentos à sua conservação e restauro. Pode contar com o meu apoio.
P. Assunção
Vila Nova de Souto d’El-Rei, 5 de Dezembro de 2006.

quinta-feira, novembro 30, 2006

Fim dos adversos ( por Zé Macário)

Nascida há bem pouco tempo, sob forte determinismo, algures em Lisboa, a TLEBES propõe-se entre outras coisas, acabar com as conjunções adversativas mas, porém, todavia, contudo. Estas teriam nascido com a terrível missão de borrar a “pintura” toda, em qualquer discurso laudatório e não só, pois que quando algo parecia belo ou perfeito, aparecia sempre alguém carregando um mas, porém, todavia ou contudo…
E vem isto a propósito do seguinte:
- Divergindo do que diz a minha querida amiga Drª Celeste Gonçalinho e, embora sem qualquer educação ou cultura estética precoce, penso que desde muito tenra idade, todos os “poveiros” contemplam e admiram a beleza interior da sua capela; eu próprio me refugiava muitas vezes nessa contemplação para suportar de bom grado, as rezas baixinhas ( bzzzzz) das “ratas de sacristia” , as longas ladainhas e tantas , tantas vezes, sermões arrogantes, intimidatórios e nulos de conteúdo.
Porém ( e cá temos uma das tais adversativas) não obstante admirar tal beleza, parece-me de muito mau gosto a pintura de alguns motivos do tecto, e refiro-me especialmente a um, que tem um vitelo pintado e sob o qual fico, no coro, quase sempre que vou à missa. Não diminui no entanto por isso a minha contemplação e, ao contrário do que pensa o comum dos mortais, o burro que está ao lado, hó ironia, não é tão quadrado como o tal vitelinho, e não consigo desligar a figura deste vitelo, da ideia de uma qualquer operação plástica da nossa Li Caneças…
Embora jubilado da honra de juiz com que fui cumulado pelas gentes da Póvoa, para as festas do ano transacto e com que me passeei pelas ruas da aldeia à frente da banda, inchado de orgulho ( tanto maior porque o meu irmão fora também juiz da senhora da Lapa) quase não cabendo dentro do fato, permitam-me que continue “ debitando “ algumas palavras:
- Na peregrinação à Lapa, tudo correu bem e o pessoal de Melcões, Póvoa e Juvandes divertiram-se imenso; Todavia ( malvadas adversativas) o sermão da missa campal pronunciado pelo Bispo não sei de onde, foi uma seca de mais de uma hora, em que cada palavra era seguida de mais dez sinónimos, que nunca disseram algo, isto é: falou, falou e não disse. Enfim uma verdadeira seca! Verdadeiramente lamentável como alguém abusa assim da paciência dos fiéis, que apesar de fiéis, já dormiam “ esparramados “ sobre a erva seca, vencidos pelo cansaço.
Também o sermão da festa da Póvoa me pareceu outra grande seca, pois o autor centrou todo o discurso na história da sua vida, coisa que francamente não sei a quem poderia interessar, a não ser que se nos tentasse impingir como modelo de vida, o que para além de arrogante, se tornaria de muito mau gosto. Porém ( hó santa adversativa) este sermão não foi muito alongado, dado o prévio aviso que o autor já teria para não se tornar enfadonho; No entanto tivemos de lhe pagar para ele nos contar ( como muito bem quis – elogio em boca própria é vitupério ) a história da sua vida, quando deveria ser ele a pagar-nos para o ouvirmos.
Ainda uma nota para falar da exposição:
- Aqui, concordo com a opinião e louvor do nosso querido Dr. Assunção, porém ( continua a perseguir-me a adversativa) devo penitenciar-me por ter contribuído para algum deslustre, pelo facto de ter proposto que ela fosse aberta a todas as pessoas que quisessem expor, pois cheguei à posterior conclusão ( errare humanum est ) de que ela seria de muito maior valia, se constituída só pelos trabalhos da nossa querida Drª Celeste Gonçalinho, dado o seu educado e apurado sentido estético. Até porque um olhar menos disperso e mais concentrado exclusivamente em trabalhos seus, guindá-la-ia por indução ao patamar do reconhecimento colectivo.
Espero que futuramente não se caia no mesmo erro.
Nota ainda também, para o facto de se ter percebido ( ideia aliás reconhecida também pelo senhor Drº. Assunção) que a Póvoa é talvez a aldeia à volta da cidade, com maior nº de licenciados por metro quadrado, alguns até, bons quadros superiores de grandes empresas, embora a sua modéstia seja proibitiva do uso do Dr..
Como nota final, e confessando a minha grande ignorância, a minha mãe sempre me falou dos serafins que suportam a talha da nossa capela, mas ( hó maldita edversativa) nunca percebi a relação hierárquica existente entre serafins, querubins, anjos, arcanjos, sendo que, marmanjos deveriam ser… assim uma espécie de anjos alentejanos, pois, era marmanjo que a minha mãe me chamava, sempre que me via embasbacado, absorto ou mais lento. Quanto ao anjo da guarda, esse matreiro conheço-o bem, pois nunca me faltou, só tendo metido férias por altura do meu casamento…
- E já agora, que alguém me explique também a relação hierárquica entre monsenhores, cónegos, vigários, padres, diáconos, subdiáconos, etc, pois parece-me muito mal que um católico praticante, tenha absoluto desconhecimento sobre estas matérias.

domingo, novembro 26, 2006

Novas fotografias da nossa Capela



Mais uma vez, o Sr Padre Assunção, nos presenteou com estas duas fotografias tiradas ao tecto da nossa Capela, onde a beleza das mesmas, nos esconde o mau estado de conservação, que urge ser reparado.
Não queiramos perder esta riqueza que muitos gostariam de poder contar nas suas terras. É preciso que todos unamos esforços para que o tecto se conserve, e não se perca esta riqueza. Talvez aqui seria importante, que pessoas avalizadas possam dar ideias, da melhor maneira de conservar todo este património.
Desde já o nosso obrigado a todos os que desejarem dar informações.

sexta-feira, novembro 24, 2006

PERSONALIDADES DA PÓVOA

D. Tomás Gonçalinho

1. Uma personalidade incontornável na história recente desta terra é o padre Tomás Gonçalinho. A minha admiração por ele, quero deixá-la bem expressa nesta nota. Quando o senhor administrador do blog me convidou a visitar o site da Póvoa e a participar nele, se possível, senti-me honrado, porque ainda era eu seminarista e já ecoava nos ambientes eclesiásticos: “a Póvoa é a terra do sr. Padre Tomás Gonçalinho”.
Feliz a terra que lhe serviu de berço! No arquivo paroquial da nossa Paróquia, o livro de assentos de Baptismos, no número 13, reza assim:
“Aos vinte e quatro dias do mez de Abril de mil novecentos e dez, nesta egreja parochial de S. Sebastião de Villa Nova de Souto d’ElRei, concelho e diocese de Lamego baptisei solemnemente um individuo do sexo masculino a quem dei o nome de Balthazar que nasceu no lugar da Povoa desta freguesia no dia dezeseis do referido mez e anno pelas dez horas da manhã filho legitimo e primeiro deste nome de Joaquim Gonçalinho e Maria d’Oliveira proprietarios naturaes recebidos e parochianos desta freguesia, neto paterno de Manuel Gonçalinho e Maria Luiza e materno de Jose d’ Oliveira e Maria Duarte. Foram padrinhos os quaes sei serem os próprios José de Oliveira viúvo e Maria Augusta de Freitas casada… E assina o Pároco de então, António dos Santos Coelho.
Obs: As palavras sublinhadas são para respeitar a forma como se escrevia em 1910, sem a alterar, podendo compará-la com a ortografia actual.

2. Um mestre de liturgia
Ninguém é profeta na sua terra, lá diz o provérbio. Mas talvez aqui não se cumpra, porque os seus conterrâneos praticam muito do que ele ensinava, nomeadamente a nível de liturgia. Quem o não conhece dentro da Ordem Beneditina e até fora do país como uma autoridade neste campo? Há dias passei pelo Colégio de Lamego, e com a generosa colaboração do meu prezado amigo P. Abel Matias, abri o primeiro número da Revista “Ora et Labora” de 1954, ano primeiro, p.8-17. Que belo artigo de incentivo à implantação da reforma litúrgica em Portugal, muito antes dos documentos do Concílio Vaticano II que haveriam de sair apenas em 1965!
São dele estas reflexões feitas na mesma revista, ano 1, n.º2, p.73-74: “A liturgia, tem-se repetido, é drama; mas um drama em que não há meros espectadores, em que todos sacerdotes, ministros e fiéis são actores, cada um com o seu papel especial e bem definido a desempenhar”. Noutros artigos seus, defendia já a escolha da língua materna para a Eucaristia (nesse tempo, a missa ainda era em latim), e a celebração voltada para o povo. Uma inteligência aberta, um inovador, um grande mestre. Assim o podemos definir.
Não admira que a sua terra seja de gente culta, de religião esclarecida, de fé adulta. Bem haja pelo seu legado, Sr. Padre Gonçalinho. A sua lição perdura, agora na Liturgia Celeste.
P. Assunção

terça-feira, novembro 14, 2006

Fotografias da Nossa Capela





Fotogafias da nossa Capela, que raramente observamos em pormenor a sua beleza e riqueza.

Estas fotografias foram gentilmente cedidas por: Padre Assunção, a quem aproveitamos a oportunidade para agradecer a colaboração prestada neste bolg
















quinta-feira, novembro 09, 2006

Ficava encantado quando em pequeno ouvia contar histórias do Zé do telhado, Robin dos Bosques ou outras personagens de idênticos comportamentos; Porém à medida que ia crescendo, ia-me interrogando sobre o porquê deste encantamento em mim, e que eu verificava também na generalidade das pessoas.
Aquelas figuras eram os nossos heróis e tentávamos imita-los até nas nossas brincadeiras de criança e treinos de liderança.
Era também a partir do mesmo sentimento, que me apaixonava pelos personagens e suas acções da história de Portugal, que me era ensinada ou contada de forma mistificada, tendo-me previamente gravado no subconsciente a “justeza” das razões dos nossos heróis.
No caso do Zé do telhado, e a partir de uma noção romântica e errada de justiça, previamente gravada no meu subconsciente, parecia-me altamente louvável o facto heróico de ele roubar aos ricos para dar aos pobres; Como se o roubo não fosse em si mesmo condenável, ou ainda como se se devesse atribuir ou confiar ao livre arbítrio de um qualquer indígena, a condução da justiça social.
Tinha portanto, gravadas no meu subconsciente, as premissas erradas para a elaboração dos meus juízos e, claro, quem parte de princípios falsos, chega sempre e necessariamente a conclusões erradas.
Mas mesmo ainda hoje e não obstante saber isto, aquelas figuras suscitam em mim instintivamente uma onda de simpatia. Pior ainda: acredito que isto se passe com a maioria ou generalidade das pessoas adultas.
Ora este vírus ( as tais premissas erradas ) gravado no “ ADN” do meu pensamento, distorce a minha liberdade de ser pensante, pois se as premissas estão erradas, estão errados ou condicionados todos os meus pensamentos.
Penso que foi este grave erro colectivo de apreciação, que nos levou a aceitar impávidos, as ignóbeis ocupações e saques pós 25 de Abril, por alturas do PREC, que tanto beneficiaram dúzias de oportunistas, com prejuízos incomensuráveis para todo o povo Português.
Lembro que o País esteve à beira da bancarrota e lembro também que tivemos de atribuir milhões e milhões de contos de indemnizações, às vítimas de tais saques;
Ou seja, roubaram eles e pagámos nós.
Ao que penso, também o exercício da inquisição com seus autos de fé e suas execuções, que hoje são objecto de condenação e repúdio, eram acompanhadas pelo povo em ambiente de grande festividade.
Do mesmo modo as políticas de Hitler, Mussolini, Salazar ou outros, tiveram sempre grande apoio dos povos em que se desenvolveram, e os líderes foram muitas vezes aclamados pelas suas práticas; aliás nem poderia ter sido de outra maneira, dado que é impossível a sobrevivência de regimes, sem o apoio, activo ou omisso, das populações que servem.
É também por este erro colectivo de pensamento ( a cenoura enganadora da ideia igualitária) que a União Soviética sofreu as vicissitudes do mais iníquo dos regimes à face da terra, desde 1917 até à queda do muro da vergonha, relatado aliás com mestria no livro negro do comunismo, de Stephane Courtois.
Os povos não têm assim que se envergonhar dos seus líderes, mas antes, envergonhar-se de si próprios, por terem deixado contaminar o seu pensamento, e com ele a acção ou omissão individual ou colectiva.
Faço esta reflexão ainda e também, a propósito do referendo para a liberalização do aborto.
É dito por alguns argumentistas que a liberalização e gratuidade do aborto, torna as mulheres pobres, iguais às ricas, tentando criar naquelas o desejo de serem iguais a estas. Cuidado com o engodo!
Também o argumento de que a mulher deve abortar quando quiser, por ela ser dona e senhora do seu corpo, me parece altamente falacioso, por fazer a apologia da desresponsabilização de paternidade, remetendo o homem para a simples condição de dador de esperma.
Dispenso-me de argumentar ou comentar outros argumentos, pensando no entanto que toda a argumentação deve ser devidamente fundamentada sem constrangimentos ou condicionalismos de qualquer espécie, na certeza de que os nossos pensamentos, actos e até omissões, têm consequências e acabamos sempre por ser responsabilizados por eles.
Na dúvida ou na impossibilidade de formar opinião, parece-me ajuizado utilizar uma metódica dúvida cartesiana, isto é: caminhar na dúvida sobre velhos conceitos e costumes, enquanto não estiver seguramente munido de ferramentas que estruturem em mim, o pensamento tendente a novos e válidos conceitos.

Ass: Tonho d’ Adélia

quarta-feira, novembro 08, 2006

Parabéns

Sr. Doutor Joaquim Assunção,

Aceite os meus modestos parabéns pela obra que escreveu” Estatuto Jurídico dos Judeus e Mouros na Idade Média Portuguesa” e cito uma frase que consta no Prefácio da mesma a fim de melhor se entender o objectivo da realização deste livro: ”é o resultado da tese de Doutoramento em Direito Canónico, na Universidade Pontifícia de Salamanca.
Alegro-me ao saber que temos como paroco da nossa terra uma pessoa com um valor cultural tão significativo! Felicito-o na sua caminhada, porque acredito que terá a partir de agora novas responsabilidades no meio eclesiástico.
Tendo já iniciado a leitura deste volume verifiquei que, é uma obra complexa; que trata uma problemática muito específica, dificilmente dominável pelo o cidadão comum, mas estou certa, de que será matéria do maior interesse, para quem se debruça sobre estas temáticas.
O que li do livro foi muito pouco, dado que estou sem tempo para o fazer, mas sinto curiosidade em conhecer o contudo na sua totalidade. Portanto, lê-lo-ei sempre que tenha condições para o fazer e estou certa, de que só tenho a ganhar com essa leitura, até porque, a Idade Média é um período da História que me fascina em todos os aspectos, nomeadamente no que diz respeito ao mundo artístico românico e gótico. Espero conseguir dominar o conteúdo da obra!...
Através deste livro tomei conhecimento ainda, de que existem outras obras da sua autoria, as quais gostaria de conhecer, tendo sabido também que o Sr. Doutor Joaquim Assunção ascendeu na hierarquia da Igreja Católica a Cónego, o que é surpresa para muitos de nós, - tenho essa convicção -. Julgo ainda que este facto, terá constituído uma grande promoção pessoal e espiritual para V. Rev.ª; um culminar por certo, de desejos/objectivos ,que terão sido inequivocamente importantes na sua vida como sacerdote. Tal formação ir-lhe-á trazer responsabilidades acrescidas pelo que lhe desejo as maiores felicidades!

Cacém, 9 de Novembro de 2006 Celeste Gonçalinho Oliveira Duarte

História e religião na Póvoa


(Outras notas curiosas)

1. Religião.
A capela da Póvoa é uma obra de arte em todo o seu conjunto. No entanto, é de salientar pela sua beleza, o retábulo do altar, em talha dourada que tem a marca dos mestres entalhadores da Igreja do Desterro, do 2.º período joanino (G. da Costa, vol.6, pág.17).
São de observar no seu interior, esculturas de querubins que uma máquina fotográfica digital há poucos dias colheu, pelas mãos de um professor do liceu Latino Coelho, o Dr. Giordano Ferreira e cujas fotos me acaba de oferecer, o que muito lhe agradeço. Ele próprio, um curioso atento das coisas de arte sacra, se deslumbrou pela raridade dessa decoração em altares.
Numa próxima oportunidade, enviarei para o site dos amigos da Povoa, as fotos aludidas sobre o altar e as pinturas do tecto. É que de tão habituados como estamos a ver as coisas, nem sempre as observamos bem e, por isso, não desfrutamos o que elas contêm de beleza e arte.

2. História.
Nos começos de século XVIII (1730), a Póvoa tinha 36 fogos e 123 almas (G. da Costa, vol.6, p.11) Na festa deste ano (2006), notou-se a recuperação da população que durante o ano se encontra espalhada por vários pontos do país. A capela encheu-se a abarrotar e a povoação apinhou-se de gente.
Mas o que é impressionante é que, como sendo significativamente pequeno o número de habitantes, em 1730, se faziam procissões entre a Sé e a capela da Póvoa durante todo o dia de 4 de Maio. Em 1718, por exemplo, uma decisão capitular documentada (dos senhores cónegos, membros do cabido da Catedral da Sé de Lamego) prevê a organização de uma procissão todos os anos no dia 4 de Maio em honra de Santa Cruz. De manhã, saía da Sé, passando pela capela do Espírito Santo, até à capela da Póvoa. E de tarde, regressava à Sé. Muita gente a acompanhava (G. da Costa, vol.5, p.171).
Porquê no dia 4 e não do dia 3 (festa de Santa Cruz)? Para não coincidir com a feira que se realizava nesse dia e ocupava muitos feirantes e estes cruzar-se-iam com os peregrinos, dificultando o ambiente de recolhimento que a procissão exigia.
P. Assunção
Póvoa, 9 de Novembro de 2006

domingo, novembro 05, 2006

Histórias de Lamego ( por Zé Macário)


Decorriam os exames do 5º ano, julgo que do ano de 1963, no liceu nacional Latino Coelho em Lamego, quando o meu amigo Gil – rapaz de São João da Pesqueira – ao não se sentir bem preparado para o mesmo exame, resolveu, com dois dos seus irmãos – não sei se teria mais – resolveu, dizia eu, preparar e utilizar um engenhoso sistema de comunicações, através do qual pudesse com distinção fazer a respectiva prova.
Na alameda à frente do Liceu, os dois irmãos – mais velhos – munidos de um aparelho rádio de sua construção, cruzavam com o Gil - ligado a estes na sala de exames – perguntas e respostas, sem que ninguém se apercebesse da marosca; tão bem disfarçado estava o dito sistema.
Azar dos azares, e por pura coincidência, o senhor Costa, proprietário de uma papelaria naquela cidade cujos clientes eram principalmente estudantes, sintonizou o seu rádio na mesma frequência dos outros protagonistas desta história, captando as mensagens e, irritado, foi com o próprio rádio à sala de exames e ai denunciou o meu amigo Gil, que assim viu gorada toda a sua expectativa.
Porém ao Gil veio a ser dada a possibilidade de repetição de exames – que vieram a decorrer com êxito – porque este caso, que despertou paixões de deu brado nacional, gerou uma grande onda de solidariedade com o rapaz, essencialmente pela natureza pioneira da sua invenção.
O senhor Costa, objecto de repúdio e chacota pública, fechou a papelaria e emigrou para o Brasil, porque os estudantes deliberaram dar uma carecada a qualquer indivíduo que lá fosse encontrado a fazer compras.





A “Santa” de Lamego (por Zé Macário )


Estamos talvez por meados da década de cinquenta, quando em Lamego apareceu uma mulher, dita santa, com altos puderes milagreiros ou curativos e cuja acção mais conhecida, era aparecer a uma varanda um dia por semana, exibindo as mãos, de cujas palmas brotava sangue.
Ganhou fama nacional, e a esta cidade acorreu gente de todo o país na ânsia de milagrosas curas.
Dava consultas ou entrevistas particulares, não chegando no entanto para tanta gente que aqui acorria, e que tinha de contentar-se com o simples espectáculo da exibição das mãos, já de si suficiente para inúmeras curas.
Por aqui se manteve com a sua actividade durante bastante tempo, talvez um ano ou mais, não sei precisar.
De repente desaparecera sem deixar rasto, tendo voltado a esta cidade por meados da década de setenta, dizia-se que regressada do Brasil.
Aqui desenvolveu novamente a mesma actividade curativa e de exposição, e cá acorreu novamente gente do país inteiro, porém desta vez, só por curtos meses.
Voltou a desaparecer sem rasto.
Foram porém óptimas ocasiões para o comércio desta cidade, principalmente para os taxistas que em todo o lado faziam a difusão dos milagres da dita senhora.
Voltará um dia?
Se voltar, façam-na ingressar imediatamente no serviço nacional de saúde

sexta-feira, novembro 03, 2006

RAZÕES PARA ESCOLHER A VIDA:

(2.ª parte do Editorial do Arauto d’El-Rei “Sim à Vida; não à Morte”)


1.º O ser humano está todo presente desde o início da vida, quando ela é apenas embrião. E esta é hoje uma certeza confirmada pela Ciência: todas as características e potencialidades do ser humano estão presentes no embrião. A vida é, a partir desse momento, um processo de desenvolvimento e realização progressiva, que só acabará na morte natural. O aborto provocado, sejam quais forem as razões que levam a ele, é sempre uma violência contra um ser humano, que nenhuma razão justifica eticamente.

2.ª A legalização não é o caminho adequado para resolver o drama do “aborto clandestino”, que acrescenta aos traumas espirituais no coração da mulher-mãe que interrompe a sua gravidez, os riscos de saúde inerentes à precariedade das situações em que consuma esse acto. Não somos insensíveis a esse drama; na confidencialidade do nosso ministério conhecemos-lhe dimensões que ninguém conhece. A luta contra esse drama social deve empenhar todos e passa por um planeamento equilibrado da fecundidade, por um apoio decisivo às mulheres para quem a maternidade é difícil, pela dissuasão de todos os que intervêm lateralmente no processo, frequentemente com meros fins lucrativos.

3.º Não se trata de uma mera “despenalização”, mas sim de uma “liberalização legalizada”, pois cria-se um direito cívico, de recurso às instituições públicas de saúde, preparadas para defender a vida e pagas com dinheiro de todos os cidadãos.
Penalizar ou despenalizar o aborto clandestino, é uma questão de Direito Penal. Nunca fizemos disso uma prioridade na nossa defesa da vida, porque pensamos que as mulheres que passam por essa provação precisam mais de um tratamento social que penal. Elas precisam de ser ajudadas e não condenadas; foi a atitude de Jesus perante a mulher surpreendida em adultério: “Alguém te condenou?... Eu também não te condeno. Vai e doravante não tornes a pecar”.
Mas nem todas as mulheres estão nas mesmas circunstâncias e há outros intervenientes no aborto que merecem ser julgados. É que tirar a vida a um ser humano é, em si mesmo, criminoso.
……..
Pedimos a todos os fiéis católicos e a quantos partilham connosco esta visão da vida, que se empenhem neste esclarecimento das consciências…
(Nota Pastoral do Conselho Permanente da Conferência episcopal portuguesa sobre o referendo ao aborto)

Vila Nova de Souto d’El-Rei, 2 de Novembro de 2006
P. Assunção

terça-feira, outubro 31, 2006

História e religião na Póvoa(Algumas curiosidades)

1. Religião.

Quando na passada festa de N.ªSª. do Pranto, em Agosto passado, eu contemplava a alegria, a edificação e o aprumo com que as pessoas se incorporavam na procissão, tive a curiosidade de procurar se havia algo escrito sobre procissões na Póvoa. As bem conseguidas fotos, gentilmente cedidas para publicação no blog, são disso também testemunho. E na verdade, folheando o volume n.ºV do historiador Dr. Manuel Gonçalves da Costa em História de Lamego, na pág. 496, encontra-se o seguinte:
A 18 de Maio de 1718, o cabido da Sé deliberou aumentar as prebendas aos ministros que fossem aos actos da solene procissão e missa cantada nas antiquíssimas romarias solenes de S. Domingos e de Santa Cruz da Póvoa. É de salientar aqui a referência às duas romarias em conjunto, a de S. Domingos (de Fontelo) e da Póvoa (de Vila Nova de Souto d’El-Rei), o que leva a crer que na Póvoa se realizavam procissões muito concorridas e de grande solenidade, nesta data.

2. História.

Porquê e desde quando o nome de Vila Nova de Souto d’El-Rei?
Na Grande Encicloplédia Portuguesa Brasileira aparece este nome como sendo o nome oficial desta freguesia. Arneirós, embora não oficial, continua, no entanto, em pleno uso. Mas o início desta nomenclatura é-nos explicado pelo mesmo historiador citado. El-rei D. José em 25 de Março de 1769 fez mercê a João de Almada e Melo “do lugar de Arneirós erigido em vila, servindo-lhe de termo a sua freguesia e mudando-lhe o nome para Vila Nova de Souto d’El-Rei” (Vol.VI, pág.11)
Como as notas devem ser breves, para se lerem mais facilmente, ficarão para uma próxima oportunidade outras curiosidades.

P. Assunção
31 de Outubro de 2006

segunda-feira, outubro 30, 2006

Conto de uma noite de nevoeiro

Estava-se no final de Outono. A natureza vestira-se a rigor com um visual naturalmente sombrio e melancólico. As árvores, arbustos e outras espécies vegetais, haviam-se libertado de toda a folhagem abandonando-a à sua própria sorte, mas logo o vento a dispersava pelos matagais e caminhos, onde se acumulava em fartos montes e lentamente se decompunha. Agora transformada, transfigurada e adormecida no tempo, a vegetação esperava resignada a implacável e impiedosa dureza do gelo, que se aproximava; pois assim o determinava o Inverno, que tão próximo estava; o que imprimia à paisagem um dramatismo comovente.
A luz gradualmente despedira-se do dia e dera lugar à noite, uma noite cerrada, escura, carregada de um tão denso nevoeiro, que impunha respeito, quando Luís Duarte (meu pai), - o herói desta aventura - se fez ao caminho solitário, de Ribablida para a Póvoa completamente sozinho, tendo apenas por companheiro o seu próprio pensamento, seguindo por trilhos e atalhos muito pouco recomendados para aquela hora da noite.
Vinha de casa do Pedrinho um amigo de longa data, contando ainda aproveitar duas ou três horas nocturnas para esticar o corpo no humilde aconchego de casa; o que até já nem seria muito mau, se não fosse o facto de ter de o fazer sobre um já muito velho colchão de palha, que mais moía os ossos que os reconfortava.
A noite convidava a imaginação a um quase devaneio fantasmagórico; contudo o nosso caminhante lá ia somando km após km sem se deixar vencer pelo medo; tanto mais que já não era a primeira vez que o fizera.
Porém algo veio perturbar a sua determinação de prosseguir o caminho. A cada passo que dava, sentia que algo o acompanhava.
Mas o quê?!...nada se via, nem um só palmo de terra à frente do nariz. Então, pensava:
-Não devo estar doido?!...e de resto, quem me acompanharia a esta hora ocultando-se de mim?! Bem, o melhor é pensar que dentro de poucas horas estarei debaixo das mantas! - e lá continuou a caminhada não muito conformado com a situação contudo cada vez mais convencido de que não ia só.
Às duas por tês, as pernas deixam de obedecer-lhe…tremem e flectem em todas as direcções.
Mais uma vez o nosso herói se interroga sobre as causas do seu medo e não encontrando justificação visível, resolve continuar a sua saga, jurando que voltaria a casa custasse o que custasse…
Deu meia volta, e algo reproduziu o seu gesto.
-Porra! - diz para os seus botões - sim, porque nem se atrevia a emitir qualquer palavra de forma que se ouvisse. De repente, num impulso inesperado e corajoso, sai-lhe da garganta uma mal balbuciada e trémula frase:
-Quem está aí?!- não teve resposta.
Definitivamente convencido de que algo avançava com ele na calada da noite e inseguro como ia, virara-se para trás instintivamente e repetidas vezes no intuito de desvendar o mistério, mas qual quê, nem a ele próprio se via, tão medonha e negra aquela noite era!
Apavorado, dirige a Deus um fervoroso pedido de protecção.
Por alguns instantes pensou que se libertara daquele pesadelo, mas não… e foi apenas quando por fim chegou a casa, que esclareceu todas as suas dúvidas, ao desvendar com grande espanto quem era afinal a sua invisível mas fiel companhia.
Não ganhou para o susto… que alívio!... Era um corpulento cão de guarda do Pedrinho, que muito bem conhecia o amigo do seu dono e obedecendo ao instinto natural, acompanhou-o. Luís nem queria acreditar no que lhe acontecera naquela noite.
Em troca do bom serviço prestado, o nosso protagonista passára-lhe uma, duas e mais vezes as mãos pelo dorso, orelhas e focinho repetindo vezes sem conta estas palavras:
- Ai, eras tu?! Pelo menos dizias alguma coisa!…
O cão parecendo compreender bem o discurso e o alívio do passeante da noite, ladra em tom moderado e levanta as patas dianteiras à altura do peito de Luís num gesto comovente. Por momentos fica imóvel, deixando-as depois deslizar até tocarem a soleira da porta. O animal dá meia volta e logo desaparece no denso nevoeiro e na escuridão da noite.

Esta é mais uma das várias histórias vividas e contadas pelo meu muito estimado pai que Deus tem.

Cacém, 23/10/2006 Celeste Gonçalinho Oliveira Duarte

Editorial do "Arauto d`El-Rei"

Editorial do “Arauto d’El-Rei”

Sim à vida: não à morte

A informação sobre a voz da Igreja acerca dos vários problemas que afectam a vida da nossa sociedade nem sempre chega com a frequência que seria de desejar. Aos fiéis caberá também procurá-la com mais avidez e regularidade.
Para que não falte a informação devida, em ordem à formação das consciências, aqui fica o contributo do nosso jornal, divulgando a Nota Pastoral do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa sobre o referendo ao aborto.

1. “A Assembleia da República decidiu sujeitar, mais uma vez, a referendo popular o alargamento das condições legais para a interrupção voluntária da gravidez, acto vulgarmente designado por aborto voluntário. Esta proposta já foi rejeitada em referendo anterior, embora a percentagem de opiniões expressas não tivesse sido suficiente para tornar a escolha do eleitorado constitucionalmente irreversível, o que foi aproveitado pelos defensores do alargamento legal do aborto voluntário.
Nós bispos católicos, sentimos perplexidade acerca desta situação. Antes de mais porque acreditamos, como o fez a Igreja dos primeiros séculos, que a vida humana com toda a sua dignidade existe desde o primeiro momento da sua concepção. Porque consideramos a vida humana um valor absoluto, a defender e a promover em todas as circunstâncias, achamos que ela não é referendável e que nenhuma lei permissiva respeita os valores éticos fundamentais acerca da Vida, o que se aplica também à lei aprovada. Uma hipotética vitória do “não” no próximo referendo não significa a nossa concordância com a Lei Vigente.

2. Para os fiéis católicos o aborto provocado é um pecado grave porque é uma violação do 5.º mandamento da Lei de Deus, “não matarás”, e é-o mesmo quando legalmente permitido…
Não podemos pois deixar de dizer aos fiéis católicos que devem votar “não” e ajudar e esclarecer outras pessoas sobre a dignidade da vida humana desde o seu primeiro momento… (Lisboa 19 de Outubro de 2006)

Obs: (Devido à exiguidade do nosso jornal, publicar-se-á a segunda parte desta nota no próximo número)
Uma coisa está clara: os responsáveis da Igreja já se pronunciaram. Os católicos já sabem o que lhes compete decidir, se a sua consciência está bem formada.


Padre Assunção (Pároco)
Vila Nova de Souto d’El-Rei, 29 de Outubro de 2006

sexta-feira, outubro 27, 2006

Desde há vários anos que estou sendo, e continuo a ser, lenta e progressivamente decepcionado com alguma hierarquia eclesiástica católica.
Se dos políticos em geral, tenho profundamente impressa uma tão má imagem, que nenhum conseguiria já decepcionar-me, já da hierarquia eclesiástica ou militar, eu considerava como fiéis e inabaláveis depositários de honoráveis valores sociais éticos, morais etc.
Não gosto de ver padres como residentes de programas televisivos de entretenimento, enquanto deveriam estar ao serviço dos seus paroquianos, tendo com certeza por lá muito que fazer, e sendo – assim o penso – a base causal da sua ordenação.
Não gosto de ver padres continuamente focados por câmaras televisivas em tudo quanto é festa ou passatempo do jet sete, pois julgo ter sido outra também a causa da sua ordenação .
Não gosto que membros cimeiros da hierarquia eclesial, troquem epístolas em jornais, com adversários ideológicos, ateus ou agnósticos, exibindo – quais pavões ou perus, de penas enfunadas – os ares da sua intelectualidade.
Não gosto de ver ” mitras sentadas “ em altos cadeirões ao lado do poder político principalmente quando este é, na sua génese, ideologicamente antagónica.
Não gosto que haja aceitação de oferta de avião estatal, para, em viagem ao Vaticano se fazer uma simples, fátua, e efémera promoção de imagem.
Porém, e principalmente, não gostei de ouvir dizer a alto responsável clerical, que a questão da liberalização do aborto não é uma questão religiosa.
Não sei quais as aladas formas modernas de transporte até ao pináculo do templo, de onde se pode ver e cobiçar o mundo com todas as suas riquezas e miragens, porém uma coisa eu sei – e aqui parafraseio o título de uma conhecida crónica - : não há almoços grátis.
Observo na sociedade portuguesa, ter-se desenvolvido uma autentica barbárie na subversão de valores, que vão desde a corrupção, promoção e desenvolvimento da poligamia, da paneleiragem ( moderna e pomposa homossexualidade), da promiscuidade sexual, da pedofilia, toxicodependência, com o consequente disparar do desenvolvimento de doenças sexualmente transmissíveis, entre as quais a temida sida.
São também notícias frequentes, novas formas de esclavagismo migrante (principalmente sexual) e tráfico de órgãos humanos.
Somando a tudo isto a terrível degradação da justiça.
Não me interessa aqui analisar as riquezas e altos negócios desenvolvidos e alimentados por estes desvalores, por me preocupar antes com o cortejo de vítimas que, desgraçadas, ficam pelo caminho.
Se tudo isto tem tido o olhar complacente dos políticos, parece-me ter tido também o silêncio – cúmplice ou não – da hierarquia eclesiástica
A vivência desenfreada do hedonismo moderno, levará inevitavelmente à queda abismal dos impérios do nosso desenvolvimento e bem estar, tal como historicamente levou à queda de todos os impérios que, no auge do seu desenvolvimento, a ele se entregaram sem reservas.
Com os sessenta e dois anos que tenho de idade, sempre aceitei a catequização do clero católico e sempre acreditei que as “ verdades” evangélicas eram intemporais e que todas as questões aqui invocadas, eram também questões religiosas.
Pelo que, afirmo, que a tal declaração de que a liberalização não era uma questão religiosa, me veio perturbar e confundir o espírito, sobre a verdade intemporal das catequizações que sempre me foram feitas.
Reafirmo que muito me chocou tal afirmação, principalmente pela eminência da sua origem.
Poderá, caríssimos irmãos Bispos – excelsas eminências e excelências reverendíssimas – não voltar a aparecer-vos a crítica contundente de um Erasmo, porém os vossos fiéis nunca irão compreender tanta passividade da igreja.
Apraz-me registar que, logo apareceram outros altos responsáveis afirmando - tal como eu sempre esperara deles – que, sim senhor, a questão da liberalização do aborto é realmente uma questão religiosa .
Espero que estes não se dispersem, e que, em uníssono, ajam em conformidade.
Poderei assim reanimar os créditos que sempre dispensei aos meus líderes religiosos.
Permitam-me que vos exorte a que nos exortem – com o vosso esclarecido exemplo – a seguir o caminho intemporal da verdade evangélica.

Ass: Tonho d’Adélia

domingo, outubro 22, 2006

Histórias de outros tempos

Estava-se em plena época de Natal,
quando à luz de uma velha candeia
se preparava a época festiva afinal,
e ainda uma magra ceia.
entre o crepitar do lume na lareira,
e o borbulhar do azeite na frigideira.

Homem e mulher permaneciam sentados
observando abismados
algo que com regularidade do caniço caia,
mas que mal se distinguia;
o que os deixava perplexos e assustados...

Entre o cozinhar das fritas
que iam ficando douradas e bonitas,
o mistério ia ganhando dimensão,
tomava corpo e proporção...
a mulher não mais se contendo
vira-se para o homem dizendo:
-mas o que vem a ser isto?!
Chove na nossa cozinha, está visto!...

Responde-lhe o homem impaciente:
-acalma-te aí ó mulher,
foi um rato qualquer,
que teve necessidade e urinou
mas de certeza já abalou!...
esquece o que acabamos de ver,
pensa no que estás a fazer.

Mas qual abalar qual porcaria,
se a gota continuava, caia...
e o pior era a paciência que esgotava;
para cúmulo, a mulher só então reparara
no prato das fritas que estava vazio.
O que teria sido feito de tal quantidade de fritas?
Atravessou-lhe o corpo um forte calafrio,
onde estariam as malditas?!...

Arre homem, que estranha coisa esta!...
será que não vejo mesmo nada?!
Estarei cega, ou não teremos fritas na festa,
não teremos consoada?!...
-Bem!...-disse o homem- vê se cairam ao chão!
Ela olhou, mas nada viu, isso não!
-Que diabo por aqui passou,
que nem uma só frita nos deixou?!...

É então que se ouve estranha gargalhada,
no momento em que menos se esperava,
vinha sem dúvida do caniço.
Enquanto o lume ia ardendo mortiço,
o aventureiro, a custo lá ia controlando,
cada gota que ia largando...
e para não cair sufocado
com o fumo ali acumulado,
comprimia firmemente a boca e o nariz...

Outro como ele aventuroso, mas no ofício aprendiz
como relâmpago, do canto da lenha se escapulia
e na sombra da noite se diluia,
levando o saboroso prémio consigo
enquanto o seu amigo,
que teve do seu lado o azar,
nem a cor das fritas conheceu
e muito menos as comeu.
Depois de muito pensar,
conclui não encontrar maneira
para justrificar tão abusiva brincadeira!...

Celeste Gonçalinho Oliveira Duarte
Cacém, 09 /10 /06

sexta-feira, outubro 20, 2006

Preito a Zé Gonçalinho

A Póvoa, como tantas aldeias e cidades deste nosso Portugal, assistiu, talvez ainda antes dos anos 50, à fuga dos seus filhos, para outras paragens, onde a sorte lhes sorrisse.
Não sei muito bem como foram os anos anteriores a 60, mas penso que muita gente teria partido para o Brasil, Africa, e outros, talvez se tenham ficado por Lisboa e Porto.
De entre todos aqueles que partiram, há sempre estórias de uns e de outros, que nos proporcionaram serões em família de grandes risotas e boa disposição.
São algumas dessas estórias de aventuras, que hoje aqui gostaria de retratar, mais ainda quando se trata de uma pessoa, que penso todos terem tido uma grande admiração e estima por ela.
Não posso precisar, em que ano teria saído da nossa aldeia, mas provavelmente muito novo, talvez mesmo depois de seu pai lhe ter oferecido um fato, (penso, ter sido de cotim) que ele deveria estriar no domingo de Páscoa. O facto estava prontinho a ser vestido! O domingo de Páscoa é que não havia maneira de chegar… Bom, mas lá chega finalmente o sábado de aleluia, a noite é que foi a mais longa que ele já tinha passado. Nunca mais chegava a hora de vestir o fato. Ainda o galo não tinha cantado, e já o bom do dono do fato se levantara, vestira o seu fatinho novo e aí vai ele enxada ás costas corgo abaixo, deitar a água às suas lameiras, até que o sino tocasse para a missa. Quando o sino toca aí vem ele de regresso, contente da vida assobiando, não se lembrando que a essa hora da madrugada estaria toda a gente a levantar-se.
Ora nesse tempo as casas não dispunham de WC, e como era uso as necessidades fisiológicas durante a noite eram feitas, para aquilo que hoje todos conhecemos por: “pote” e que depois eram despejados, ainda no silêncio da madrugada, pela janela fora, ou pela porta.
Foi precisamente o que aconteceu. Ainda meio adormecidas, as pessoas não perceberam que alguém vinha àquela hora da madrugada a passar, e como era normal trataram de despachar o conteúdo do pote pela cabeça abaixo do até ai radiante rapaz do fato novo. Muito triste por não poder mostrar o seu fato, lá se refugiou em casa, tentando arranjar uma desculpa para apresentar ao seu pai, uma vez que não tinha ido à missa com o seu novo fato.
Mais tarde vai para Lisboa, provavelmente levado por algum conterrâneo, e começa a trabalhar em Monsanto, naquela que hoje se pode considerar o pulmão de Lisboa. Só que o tempo foi passando, e cada vez havia menos terreno para plantar árvores, e todos os dias começava a haver despedimentos.
Mais uma vez, e como bom católico, começa a pedir a todos os Santos ajuda, para que não fosse ele um dos atingidos pela lista de dispensas. Como recompensa por este favor que os Santos lhe iam fazendo, ele prontificou-se todos os dias a subir e a descer a calçada da Ajuda sempre a rezar. Passara uma semana, e todos os dias havia despedimentos, sem que o seu nome alguma vez tivesse sido mencionado. Convencido que só tinha feito bem em pedir ajuda aos Santos, continuou cada vez a rezar mais, até que um dia, já farto de subir e descer a calçada, sempre a rezar, pensou lá para os seus botões: “ ora, ora, mas porque tenho eu de subir e descer isto tudo sempre a rezar, se eu até nem sou despedido?!, eu só não sou despedido porque sou bom trabalhador. Agora vou mas é assobiar”.
Chegado ao trabalho começa a chamada, para dispensar o pessoal….Pois é nesse dia ele também ficou muito triste, esquecera-se de rezar e foi despedido. Dizia então ele: “porra, porque diabo eu hoje não rezei mais?!...”
Sempre o conheci, como uma pessoa bem-humorada e bem disposta, não gostando que junto dele e por sua causa tristezas se avizinhassem. E a prova disso foram alguns azares que lhe foram aparecendo no caminho, mas que ele sempre contornou com grande sensatez, não contagiando com a sua dor todos os que o rodeavam. Foi o caso de num já longínquo dia 6 de Setembro, quando em Melcões, a sua camioneta resvalou e foi cair num campo. Nesse dia estava combinado ir comer com os seus familiares umas farturinhas a Lamego, pois é!... não foi o caso da camioneta ter caído que o privou de cumprir a sua parte na festa dos Remédios.
Uma outra vez, estava a preparar-se para sair, numa das suas habituais viagens de trabalho, e como era seu hábito lá foi trocar de calçado. Não reparou porem, que um dos sapatos que acabara de calçar, não era o par do outro, e só quando estava sentado à mesa para comer alguma coisa antes de sair, reparou nisso, o que lhe mereceu rápidamente mais uma das suas saidas: “- em nossa casa enquanto houver parte de cima há sempre sapatos…”
Nunca me lembro de ter visto o armazém onde guardava a mercadoria que vendia, fechado, com medo que alguém lá fosse e tirasse alguma coisa. Dizia ele então: “ fica tudo aberto, porque se as pessoas precisarem vêm cá buscar e depois logo pagam.”
Realmente assim era, ou pelo menos ele sempre acreditou que fosse.
No verão a sua casa era o ponto de encontro de novos e velhos. As noites eram passadas a jogar as cartas, que ele tanto gostava, por vezes nem se lembrava de comer para ir jogar, e aí sim… ele não gostava nada de ser interrompido no seu descanso. As pessoas que se tinham esquecido de levar o sal, ou o knorr, ou mesmo o gelado para os netos, vinham sempre em horas menos propícias, pois estava agora concentrado e como tal a um pedido de: “ -Ó Zé, quero….” Respondia ele com o seu bom humor: -Ó tia Maria tire ai e paga amanhã. – Não, eu tenho aqui o dinheiro, respondia ela. – Então deixe ficar aí em qualquer lado – Mas quero troco Zé. – Ó que porra, deixe lá isso e pague antes amanhã…
Ele era assim mesmo….

Jorge Venâncio

terça-feira, outubro 17, 2006

A minha outra estrela perdida

Guardo com indizível nostalgia
a verdadeira serenidade,
a tranquila paz que transmitia,
e o quanto os outros respeitava
e por igual ao seu jeito amava,
um especial velhinho
o meu avô, a quem eu chamava padrinho!

Como posso esquecer,
os seus olhos doces e pequenos
e do universo da minha memória varrer
os seus gestos meigos e serenos?!...
ou a segurança que se esentia
quando com ele se convivia,
ou ainda o exemplo que foi de bondade
correcção e solidariedade?!

Aquele homem virtuoso
trabalhador infatigável
sincero e generoso
sempre foi para todos agradável.
nunca se lhe ouviu queixume
desencanto ou azedume,
aceitando a vida com humildade,
vivendo-a honestamente e com serenidade!

Consta que era jovem charmoso e atraente
porém humilde e por isso dos outros diferente;
a caça foi a sua grande paixão
não dispensava ler à noite a bíblia,
porém, foi à família,
a quem se entregou com infinita dedicação!

Mas tal como a outra estrela que perdi,
também esta sucumbiu na medonha escuridão!
Abraçou submissa o seu derradeiro luar,
aquele que um dia, para sempre a veio buscar
e nunca mais a vi!
O que restou dela, foi uma perda sem solução
um indescritível vazio
um sentimento gélido de causar arrepio!!!

Celeste Gonçalinho de Oliveira Duarte
Cacém, 17/10/2006

Utopia

Procurei-me na minha ausência,
quis ao menos encontrar minha aparência,
no rasto dos meus passos
fatigados e duridos de canseira;
nas marcas dos sonhados abraços
até na enfadonha poeira;
na dor da terra que pisei,
mas nunca me vi,
nunca me reconheci,
jamais me encontrei!...

Foi em vão a minha procura!
nesta luta por achar-me...
onde estou?!
Onde vou, de onde vim?!
Quem sou?!
Ainda ontem acreditei que o sabia,
mas tenho dúvidas agora! Quem diria?!
Cansei de buscar-me assim...
de nunca me vislumbrar,
de não me encontrar!...

Oh! Quanto corri eu,
sempre na procura de mim?!
Cansou-se esta luta obstinada,
mergulhou em sono profundo, adormeceu...
desenhou-se na noite por fim,
a minha silhueta e mais nada!...
ó triste desilusão
que escondes a minha real essência,
apenas me mostras tão fraca aparência,
que mais não é do que mera imitação!...

Oh! Quanto empolgante para mim seria,
encontrar o meu eu um dia...
mas não!
Vagueio e corro,
definho e por fim,é certo que morro,
sem de mim achar sinal;
sem possibilidade de sorrir
por não puder concluir,
quem sou eu afinal!...

Celeste Gonçalinho de Oliuveira Duarte
Cacém 30/09/2006

terça-feira, outubro 03, 2006

Bilhete de identidade ( por Zé Macário)

Soube em várias circunstancias da vida ( ida para um colégio longe, casamento, ida para a tropa e depois para a guerra, perda de pessoas afectivamente muito próximas), a amargura do que para trás ficou por dizer, por descobrir, por confessar…
Não sei se gostaria de ter a coragem de, tal como M. F. Mónica, fazer o meu bilhete de identidade, reclamado há muito aliás, por algumas das pessoas que me são mais queridas.
É frustrante viver só, com os nossos fantasmas habitando o mesmo sótão, sem nunca nos conhecermos, até porque nunca fôramos apresentados.
Se no entanto, abertamente nos tivéssemos confessado, quanta avalanche de desordem teríamos provocado? Quantos ódios teríamos atraído sobre nós?
Como aceitariam, os objectos do nosso amor, a confissão e prova de que lhes lemos toda a alma; que percebemos perfeitamente o que há de verdade em cada sinal, gesto ou acção, sem cairmos num terrível sentimentalismo piegas?
Como reagiria eu, ao facto de alguém abrir a “arca” envolta em “teias de aranha” onde guardo o meu “livro”, e começar a ler-mo em voz alta?
Em virtude de uma fragilização física e psíquica recente, voltou a assaltar-me a tal angústia do muito que para trás não fora dito.
Quem se disporia a confessar o processo de retorno aos instintos mais primitivos, animalescos e selvagens, que o soldado sofre num teatro de guerra?
Quem reconhece e confessa a opressão a que a supremacia de um ocupador territorial submete o ocupado, usurpando-lhe e violando-lhe o orgulho, a casa, a filha, a mulher, a vida?...
Quem, ainda num teatro de guerra não perdendo a sua humanidade, retrata o trauma vitalício que sofre, por eventualmente se imaginar causa de morte ou invalidez de outro alguém, ainda que considerado inimigo?
Cada homem é um mundo secreto e indesvendável, pelo seu mutismo, pensamento, acção e inacção, e não sei se assim deve permanecer.
Deve então fazer-se um auto retrato? Se alguém fizer o seu bilhete de identidade, terá a certeza de ser sua, a fotografia que lá fica estampada?
Mas qual afinal a importância de tudo isto, se não devem importar-me os julgamentos de estranhos e se tenho a certeza de serem ou virem a ser correctos, absolutamente correctos, os juízos de quem bem me conhece?
Toda a acção ou simples conjectura do individuo, se vai efectivando, consolidando e também amortecendo, diluindo e desaparecendo no labirinto convulsivo e “irupto” do nosso quotidiano.
Fomos assaltados e muitas vezes também bafejados por inúmeras fantasias … Fizemos maquinações, ínvias conjecturas, conspirações; Fizemos “ borregar” e cair déspotas, eleitos por sistemas democráticos … Tudo se dilui.
O tempo tudo cura.
Cada homem é um mundo, é um segredo, é um túmulo…
Deixe-se sobre cada existência humana a pedra tumular que a caracteriza, e que a faz singular aos olhos do Criador que, acredito, poderá ter realmente o bilhete de identidade de cada criatura.

Pedra Filosofal

segunda-feira, outubro 02, 2006

A festa em honra de Nª Sª do Pranto (por Celeste Venâncio)

Veja as fotos da procissão. Estas fotos foram cedidas por: FERNANDO COSTA

Festa em honra de Nª Sª do Pranto

A Póvoa viveu com muito entusiasmo a festa em honra de Nª Sº do Pranto.
Foram oito dias de diversão, havendo sempre alguma coisa que alegrasse as pessoas: Danças, teatro, bailes populares, cantares, anedotas um tanto ou quanto apimentadas e até uma belíssima sardinhada oferecida pela Comissão de Festas
Foi bom, foi divertido, foi alegre!...
Mas o objectivo da festa ainda não tinha sido atingido. Objectivo esse, que era honrar Nossa Senhora do Pranto, com a festa religiosa: missa e procissão.
O dia 27 de Agosto amanheceu com um sol brilhante, convidando-nos a uma maior participação. Este era o dia da mãe, para a louvarmos, bem-dizermos e agradecermos todos os favores. Logo de manhã a banda percorreu a aldeia, acordando os mais sonolentos.
Ás 11H45m celebrou-se a missa presidida pelo Sr. Dr. Joaquim Assunção, concelebrada com o Dr. Hermínio Bernardo, advogado, ordenado este ano com 72 anos de idade, viúvo e pai de dez filhos.
«Os desígnios de Deus são insondáveis»
A missa foi acompanhada pela banda; há quanto tempo que isto não acontecia!...
Por isso toda a gente gostou
Alguém me dizia:
- Foi bonito; gostei!...
Seguiu-se a procissão; foi o culminar da festa.
Pela primeira vez, neste dia saíram os andores, segundo relato dos mais velhos. Eram três os andores: Sagrado Coração de Jesus, Santa Bárbara e a padroeira, Nossa Senhora do Pranto.
Os andores estavam lindos!...
Arranjados pelas pessoas da terra, que nisso puseram todo o seu empenho, amor e carinho.
A procissão, depois de bem organizada, graças ao cuidado dos escuteiros, segue pelas calçadas da aldeia. A música acompanha. Anjinhos e figuras de santos dão um ar mais solene à procissão. Debaixo do palio segue o Santo Lenho. Uma multidão de gente segue atrás, agradecendo favores, pedindo bênçãos!...
Das varandas e janelas pendiam lindas colchas brancas, sinal de festa e alegria. Pétalas de flores caíam como gotas de orvalho sobre os andores.
Era na verdade dia de festa!...
Depois de ter percorrido a aldeia, a procissão regressou à capela, onde foi dada a bênção com o Santo Lenho.
Foi deste modo que honramos a Senhora do Pranto.
No final, e cumprindo um ritual que já vem de longa data, cada família saboreou o tradicional cabrito ou borrego assado no forno, com batatinhas assadas e arroz de forno.
Foi o culminar de uma grande festa numa também (embora pequena) mas grande terra.
Fazendo agora uma retrospectiva, a festa de décadas atrás era feita precisamente no último domingo de Agosto e era em honra do Sagrado Coração de Jesus.
A festa resumia-se apenas ao dia de domingo, com missa solene da parte da manhã, acompanhada pela música.
Da parte da tarde era o arraial, que se fazia no souto de Santa Cruz, lugar onde este ano estava a “chafarica”.
A música tocava e as pessoas divertiam-se à sua maneira.
Vinham as biscoiteiras com o afamado biscoito de Lamego e não faltava a presença de GNR para por fim a qualquer desacato que surgisse..

sábado, setembro 30, 2006

Fotos da Exposição

Clique aqui
Para visualizar as fotos clique.
Estas fotos foram cedidas por: PAULA COSTA

Ainda a Festa (por Fernanda Gonçalves)

Póvoa
Uma referência justa ao envolvimento e ao trabalho de todos os mordomos que tão bem souberam renovar e dinamizar o povo adormecido da Póvoa. Muito já foi dito sobre a festa, mas nunca é demais valorizar o evento e homenagear a criatividade e a coragem de quem se expõe, perante o julgamento dos outros e, dar os parabéns a todos quantos ao longo do ano trabalharam e se esforçaram para realizar com sacrifício ou prazer, a festa a Nossa Senhora do Pranto, que juntou quase todos quantos gostam daquela maravilhosa terra e, só por isso valeu a pena. Valeu a pena, a forma como o povo, trovador por excelência das coisas simples, que de forma espontânea e delicada, mostrou a sua poesia. Numa sã convivência e uma dose de alegria, que certamente no futuro ganhará uma progressiva dimensão aos olhos de quantos vão de uma forma ou de outra desvalorizando aquele povo. Foi gratificante ver como todos se envolveram para dar sentido ao objectivo proposto. Sentir o orgulho de ter nascido naquele canto e ver finalmente paz entre todos quantos por ali se deslocaram. O recordar das tradições que não tive oportunidade de assistir, mas que de muito faladas me levaram aos meus tempos de criança e, que saudades senti…espero que tenham contribuído para um maior conhecimento aos mais jovens, das suas raízes e que os faça pensar como a vida agora parecendo tão simples, foi dura para alguns dos seus antecessores. Deu gosto ver pessoas simples, de espírito bem vivo e jovial expressarem as suas emoções, como de um sonho se tratasse. Não poderei deixar de me pronunciar sobre a exposição que admirei pelo pouco tempo para a sua elaboração e pelo trabalho nela apresentado, trabalho com bom gosto e artesanalmente bem conseguido, um salto qualitativo, na aldeia. Que a nossa Póvoa não fique parada no tempo e que prolifere o espírito de iniciativa. Um abraço e um obrigado sentido a quantos contribuíram para engrandecer este evento. Fernanda Gonçalves

sexta-feira, setembro 29, 2006

Coisas simples da minha aldeia

Coisas simples da minha aldeia

Um dia caminhava eu apressada,
E embora pequena como era,
Já tinha tarefas à minha espera,
Mas isso não era coisa que me preocupava.

Descia o carreiro
Junto àquele ribeiro
Que vai dar ao muradal,
Quando ouvi uma forte chilreada
Ali mesmo ao pé de mim.

Embora perto como era
E não estando eu à espera
de uma “orquestra” assim
Não vi realmente nada!

Não desisti
E foi então que vi
Um minúsculo ninho de pardal
E o ninho, tinha um pequenino ovo.

Não querendo aquele momento perturbar,
Retirei por momentos o meu olhar;
Ora, não sei porque magia
Quando olhei de novo
O tal ovo já eu não via,
Já ali não estava!

Mas que estranha coisa, que maçada…
Seria então eu a culpada,
Do que no ninho acontecia?!
Por certo não seria!...

Olhei novamente
E desta vez mais atentamente;
No lugar do ovo, estava um ser pequenino,
Tão frágil, tão franzino,
Que me fazia dó
Mas não estava só
Este ser estranhamente depenado.

Às vez com o bico muito aberto
Outras, com ele fechado,
Estava o pardal mãe ali tão perto
Tratando dele com cuidado,
A alimentá-lo e a aquecê-lo
E eu esqueci o tempo ali a vê-lo!

Quando finalmente cheguei
Já o sol ia alto,
Porém esperava-me uma ruidosa reprimenda,
Que me serviria no futuro de emenda
Mas tive sorte e lá escapei!...

Oh! Como eu gostaria
De um dia
Poder voltar ao muradal
E ver de novo
Um ninho com um ovo,
Um ovo de pardal
Que eu pudesse tocar
Com a minha própria mão
E carinhosamente afagar
Dando largas à minha emoção!...

Celeste Gonçalinho de Oliveira Duarte
Agualva, 29 de Setembro de 2006




Agualva, 29 de Setembro de 2006

Felicito-te, ó Blog da Póvoa!

Felicito-te, ó blog da Póvoa!

Abraço-te ó blog da minha terra,
Tu que exaltas a humildade do povo,
a generosidade da serra,
o que é velho, o que é novo,
Alegro-me por te ter como amigo
Quero permanecer a teu lado
Seguir-te-ei, irei contigo,
Só a ti meu sonho confio,
Que cá dentro trago guardado!

Felicito-te pequeno menino
Tu, que aparentas um ar franzino
Mas te revelas consistente e forte,
Tu, que mudaste o rumo e a sorte
Ao divulgar a farta ou magra ceia
Daquele povo simples e discreto
Que é a minha aldeia;
Continua, vigilante e atento,
Faz teu mensageiro o vento
Sê veículo directo
Do meu sonho incerto
Que aqui te trago, aqui te ponho!

Que sejas feliz,
Sou eu quem to diz;
Tu e quem te gerou,
E ainda quem te sustenta
De tão variada e laboriosa ementa,
Que tão alto nos levou!
Não te presenteio com uma rosa,
Trago-te coisa mais preciosa;
Aquilo que tenho para te dar,
É o meu rir,
Se te encontro a sorrir,
É o meu pranto, se te vejo a chorar!!!...

Celeste Gonçalinho de Oliveira Duarte

quarta-feira, setembro 27, 2006

1º Aniversário do Blog da Póvoa

Boas Vindas

Sejam todos bem vindos ao Blog da nossa Aldeia!!!!


Foi esta a postagem com que faz hoje precisamente um ano iniciamos este blog.
A todos quantos ao longo deste ano nos visitaram.
A todos os que deram o seu contributo com testemunhos para enriquecer esta página
Aos administradores que dia a dia vão colocando as postagens que lhes são enviadas

A TODOS VÓS O NOSSO MUITO OBRIGADO PELOS VÁRIOS MOMENTOS QUE NOS PROPORCIONARAM UMA PASSAGEM PELAS NOSAS RAIZES.

Exposição de Artes Plástica e Artesanato

Introdução

Desde os primórdios da existência humana na terra o homem sentiu necessidade de utilizar a sua capacidade criativa e manipuladora para criar representações relacionadas com a sua própria sobrevivência o que lhe permitia comunicar com os grupos humanos vizinhos, ou as gerações posteriores.. Assim produziu objectos estéticos onde se inclui a obra de arte e artefactos, objectos para uso próprio, que se enquadram no universo artesanal e que se apresentavam como absolutamente essenciais no seu quotidiano.
Achei ter cabimento esta pequena introdução, porque penso que ajudará ajudar a compreender o género e dinâmica da exposição realizada este ano na Póvoa uma actividade que deu início às festividades a Nossa Senhora do Pranto. Ela cumpriu estes dois objectivos: apresentar objectos mais orientados para a arte e objectos de carácter utilitário. Havia no caso desta exposição uma clara separação entre arte e artesanato, não perdendo porém importância uma em relação à outra. Não são raras as situações em que estabelecer a fronteira entre estas duas formas de criação humana, se torna uma difícil para não dizer impossível tarefa.
Subordinada ao tema Artes Plásticas/Artesanato e apresentação de poesia, esta inovadora iniciativa na nossa terra teve um sucesso que excedeu as mais remotas expectativas de todos nós! Foi notável o empenho, a determinação e a vontade posta ao serviço desta ideia por todos os participantes, no sentido de que tudo corresse da melhor forma possível. Não foi fácil, trabalhou-se muito, abdicou-se de alguns tempos de descanso, para que o nosso trabalho resultasse, para que o público gostasse e se sentisse bem entre as nossas pequenas obras de arte. Existia em cada peça um carinho muito especial que cada autor depositava nela durante a sua concepção e os visitantes deverão ter compreendido este nosso sentimento, mostrando-se curiosos, interessados e satisfeitos naquele espaço, o que foi a melhor compensação que poderíamos esperar!
O número de pessoas que por lá passou foi tão significativo, que quase se pode considerar um fenómeno. Não se pense que iam algumas pessoas mais sensibilizadas para este género de acontecimentos; bem pelo contrário, foi toda a gente, apareceram as famílias em peso, os adultos fizeram-se acompanhar pelas suas crianças, o que significa que esta gente encontrou neste evento motivo de interesse para si e para os seus, ou seja, encontrou nele o seu verdadeiro significado
No espaço previamente preparado para ela, foi possível ver trabalhos realizados com diferentes tecnologias: rendas, bordados, cestaria, trabalhos em verga, colchas produzidas em tear manual, cerâmicas e outros objectos similares, que nos fizeram recuar no tempo até tradições e gerações antigas. Enquadram-se neste contexto os trabalhos apresentados por: Augusta Jerónimo, Celeste Venâncio, Manuel de Oliveira, Otília Oliveira, Lucília Alves, Manuel Gonçalinho, Joaquina Gonçalinho, Nair e Irene Silva.
De carácter mais actual, mas de certo modo evocando os aspectos culturais da nossa terra foram apresentados trabalhos variados: pintura sobre tela representando objectos, arquitectura rural da nossa aldeia, trabalhos agrícolas flores, gravura sobre madeira, escultura, desenho, pintura sobre estanho e sobre tela com representações de retratos e de actividades agrícolas, pintura sobre azulejo e pratos cerâmicos cuja temática era arquitectura essencialmente e aves e ramagens. Nesta variante incluem-se Teresa Costa, uma artista autodidacta, que nos mostrou a todos nós como, representa bem as coisas e Celeste Gonçalinho de Oliveira que nutre este mesmo amor pela arte desde tenra idade e que apresentou um significativo conjunto de trabalhos; bons ou nem por isso, não me compete fazer essa apreciação. Também aqui incluo alguns trabalhos apresentados por Otília Oliveira: figuras da religiosidade popular com patines muito bem aplicadas.
De caris mais intelectual tivemos a apresentação de um livro de poemas de José Gonçalinho de Oliveira, (já falecido) o que muito nos honrou: Em primeiro lugar, por se tratar de uma figura nossa conterrânea, que contribuiu em diversos aspectos para melhorar a qualidade de vida na Póvoa no seu tempo, por ter desenvolvido uma área tão pouco comum entre a nossa gente(a poesia) e por ter contribuído para o enriquecimento da poesia portuguesa.
Para se ter a ideia da movimentação naquele espaço sobretudo no primeiro dia, no Sábado e no Domingo, como era eu que ali estava e ia falando com os visitantes sobre a exposição, tive alguma dificuldade em gerir o tempo para partilhar na mesa as refeições com a família ali reunida. Porém isto não me causou tristeza, mas antes uma grande alegria por ver o interesse com que a aquela gente olhava cada peça ali exposta.
Foi maravilhoso porque a proposta no início parecia a quase todos uma ideia utópica e sem rasoabilidade. Por isso houve alguma relutância em participar por parte de algumas pessoas. Com o amadurecimento da ideia, constatou-se um envolvimento generalizado e uma grande vontade de levar para a frente o projecto e mais pessoas teriam participado; não o fizeram por desconhecimento.
Sentia-se no início do povo e no cimo do lugar uma grande azáfama nos preparativos para esta exposição pois tivemos felizmente a preciosa colaboração de várias pessoas Neste sentido agradece-se ao senhor António ( técnico de obras de Juvandes) que colocou camarões no tecto e improvisou um extenso suporte para colocação dos trabalhos, agradece-se também a grande ajuda dispensada por Agostinho Jerónimo, mulher, filha e ainda ao senhor Aurélio pela oferta das madeiras, construção do grande cavalete e na montagem dos painéis de azulejo.
Valeu a pena, porque foi uma exposição à altura não de uma pequenina aldeia como a nossa, mas de uma terra com uma estrutura social e material muito superior.
Por tudo isto, pelo esforço empreendido para levar a bom termo esta iniciativa por parte da organização e participantes, pela boa qualidade dos trabalhos apresentados e pelo prazer que todos sentimos, a festa deste ano ficará na história da nossa terra não só mas também devido a este acontecimento.
A Póvoa está de parabéns!
Por fim vou citar uma frase de Maria da Conceição Gonçalinho “A Póvoa ficou imortalizada nestas pinturas que a retratam”. Eu acrescentaria: a exposição em geral imortalizou-a!!!

Celeste Gonçalinho de Oliveira Duarte

Cacém, 20 de Setembro de 2006

terça-feira, setembro 26, 2006

Auto análise ( Zé Macário)

Tendo saído da Póvoa ainda bastante novo, parecia-me ter poucas afinidades com o povo que há tantos anos deixara para traz.
As minhas curtas férias aí, eram bastante laboriosas e por isso pouco comunicativas; quis o destino que agora ao ser nomeado para integrar a comissão de festas 2006, fosse “forçado” a uma comunicação mais afectiva e mais efectiva e assim, observar mais de perto o nosso comportamento enquanto “ poveiros”.
Fiquei pois com a forte impressão de que o facto de nascermos limitados, num povo pequeno, pelos montes que circundam este povoado e pela falta de vias e meios de comunicação que nos pusessem em contacto com o mundo exterior, nos limitou o cérebro a um pensar pequeno – muito pequeno, mesmo.
Se isto me pareceu notório nas escolhas de espaços para a realização das festas ou mesmo o limitadíssimo espaço para a montagem do palco ou ainda do balcão, fui também sempre confrontado com a nossa ideia de menos capazes, por exemplo para a feitura de andores, preferindo pedi-los emprestados a outras freguesias, do que servirmo-nos com a prata da casa.
Outra coisa que resultou desta minha observação, foi a grande dificuldade de comunicação – objectiva, claro está; As pessoas parece não usarem os mesmos códigos de comunicação e então acontece que, quando se pensa que determinado assunto já fora tratado, vem a saber-se que afinal não era bem assim, e tal e coisa, e coisa e tal…
Assim como quando vários interlocutores combinam uma hora para um encontro, vêm a saber depois que isso não era para levar a sério, e esse encontro poderá realizar-se duas ou três horas mais tarde ou mesmo num outro dia; Resultando daqui, que para além de as pessoas nunca saberem exactamente o que está tratado ou por tratar, leva-as ainda a um mútuo encolher de ombros e a um deixa andar…
Enfim, a reflexão que aqui deixo, que tem só o valor que tem, não passando de uma teoria como outra qualquer, pode no entanto contribuir para melhores entendimentos futuros – eventualmente em outros agrupamentos, sendo afinal essa e só essa a sua intenção.
Ainda na mesma linha de pensamento, parece-me disfuncional ou funcionalmente negativa dentro de um grupo, a ideia de dever consultar sempre o grupo, de cada vez que um ou vários elementos quiser exercer uma iniciativa; O excesso de democraticidade consultiva, inibe, atrasa ou anula a iniciativa, o que me parece desaconselhável, devendo preferir-se assumir e jogar sempre com a total confiança do grupo.
Acho que devemos ser mais humanos e menos sujeitos à ditadura do politicamente correcto.

domingo, setembro 24, 2006

Balanço das festas da Póvoa – ano de 2006 (por Zé Macário)



Balanço das festas da Póvoa – ano de 2006

Embora suspeita por advogar em causa e casa próprias, a comissão organizadora das festas da Póvoa de 2006, faz um balanço muito positivo do seu trabalho a par com um retorno de afectiva participação que ultrapassou expectativas.
Apesar dos seus elementos morarem reciprocamente longe e com as dificuldades de contacto que isso necessariamente implicou, não se coibiram de trabalhar para apresentar um produto final de que se orgulham.
A par disso, e acompanhados por muitas outras pessoas, exaltaram, no seu site, ao longo de todo o ano, o nome da terra e suas gentes, num trabalho que reputamos importante e a que queremos dar continuidade. Pelo menos assim o esperamos.
Agradecemos a colaboração que, sem regateio, nos foi prestada por toda a gente, a todos patenteando o nosso muito bem hajam.
Destacamos pela negativa a falta de comparência dos eleitos, nossos autarcas, ao não se dignarem visitar – aqueles que o não fizeram – a nossa exposição, assim demonstrando algum desprezo pela cultura que, mais do que nós, deveriam defender e acarinhar. Enfim!... É só um pequeno desabafo!
Nomeada que foi a nova comissão, dirigimos-lhe os nossos parabéns, auguramos-lhe o maior sucesso e oferecemos préstimos, naquilo que estiver ao nosso alcance.
Entretanto, força, minha gente!...
P'ro ano aí estaremos.

Reativar este blog

Iniciado em 2005, este blogue cumpriu em parte, aquilo para que tinha sido inicialmente projetado. Com o decorrer do tempo e tal como n...